Parasite Eve (PS1/PSP) é uma franquia há muito tempo engavetada pela Square Enix, tendo seu último título lançado para PSP desenvolvido pela Square Enix e HexaDrive e publicado pela primeira empresa em 2010 no Japão e 2011 no Ocidente. The 3rd Birthday foi algo bastante incomum para os jogadores dos primeiros dois títulos da série, mas foi surpreendentemente muito divertido e sobretudo re-jogável.
Jogabilidade: Overdive!
Vamos começar pelo seu grande diferencial: a jogabilidade. Esse é o ponto onde o jogo brilha, trazendo uma mecânica totalmente diferenciada de inúmeros jogos: o sistema de Overdive. A princípio confuso e esquisito, usar o sistema é o que o diferencia de tantos jogos de tiro e ação, e, uma vez que o jogador entende a mecânica e consiga usar para seu favor, o jogo se torna muito mais dinâmico.
Esse sistema permite que o jogador possa "trocar" de corpo, ou seja, em um cenário com mais de dois soldados, você pode trocar de um para outro quando necessário, assumindo o novo "corpo" sem perder as habilidades próprias da protagonista Aya Brea. Esquisito, né? É difícil explicar esse sistema, é como se cada personagem da cena fosse apenas um avatar esperando para ser utilizado pelo jogador.
O mais interessante é que essa mecânica funciona muito bem em combates longos, sobretudo contra inimigos poderosos, porque você pode ir "trocando de lugar" com outros soldados da cena. Dessa forma, você pode confundir por vezes o chefe e se safando de situações em que você é encurralado ou mesmo morto (quando morto, você tem alguns segundos para trocar de corpo, mas se não tiver mais ninguém vivo, game over).
Além disso, a habilidade de Overdive também serve para implodir inimigos. Fica mais forte a cada nível ou aumentando pelo sistema de DNA (que será mais bem explicado adiante).
Genial na prática, esquisito na teoria
O que complica todo o jogo é a explicação para o sistema de Overdive. A história é muito confusa, eu já completei cerca de dez vezes e ainda assim tem partes que eu não entendo!
Tudo começa em uma igreja, no casamento de Aya Brea com Kyle Madigan, o que sugere que é uma continuação direta do Parasite Eve 2 (PS1), mas não é algo explícito no jogo. Eve, a criança que foi adotada como irmã por Aya no final de PE2, também está ali. Por algum motivo, a igreja é invadida por soldados que simplesmente metralham todo mundo. Em seguida, Aya acorda em uma base militar.
Inicialmente você controla Aya Brea, que tem a habilidade de voltar no passado por meio de um dispositivo e nessa volta, ela "incorpora" alguém que estava lá no passado naquele determinado momento. O que volta no passado, na realidade, é a consciência de Aya, o corpo continua na máquina de Overdive, mas caso ela morra no passado e não consiga dar overdive (vou chamar assim essa mudança de corpo) em alguém, Aya Brea morre de fato, e Game Over.
A necessidade de viajar para o passado vem de uma catástrofe na qual alienígenas ou algo do tipo chamados de Twisted criaram bases chamadas Babel e derrubam tudo à vista, quase como uma colonização. Esses seres também conseguem transformar humanos em Twisteds. No momento em que o jogo começa, boa parte da cidade de New York (onde o jogo se passa) já foi destruída. A única esperança é aproveitar os poderes de Aya para voltar no passado e tentar destruir as bases antes da colonização.
Porém, a narrativa é contada da perspectiva da Aya, que tem amnésia no jogo e não sabe o que está acontecendo na maior parte do tempo, o que por consequência faz você também não saber muito bem o que está acontecendo.
No final, há um grande monólogo de Hyde Bohr, o antagonista, explicando que Eve tentou proteger Aya quando a viu em perigo no casamento e usou overdive nela, o que destruiu a alma da protagonista e criou todos os seres horríveis que você enfrenta, os Twisteds. Parece que tudo funciona como um ciclo do tempo que volta ao Tempo Zero, que é quando começou a infestação dos Twisteds, bem no casamento, depois de todo o tiroteio, apenas Eve e Hyde vivos. Hyde Bohr tenta se “integrar” com Eve, mas é morto por Aya, que ressurge dos mortos e pede para Eve trocar de lugar com ela para então matá-la, evitando a horda de Twisteds.
E então o grande plot twist: na realidade, durante todo o jogo, você jogou com Eve, não com a Aya! Quando Eve “incorpora” Aya, ela destrói a sua alma e assume seu corpo. No final, Aya faz a troca de novo, mas pede para matá-la. Então, quando você aperta o gatilho na última cena, você é Eve no corpo de Aya, matando o corpo de Eve para evitar que a alma de Aya seja destruída e que isso crie a catástrofe.
Perguntas não respondidas: quem eram os soldados que entraram na igreja e simplesmente metralharam todo mundo? Como Aya sobrevive? Ou melhor, ela morreu ou não? Por que os fragmentos da alma de Aya seriam os Twisteds? Qual a ligação? E de onde surgiu o poder Overdive, que até então não foi mencionado em nenhuma parte da franquia anterior?
No fim das contas, é plot twist em cima de plot twist com um enorme plot twist no final que te deixa ainda mais confuso. Se você curte os RPG com as histórias mais malucas e complicadas, vai amar esse jogo.
Entretanto, por mais que a proposição narrativa seja bastante fraca para explicar a mecânica, a jogabilidade na prática é incrível e muito divertida.
RPG? TPS? Hack ‘n slash? Tudo!
Outro aspecto do jogo é misturar diversas mecânicas de outros gêneros. Os títulos anteriores já faziam isso: o primeiro PE era uma espécie de tiro misturado com RPG de turno. O segundo tira o sistema de turno para algo mais dinâmico, diminuindo a quantidade de poderes e seus níveis, experiência para aumentar as magias e tudo o mais. Este terceiro game mescla os poderes nos tiros e retoma a mecânica de experiência que é ganhada pela Aya.
Em The 3rd Birthday, temos sistema de nível; crescimento de status de acordo com nível e com um complexo sistema de DNA, que mais tarde falaremos um pouco mais. As armas também possuem níveis e você os aumenta quanto mais usar um certo tipo, habilitando mais armas para comprar. Aya também pode usar roupas que oferecem maior ou menor proteção dependendo do seu tipo.
Uma habilidade interessante é a “crossfire”, em que soldados posicionados em barricadas atiram ao mesmo tempo em um único inimigo, o que causa um bom dano.
Tem também a sua habilidade especial, Liberation, já famosa nos jogos antecessores.
Para os fãs de RPG, o intricado sistema de evolução por DNA é uma maravilha para se descobrir e experimentar. Funciona mais ou menos da seguinte forma: você adquire chips de DNA – compostos normalmente por duas células – ao dar overdive em algum soldado ou civil, ou mesmo implodindo inimigos de forma aleatória, como em um sistema de “drop” ou “loot”. Assim, você interliga esses chips em uma placa para que te proporcionem habilidades especiais (como cura e recarga de munição entre overdives, aumento da duração de Liberation, chance de tiro crítico etc.) e instala a placa.
Você também pode sobrepor um chip de células em outro e então ocorre mutação, que pode surgir uma célula nova ou reforçar uma célula com habilidade já presente. Como são diversas células com diversas habilidades, é um sistema interessante e dinâmico, que, quando bem usado, dá uma vantagem enorme ou pode ter desvantagens perigosas, já que essas células também podem ser malignas, causando “debuffs” na protagonista.
LIBERATION, O RETORNO!
Se você jogou o primeiro Parasite Eve, vai lembrar da magia absurda que era o Liberate, última a se conseguir e muito útil, em que Aya libera todo seu poder mitocondrial e se transforma em uma criatura alada que acelera sua movimentação e aumenta seu dano. Em PE2, esse poder desapareceu. The 3rd Birthday traz de volta com uma pequena diferença no nome, mas uma grande diferença em força.
Disponível desde cedo, quando o jogador tem a barra do poder no máximo, ele pode invocar todo o poder de Aya em uma forma quase mística o que a deixa invulnerável temporariamente. Ainda que ela não tome dano, se algum ataque atingir Aya, ela desvia automaticamente, mas consome mais a barra (como se o dano fosse levado na barra de Liberation, não na de vida).
Não deixe o jogo morrer, não deixe o jogo acabar
Por fim, preciso fazer um adendo aqui. Por conta da popularidade do PSP comparada ao Nintendo DS, e pelo jogo ter se limitado a essa plataforma, o game exclusivo caiu no esquecimento, o que é uma pena. As personagens do jogo são bem construídas, a história, por mais que confusa, é digna de um RPG e o sistema de batalha é dinâmico e divertido. Com isso, você pode passar horas e horas jogando uma mesma fase só para tentar formas diferentes de destruir os inimigos ou combinações de placas diferentes para situações distintas, além também de conseguir pontuações altas no final da missão.
Os cenários são bem feitos e bem pensados, pois o design favorece certos tipos de combates, permitindo que o jogador use habilidades efetivamente que ficam disponíveis à medida que o jogo avança, e a dificuldade do jogo é progressiva, com um tutorial dinâmico e sem ficar pausando o tempo todo para te explicar todos os controles. Além disso, o jogo te dá a opção de pular o Episódio 0, que seria o tutorial, assim o jogo não cansa.
Para jogadores de jogos de tiro, que gostam daquele caos do cenário, inúmeros inimigos, explosões e coisas do gênero, vão se divertir muito com esse jogo.
Para os jogadores de RPG, o sistema de níveis e DNA possibilita uma exploração e experimentação que interfere na jogabilidade de forma significativa, sobretudo nos níveis mais altos de dificuldade.
Apesar dos problemas da narrativa e as conhecidas complicações do controle no PSP, as mecânicas e a jogabilidade de The 3rd Birthday certamente compensam e entregam uma experiência divertida e estranhamente boa, já que o sistema de overdive é meio esquisito na teoria, mas na prática funciona muito bem.
Para os jogadores de RPG, o sistema de níveis e DNA possibilita uma exploração e experimentação que interfere na jogabilidade de forma significativa, sobretudo nos níveis mais altos de dificuldade.
Apesar dos problemas da narrativa e as conhecidas complicações do controle no PSP, as mecânicas e a jogabilidade de The 3rd Birthday certamente compensam e entregam uma experiência divertida e estranhamente boa, já que o sistema de overdive é meio esquisito na teoria, mas na prática funciona muito bem.
Revisão: Gilson Peres
Comentários