Muito está sendo falado acerca do jogo Homem-Aranha que sairá para o PlayStation 4 no próximo 7 de setembro. A edição 41 da revista GameBlast, de agosto deste ano, traz o jogo na capa. Contudo, pouco se sabe a respeito de sua desenvolvedora, a Insomniac Games, o que fez com que alguns — que não conhecem a história da companhia — ficassem com uma pulga atrás da orelha. Então vamos recapitular a trajetória dessa marca, seus sucessos e insucessos e sua relação próxima com a Sony.
Antes de embarcarmos, é importante fazer uma observação: a Insomniac não faz parte dos estúdios de desenvolvimento da Sony. Apesar de ambas empresas terem uma relação bem forte, a filosofia da instituição é bem clara quanto ao que ela é e o que representa, sendo que fazer parte da gigante japonesa não está em seus planos.
Início em conjunto com a Sony
O parágrafo anterior foi importante porque, embora Disruptor, Spyro e Ratchet & Clank tenham sido grandes sucessos desenvolvidos para os consoles PlayStation, a Insomniac desde o início mantém a frase always independent (sempre independente) incrustada em sua essência. Entretanto, desde o início as duas companhias caminharam juntas.
Ted Price fundou a Insomniac no dia 28 de fevereiro de 1994 com o nome de Xtreme Software. Ele era recém-graduado pela Universidade de Princetown em Nova Jérsei e trabalhava em uma companhia médica. Desligou-se do seu emprego e trouxe junto Alex Hostings, cujo irmão Brian Hostings se juntaria à equipe posteriormente.
Ted Price, fundador da Insomniac Games. |
Imediatamente os três começaram a desenvolver um jogo totalmente baseado no famoso Doom que rodaria no 3DO, um console da Panasonic. Segundo o próprio Ted, o motivo de desenvolver para este videogame foi simples: “O 3DO foi o primeiro sistema de CD realmente viável que estava disponível no mercado. Eles tinham kits de desenvolvimento disponíveis a preços muito baixos, e a Sony, na época, não estava disponibilizando kits de desenvolvimento para todo mundo”.
Entre o anúncio de Disruptor na E3 de 1995 e o lançamento do jogo um anos depois, três coisas importantes aconteceram: mudança do nome da empresa, um acordo com a Universal Studios e migração para o PlayStation, estando os dois últimos fatores interligados. A mudança do nome se deu porque uma empresa de banco de dados já utilizava o nome Xtreme Software, e chegou a enviar uma carta para o CEO da companhia de games. Após algumas escolhas postas à mesma, a alteração para Insomniac Games foi aprovada.
O acordo com a Universal aconteceu através de Mark Cerny, então diretor executivo do estúdio de cinema. Price visitou várias publicadoras a fim de que uma delas trabalhasse em Disruptor e a Universal foi a última. Cerny aceitou publicar o jogo, mas fez uma observação: migrá-lo para o novo console da Sony, o PlayStation, devido aos números de vendas cada vez mais baixos do 3DO. E assim foi feito — Alex Hustings converteu toda a engine para o PlayStation em apenas um mês e o jogo foi publicado em 1996.
O bem-sucedido Spyro
Muito se fala a respeito de Spyro. Por um lado, temos um jogo que foi desenvolvido para preencher uma lacuna que existia no sistema PlayStation: a de um mascote. Nenhum jogo da Sony tinha uma empatia tão forte em relação a um personagem quanto o Mario para a Nintendo, segundo o próprio Cerny. Então a Insomniac trabalhou em cima dessa ideia e Spyro surgiu em 1998 para o primeiro PlayStation.
Entretanto, quem acabou ficando com “o título imaginário” de mascote da Sony foi Crash Bandicoot, colocando o dragãozinho simpático em segundo lugar. O jogo foi tão bem aceito que uma continuação foi lançada no ano seguinte e o terceiro jogo deu as caras no PlayStation em 2000, fechando uma sequência de três anos seguidos de títulos inéditos de Spyro.
Após isto, a Insomniac estabeleceu um novo contrato, diretamente com a Sony, sem passar pela Universal. Os direitos de Spyro permaneceram com o estúdio de cinema e a empresa de Ted Price passou a trabalhar em uma nova franquia para o PlayStation 2. Isso significa que o quarto e último jogo do dragão roxo (sem contar suas aparições em Skylanders Spyro's Adventure, em 2011, e Skylanders Imaginators, em 2016) foi publicado pela Universal, mas desenvolvido pelas empresas Check and Six Games e Equinoxe Digital Entertainment.
O sucesso de Ratchet & Clank
Disruptor foi um fracasso de vendas e aceitação enquanto Spyro, um sucesso. Em algum ponto Ted Price desejou desenvolver um jogo mais “adulto”, voltado ao público do PS2 que ele mesmo julgava ser mais maduro. No fundo, seu desejo era provar que a Insomniac fazia mais do que jogos voltados à família de modo geral. Dois jogos fizeram parte deste período: Monster Knight e Girl With A Stick (pois é, o projeto sequer chegou a ganhar um nome definitivo).
Girl With A Stick foi apresentado à Sony com a proposta de ser um jogo com ênfase maior na ação, mais intensa do que foi produzido em Spyro. De acordo com os próprios executivos da Insomniac — com exceção de Ted — a experiência não estava boa e o game estava parecido com algo entre Zelda e Tomb Raider. Girava em torno de uma garota com um amuleto mágico que precisava derrotar alguns inimigos utilizando habilidades que desenvolvia durante o gameplay, mas a essência de sua jogabilidade era bem simples.
O projeto foi sendo desenvolvido durante bastante tempo, chegando até mesmo a ter uma versão demo. Ninguém a achava divertida, novamente com exceção do fundador da companhia. Então a Sony interveio de maneira delicada. Aqui no Brasil nós chamamos de “falar com jeitinho”:
Segundo Ted Price, os produtores da Sony que trabalhavam com a Insomniac disseram em uma das reuniões algo como “vamos apoiar o que vocês estão fazendo. Acreditamos nas habilidades do seu pessoal. Acreditamos que vocês encontrarão o seu caminho com esse título. No entanto, da forma como está agora, não temos certeza se tem muito mercado. Recomendamos que trabalhem com seus pontos fortes, talvez considerem o que fizeram no passado”.
Com isso, Ted se deu conta de que era melhor seguir o conselho da experiente companhia japonesa, e deu-se início o desenvolvimento de uma nova franquia, que posteriormente seria anunciada como Ratchet & Clank. Nele, ajudamos Ratchet, um mecânico com aparência de um felino, e seu amigo robô Clank a protegerem o universo de forças malignas.
Lançado em 2002 e tendo outros dois títulos lançados para completarem a trilogia em 2003 e 2004 respectivamente, Ratchet & Clank é a franquia mais amada da Insomniac, superando Spyro. Um reboot do primeiro jogo chegou ao PS4 em 2016 dublado e legendado em português brasileiro, recebendo diversas críticas positivas.
Rise e Resistance
A vontade de fazer algo voltado ao público mais maduro não saiu de Ted Price, até que a Insomniac lançou os jogos “Rise” e “Resistance”, ambos de tiro. Resistance, inclusive, é frequente e erradamente associado pelas pessoas como o primeiro jogo FPS da empresa. Porém, este título pertence a Disruptor, lançado lá em 1996. Por não ter sido bem-sucedido, muitos sequer sabem de sua existência.
Já Rise, não foi tão bem aceito quanto Resistance — embora nem mesmo este tenha chegado a números tão expressivos assim. Independente disso, finalmente a Insomniac tinha o tão desejado produto voltado ao mercado mais adulto e menos familiar. Porém Ratchet & Clank foi a franquia responsável pelo excelente prestígio que a empresa adquiriu.
Um jogo que reafirma a postura da empresa de ser sempre independente é Sunset Overdrive, lançado para o Xbox One em 2014. O título também segue outro direcionamento em relação aos tradicionais jogos da Insomniac, apresentando a temática de tiro frenético contra mutantes, sem qualquer compromisso com o realismo e mais focado em proporcionar boa experiência aos fãs de gameplay com tiros, pulos e correrias.
Homem-Aranha
Spider-Man será lançado em 7 de setembro de 2018 exclusivamente no PlayStation 4 e se tornará o primeiro jogo de propriedade intelectual externa produzido pela Insomniac. Diversos trailers, imagens e entrevistas com os produtores já foram divulgados na imprensa especializada, e a reação tem sido muito positiva. Ao mesmo tempo que um pequeno grupo de jogadores, especialmente os fãs do super-herói, mostram-se receosos, a maioria dos jogadores espera com grande ansiedade.
Entender o passado da Insomniac é extremamente importante, pois nos possibilita perceber que — embora não seja uma Rockstar, Electronic Arts ou Konami da vida — a Insomniac não é marinheira de primeira viagem, e desenvolve uma boa relação com a Sony desde seu surgimento. Podemos esperar uma grande experiência ao jogar Spider-Man e, quem sabe, este seja o título que fará a companhia mudar de patamar e ser merecidamente bem-referenciada por todos.
Um trabalho excelente é necessário para que isso aconteça, e tudo indica que será exatamente isso que teremos ao jogar o jogo do super-herói. Quando você for usufruir deste lançamento, terá ainda mais um motivo para olhá-lo de modo especial após conhecer brevemente a trajetória de sua desenvolvedora.
Revisão: Vitor Tibério
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