Dentro desse mundão de espadas e mistérios, um sub-gênero em especial é o dos RPGs táticos, cuja grande referência sempre foi (e ainda é) Final Fantasy Tactics (PS). Mas em 2003 surgiu um novo título que viraria uma nova referência e que, ao contrário do jogo da Square Enix (na época, ainda Squaresoft), ganhou novos episódios e se fixou como um dos principais nomes dos RPGs japoneses. Como você deve imaginar falo de Disgaea.
O game foi por um bom tempo exclusivo de PlayStation 2, tendo posteriormente recebendo adaptações para PSP e Nintendo DS, e disponibilizado para PS3 via PS 2 Classics. Em 2016 o título chegou aos PCs e agora temos Disgaea 1 Complete para PlayStation 4.
Dormindo feito um diabo
Disgaea conta a história de Laharl, filho do grande senhor do Netherworld, que em outras palavras, é o inferno. Nosso protagonista é acordado por Etna após um sono de 2 anos. A moça conta que nesse meio tempo o Rei Krichevskoy, pai de Laharl, morreu e o submundo está uma zona, pois vários demônios querem assumir o posto de chefia.Como filho do antigo rei, Laharl resolve que vai colocar ordem nessa confusão, enfrentando todo mundo que se colocar no seu caminho para reivindicar o trono de seu pai. E esse é o plot inicial do jogo.
Disgaea não ganhou sua fama por ter uma história rebuscada e dramática mas por saber contá-la de forma divertida, com muito bom humor. Diálogos meio sem sentido nonsenses, situações estranhas e passagens às vezes até meio bobas ajudam a nos cativar com os personagens principais. Claro que existe uma narrativa por trás e essa leveza com qual é conduzida a história ajuda a nos envolver com ela.
Essa criançada não sai da cama por nada nesse mundo. |
Uma batalha por dia
Se por um lado a narrativa não é complexa, não se pode falar o mesmo das mecânicas de jogos. Existem diversos sistemas, cada um com várias camadas de profundidade e com potencial para tomar centenas de horas. Mas vamos com calma.Começamos no castelo de Laharl, que serve como ponto de partida. De lá temos acesso a diversos NPCs e nos teleportamos para os mapas de batalha. Não há mundo para ser explorado. Você avança na história, libera mais mapas e já vai direto para o combate.
Dentro do castelo, você pode comprar itens, armas e curar/reviver personagens. Cada um desses NPCs tem uma barra de nível que aumenta quanto mais dinheiro você gasta neles. Isso faz os itens postos a venda ficarem melhores (ou melhorar a cura) além de ganhar um presente sempre que ganha um ponto.
Dica: itens com novos atributos aparecem sempre que você acessa a loja. |
Determinar a ordem nas ações é importante por alguns motivos. Se posicionados da maneira certa, alguns ataques podem iniciar um combo, no qual dois ou mais bonecos fazem um movimento combinado. Por outro lado, existe fogo amigo então um poderoso ataque em área pode atingir seus aliados e estragar seus planos. Fora que matar um aliado já o desqualifica a conseguir um dos 8 finais do game.
Dentro das batalhas os personagens ganham XP convencional e as habilidades especiais também sobem de level conforme uso, podendo aprimorá-las. Magos, por exemplo, aumentam seu raio de alcance. Não se surpreenda com números também.
Dentro dos confrontos ainda há mais dois sistemas (eu avisei). Um deles é o de Lift/Throw que simplesmente permite você arremessar um aliado ou inimigo no mapa. Arremessar um aliado permite que ele cubra uma distância maior ou alcance algum lugar no mapa inacessível por vias normais. Jogar inimigos pode infligir dano a eles e faz parte de um sistema para capturar monstros, mas isso eu deixo você descobrir como fazer.
Não arremesse os coitados dos Prinnys, por favor |
Como eu disse, Disgaea tem muita coisa para se prestar atenção. Mas não se deixe amedrontar por esse tanto de informação. Com poucas lutas já se entende o funcionamento dessas principais mecânicas e você vai colocar ordem no submundo rapidinho.
Para acessar o Diário de Etna, aperte o botão atrás do trono, depois na caveira do balcão das lojas e por fim a quina da parede atrás do Prinny. |
Vários mundos, vários heróis
Falei bastante dos combates, mas não disse sobre quem você pode usar neles. Disgaea tem uma vasta variedade de opções de aliados que podem ser selecionados, entre humanos e monstros — monges, bárbaros, guerreiros, magos, ladrões, arqueiros, etc. Humanos podem se especializar em alguma arma, provendo alguns bônus. Monstros não tem esse benefício, mas contam com habilidades próprias.Evoluir classes específicas pode fazer com que novas classes apareçam, o que estimula a sempre tentar usar algo novo. Também não há limites quanto ao tipo dos personagens no campo de batalha, então você pode fazer um exército de monges ou de magos de gelo.
A história principal tem um nível de dificuldade razoável para desafiador. Alguns momentos é preciso parar para evoluir seu time mas nada muito pesado. Se você focar em um esquadrão principal logo no começo, as coisas devem ser mais fáceis. Mas se, assim como eu, você sempre for criando novos personagens, aí vai perder um bom tempo no grinding. Mas foi escolha minha, então tudo bem.
Quem nunca quis ter um dragão zumbi no seu grupo? |
Ainda há outras nuances para serem exploradas, mas para essa análise, talvez seja se aprofundar demais. Contudo é preciso deixar claro, apesar de tanto conteúdo disponível para ser feito, Disgaea não exige que você faça tudo isso. Se seu objetivo é só seguir com a campanha, você pode sem problemas. Mas se você quiser mergulhar de cabeça em tudo isso, Disgaea também não vai te desapontar.
Na Assembleia você pode criar e apagar personagens e tentar conseguir dinheiro ou itens com Senadores, no diálogo ou na porrada |
Um sub-mundo belo e meio descontrolado
Esse remake, apesar de chegar dois anos após a versão do Steam, traz um trabalho bem superior ao de Disgaea PC. Toda a parte visual ganhou um novo tratamento digno de elogios. Sprites de personagens, retratos, interface de janelas, taxa de quadros, está tudo ótimo. As animações dos golpes, principalmente dos mais grandiosos está muito boa.Quanto ao áudio, a trilha não é espetacular mas mantém o ritmo da ação. O pacote traz as dublagens em inglês e japonês, podendo serem alteradas a qualquer momento, o que é legal. Só não sei dizer se são as mesmas vozes do PS2.
O único ponto negativo dessa edição eu atribuo aos controles. Eles são bons mas dava para fazer melhor. Por falarmos de um remake, poderiam ter melhorado a câmera de jogo, com mais liberdade de rotação — pela arquitetura dos mapas, alguns pontos cegos aparecem eventualmente — e melhorar a movimentação do cursor. Não é ruim, mas poderia ter um ajuste fino melhor.
Ajoelhem-se perante Laharl
Disgaea é uma das séries favoritas dos amantes de RPG e um dos títulos mais lembrados da era PS2. Este remake é um merecido tributo a esse clássico, possibilitando antigos jogadores relembrarem suas aventuras ao mesmo tempo que é uma boa entrada para novatos.Basicamente tudo do jogo original foi mantido, com os recursos adicionados nas versões portáteis. Isso garante muitas horas de jogos e várias camadas de técnicas e sistemas para serem exploradas. Ao mesmo tempo, muitos desses sistemas podem ser ignorados, tornando Disgaea um jogo bastante democrático e altamente recomendado.
Prós
- Gráficos completamente refeitos
- História bem humorada
- Personagens carismáticos
- Ótimo equilíbrio para diferentes níveis de jogadores
Contras
- Controle de câmera
- Eventualmente o grinding pode ser necessário
Disgaea 1 Complete — PS4/Switch — Nota: 9.5
Versão usada para análise: PS4
Revisão: Marília Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS
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