Não muito além dos clichês
Estamos no futuro e a humanidade foi quase extinta por uma inteligência artificial chamada NOA e seu exército de robôs. Talis, um dos poucos sobreviventes, caminha pelo deserto de Tokyo pós-apocalíptico no seu tanque de guerra em busca de aliados para ajudar com a sua vingança pessoal. Esse é um resumo bem básico do que move boa parte da trama, além do drama e motivação dos outros personagens. Mas é neste ponto que o jogo falha, pois alguns são apenas clichês como o Dean, o punk guiado pela vingança que só serve para conflitar com os outros, ou a Maria, que é um fan service que chega a ser incômodo.Não seria necessariamente um problema tão gritante se os diálogos e relacionamentos fossem trabalhados de forma menos grotesca. Na minha jogatina eu simplesmente não me importei com vários personagens e suas histórias, até me sentia frustrado quando o jogo simplesmente jogava coisas sem nexo na tela como um beijo, ou um pedido para tirar virgindade (sim, é isso mesmo). Eles tentam justificar, mas nunca conseguem deixar menos forçado ou vergonhoso.
Quando estamos explorando o mundo, só interagimos com três NPC da nossa base, e isso também não ajuda com nosso interesse pelos outros personagens. Passamos várias horas batalhando sem nenhum diálogo ou qualquer outra interação, e quando temos são como já citei acima. Esses problemas não acontecem com suas mecânicas, que são o que me manteve jogando por tanto tempo.
Complexidade na medida
Metal Max sempre foi uma série de RPG de turnos, e este novo título apresenta essa mesma mecânica de uma forma madura e desafiadora, além de divertida, principalmente contra os inimigos mais poderosos. Essas batalhas variam entre usar tanques de guerra e seus arsenais balísticos e elementais ou a pé, usando armas de fogo e espadas. Ambas as formas agradam e trazem um nível de estratégia bem interessante. Isso nos leva a ferramenta de crafting que com os itens certos podemos customizar os veículos desde o motor, chassi, armas até as cores. Mesmo isso não parecendo muito, para um RPG esse sistema chega a ser bem complexo, já que cada ponto influencia no quanto você ataca e no quanto você pode receber dano.Sim, os tanques não são indestrutíveis. Quando o inimigo consegue destruir todas suas defesas e armas você será forçado a enfrentá-lo a pé. Se você perdeu sua maior arma contra ele é bem improvável de vencer usando uma espada. Mas isso não o torna desanimador ou chato e, ao falhar, a opção de tentar de novo com uma nova abordagem é bem acessível. Até porque ao falhar você vai parar de volta a sua base, e dali pode planejar melhor sua vitória. E são muitas opções do que fazer para isso, já que boa parte dos inimigos possuem suas fraquezas e movimentos previsíveis.
Os maiores inimigos do jogo estão espalhados pelo mapa desértico de Tokyo, e são, em sua maior parte, robôs em formas humanóides, de animais ou mesmo grandes tanques. Todos eles possuem seus movimentos e ataques que se repetem durante os turnos, além de suas fraquezas elementais, que quando exploradas quebram sua defesa, com isso recebendo mais danos, porém focar nisso não é vitória garantida. Isso porque outro ponto em comum entre eles é seu número de HP elevadíssimo e seus ataques poderosos, que sem o devido cuidado podem destruir suas defesas em poucos turnos.
Durante a exploração do mapa, diferente de outros produtos do gênero no mercado, os inimigos vão surgindo na sua frente, dando a oportunidade de começar atacando antes mesmo de iniciar a luta. Se você for muito mais forte que o adversário, ele será derrotado nesse movimento e a experiência virá com um bônus, isso acelera o andar do jogo nas áreas mais fracas. Infelizmente isso não acontece quando estamos em dungeons, que inicia a batalha automaticamente, e decide aleatoriamente quando você está na vantagem e quando não. Isso deixa as coisas lentas e algumas vezes penosas, além do design desses ambientes serem repetidos durante todo o jogo, variando apenas como são dispostos os corredores.
Falando em corredores, boa parte do mapa é construído em linha reta, e no mini mapa já mostra onde estão dispostos os baús com itens. Então as explorações nesses ambientes se tornam mais diretas, tirando um pouco a graça de procurar coisas. São em locais mais abertos que coisas legais acontecem, pois neles, além de dungeons, alguns inimigos especiais podem aparecer, ou até serem vistos à distância pelo mapa. Mas ainda é possível achar itens de metal escondidos com um detector, mesmo que dificilmente você ache algo interessante, a chance existe.
Além da customização dos tanques, podemos evoluir os atributos de cada personagem com pontos que ganhamos passando de nível. No começo da jogatina o valor máximo dessa pontuação é bem limitado e para aumentar basta ir vencendo alguns desafios que o jogo mesmo te dá. Quebrar 10 defesas, pegar 5 caixas são alguns exemplos. Cada um deles acrescentando um número X no limite. Com isso podemos aumentar a força, tiro com canhões, HP, destreza, entre outros. O jogo ainda possibilita mexer em algumas opções de batalha, como deixá-la sem texto do que acontece no canto da tela, ou mesmo sua velocidade.
Do PSVita para o PS4
A mesma complexidade divertida das mecânicas não é repetida nos aspectos artísticos do game. Sua maior influência sem dúvida são os animês com robôs gigantes em futuro distópico e, para retratar tudo isso, seus ambientes são desérticos, seus personagens têm um design “cool” e seus veículos são até realistas. Tudo isso junto me deu a impressão que ele foi desenvolvido para o PSVita e portado para o PS4, e esse sentimento foi mais presente quando comecei a me mover pelo mapa. Todas as animações são estranhas e robóticas, mesmo para os humanos. Não que isso seja um problema para aproveitar a jogatina, mas tira muito a imersão quando você vê algumas sombras poligonais, ou o fundo surgindo no horizonte, ou uma mulher de seios enormes com pouca roupa sem razão aparente.Esse é outro problema do jogo, a falta de destreza das animações a pé e a falta de realismos no peso dos tanques, já que todos possuem a mesma velocidade, independente do seu tamanho ou estilo. Explorar o mapa se torna um jogo de paciência de andar lentamente de um ponto a outro, isso se torna o mais irritante das dungeons entre mapas, pois, além de obrigatórias, os inimigos de lá são extremamente difíceis, até mais que muitos chefes. E a cada andada entramos em uma luta com 6 robôs que se todos atacarem juntos podem destruir todas as suas defesas. Então se você quiser chegar ao outro lado mais rapidamente possível, é necessário ficar fugindo desses adversários.
E agora?
Se você olhar para outros jogos do mesmo estilo vai acabar caindo no ótimo Persona 5 (PS3/PS4), e Metal Max Xeno vai parecer extremamente inferior. Ele tem problemas sérios de design de mapa e dos personagens, as animações são horríveis, sem contar com um péssimo enredo, cheio de coisas fúteis e vergonhosas, além da trilha sonora ser apenas “ok”. Tudo isso parece que ele é, mas se você arriscar vai achar um jogo com ótimas mecânicas de batalha, a desenvolvedora realmente fez um belo trabalho nesse quesito e na customização de veículos e muito fan service. Talvez esse seja um game para poucos.Prós
- As batalhas com chefes precisam ser estratégicas;
- A customização dos tanques é ótima e varia bem;
- A forma de evolução de estatísticas por pontos funciona muito bem;
- Customização do combate.
Contras
- As animações são horríveis;
- A velocidade com que você navega os mapas é penosa;
- A história poderia ser mais bem contada;
- Os designs dos personagens não fazem sentido na história, alguns estão ali apenas para serem legais ou sensuais;
- Os personagens não possuem carisma;
- Os gráficos são ultrapassados;
- Os troféus não foram traduzidos do japonês.
Metal Max Xeno — PS4 — Nota: 5.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nis America
Revisão: Júlio César
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