Blast from the Past

Tom & Jerry in House Trap (PS1) revive a pancadaria do desenho animado

Nunca foi tão divertido “sair no braço” com os amigos.

Amado por felinos, roedores e quase todos os brasileiros que cresceram nos anos 90, Tom & Jerry foi um dos maiores sucessos do estúdio Hanna-Barbera. O desenho animado também serviu como inspiração para vários jogos que, diferente da série original, acabaram chamando mais atenção pela péssima qualidade. Um dos poucos que se destacou positivamente foi Tom & Jerry in House Trap — desenvolvido pela Warthog Games e lançado exclusivamente para o primeiro Playstation, em novembro de 2000.

Rivalidade eterna

Atualizando a fórmula de clássicos como Spy vs. Spy (NES), Tom & Jerry in House Trap tem a tela dividida o tempo todo e coloca dois jogadores para se enfrentarem estrategicamente. Além disso, assim como no programa de TV, o game se passa na casa dos donos de Tom e narra as tentativas frustradas do gato em capturar Jerry. O jogador controla o rato e deve sobreviver por 15 curtos capítulos, usando os objetos que encontrar para derrotar o rival.

Todas as fases utilizam a mesma casa como “arena de batalha”, mas os cômodos e armas disponíveis variam de acordo com seu progresso. No começo, apenas os quartos básicos estarão abertos. Já nos estágios mais avançados, é possível acessar o segundo andar e ir até o jardim. Essa reciclagem dos ambientes garante que sempre exista alguma armadilha nova para testar, mas não impede que os combates se tornem repetitivos rapidamente.

Também existem vários capítulos especiais, que alteram algumas características da jogabilidade e revivem momentos ainda mais nostálgicos da série animada. Na fase 10, por exemplo, Jerry precisa deixar a pancadaria de lado e encontrar uma forma de acordar o bulldog Spike. No estágio 15, o ratinho deve sabotar um encontro romântico de Tom: jogando caixas de chocolate, frascos de perfume, buquês de flores e outros presentes na lata do lixo.

São necessários 3 instrumentos musicais para fazer Spike despertar.

Mesmo assim, a experiência single player deixa muito a desejar por ser ridiculamente curta. A maioria das fases é repetitiva, a dificuldade não convence e até alguém que nunca teve acesso ao jogo antes deve ser capaz de finalizá-lo gastando menos de uma hora. No fim das contas, este modo consegue entreter por alguns minutos, mas é facilmente esquecido e acaba servindo apenas para deixar as fases disponíveis no multiplayer.

Outra coisa que prejudica bastante a campanha principal é a tela dividida, que poderia ser uma exclusividade do modo de dois jogadores e tornar a experiência mais desafiadora. Por mais que a divisão seja fundamental para não deixar gato e rato totalmente desorientados pela casa, ela acaba entregando as ações da CPU e deveria ser opcional ou trocada por uma ferramenta mais discreta (como um mini mapa e indicadores de proximidade).

Violência nostálgica

Relevando os defeitos na progressão do jogo e suas fases, chega a ser injusto dizer que Tom & Jerry in House Trap é uma adaptação ruim. Uma das características mais fiéis ao desenho é o visual, que não chega a ser algo mirabolante para sua época, mas tem estilo gráfico e animações dignas da série animada. Quando os personagens caem em alguma das armadilhas, por exemplo, a reação sempre lembra bastante o que se assistia na TV.

A trilha sonora também é um ponto forte da adaptação, que inclui faixas bem parecidas com as do desenho. O destaque nesse sentido são os efeitos sonoros, como as vozes dos personagens e o som dos golpes, que dão um toque nostálgico para a violência infantilizada. Além disso, o título tem 7 músicas de ótima qualidade — o que pode parecer pouco, mas é mais que o suficiente para cobrir a breve e simples campanha do game. Confira:

Vira-lata com pedigree

O fato é que Tom & Jerry in House Trap é uma experiência medíocre e limitada para quem joga sozinho. O game só brilha de verdade no multiplayer, onde o jogador pode revisitar todas as fases da campanha principal e colocar um amigo no lugar da CPU. Os capítulos mais divertidos para aproveitar “de dois” são os especiais, como a fase 5, em que um deve libertar os patinhos espalhados pela casa enquanto o outro tenta assar eles no forno.

Os filhotes de pato aparecem aleatoriamente pela casa.

Mas como nem tudo são flores, diferente de outros títulos da franquia lançados na mesma época (como Tom & Jerry in Fists of Furry, do Nintendo 64), os únicos personagens jogáveis são Tom e Jerry. Como nenhum dos dois tem habilidades ou vantagens únicas, incluir mais lutadores não mudaria em nada a jogabilidade, mas tornaria as lutas muito menos repetitivas. Uma boa ideia teria sido utilizar coadjuvantes que já aparecem nas fases, como o bulldog Spike e o gato-robô.

Um jogo para gatos, ratos e fãs

O game Tom & Jerry in House Trap é uma boa adaptação da série original, mas deixa a desejar na quantidade de fases disponíveis. Mesmo com visual e trilha sonora acima da média, o título conta com apenas dois modos de jogo e se torna enjoativo rapidamente. A experiência só vale a pena de verdade no multiplayer, que revive a rivalidade do desenho animado e oferece várias horas de diversão. Geralmente, este era aquele tipo de disco que você só deixava o PlayStation rodar em duas ocasiões: quando ia testar pela primeira vez ou recebia uma visita de amigos.

E você, sente saudades de algum jogo da franquia Tom & Jerry? Deixe um comentário e nos diga qual era o seu favorito.

Revisão: Júlio César

é paulista, tem 21 anos e está prestes a se formar em jornalismo pela UFRN. Apaixonado por videogames desde a infância, nunca perde a chance de competir em jogos de luta e pode ser encontrado no Twitter.

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