Hacker’s Memory pega diversas mecânicas, mapas e até missões de Cyber Sleuth e as repete sem dó em uma versão “de bastidores” do jogo de 2015. Com um novo protagonista e o foco voltado para os hackers ao invés dos investigadores do jogo anterior, o sexto capítulo de Digimon Story consegue divertir bastante, mesmo que com enormes repetições e pouquíssimas inovações.
Enredo complexo e bem longo
O enredo de Hacker’s Memory é praticamente paralelo ao do primeiro Cyber Sleuth, com alguns personagens retornando somente como figurantes por aqui. Sendo assim, o contexto de um Japão futurista onde praticamente tudo gira em volta da rede Eden, uma espécie de internet onde os humanos podem literalmente entrar no mundo digital, permanece. Dessa vez, o foco da história é o garoto Keisuke Amazawa, que teve sua conta da rede Eden invadida por um misterioso hacker. Dessa forma, o protagonista começa uma busca para encontrar o misterioso sujeito.Nessa empreitada, ele passa a fazer parte de um grupo de hackers que pega trabalhos aleatórios com pessoas relativamente próximas e assim acumular certo dinheiro. Além disso, Keisuke também começa a ter contato com os nossos tão conhecidos monstrinhos digitais. Nesse mundo de Cyber Sleuth, os Digimon são vistos como meros programas de computador sem vontade própria e sem vida, bem como o digi-mundo, que é um termo desconhecido para os humanos aqui. Mas aos poucos essa ideia começa a mudar durante a história do jogo.
Essa história pode parecer até bem simples, mas a cada caso pego e a cada superação dos 18 capítulos, ela se complexifica cada vez mais. Seu início é terrivelmente lento e os diálogos são longos na maior parte da jogatina, mas o enredo em si torna as mais de 50 horas necessárias para concluir a história algo instigante na maior parte do tempo. Tirando alguns problemas de continuidade provenientes das missões do jogo, a história segue um ritmo muito bom e é bastante extensa, ideal para os jogadores que curtem levar mais de uma centena de horas debruçados sobre um único game.
As mecânicas de batalha que deram certo
De todos os tipos de sistemas de batalha já introduzidos nos jogos de Digimon, a batalha em turnos de três contra três é a mais reconhecida como “cara” da franquia. Desde jogos mais antigos até Hacker’s Memory, a mecânica permanece, se aperfeiçoando a cada novo título. Aqui, temos ótimos visuais de batalha, mesmo que ainda muito puxados para o anime e com pouco ou nenhum investimento em ambientes, o que torna a sensação de evolução da série um tanto quanto falha.
Fora isso, o sistema de batalha é muito bom, lembrando algumas coisas que vimos em Digimon Adventures (PSP) e Digimon Links (Android/iOS) como as batalhas usando três digimon e a sequência de ataques baseado em uma barra lateral que indica a ordem de ação de todos os monstrinhos. Felizmente ou infelizmente, tudo isso é idêntico ao que vimos em 2015 com Digimon Story: Cyber Sleuth (PS4/PS Vita). Mas até aqui, essas semelhanças não incomodam tanto como vão incomodar mais pra frente.
Como as mecânicas de combate de Cyber Sleuth são excelentes e, de fato, deram uma ótima roupagem para a franquia, vê-las repetidas em Hacker’s Memory não é um problema. Principalmente com um aumento considerável do número de Digimon que podemos treinar e evoluir. A liberdade que temos administrando nossos parceiros também é idêntica à do jogo anterior, o que é uma boa coisa. Controlar evoluções, permitir que o Digimon volte para uma forma anterior para acumular mais status de um determinado atributo e poder escolher para quem evoluir são ótimas mecânicas que retornam agora, mecânicas que infelizmente não estavam presentes no jogo do ano passado, Digimon World: Next Order (PS4).
Outros recursos como a Fazenda para administrar dezenas de Digimon e deixá-los treinando ou buscando missões enquanto você prossegue com a história principal do jogo também se mantém de forma idêntica, assim como os excelentes menus interativos e layouts de Cyber Sleuth. Tudo aqui faz parecer que Hacker’s Memory é um spin-off do jogo principal, seguindo todas as suas fórmulas na mesma medida. Mas quando a coisa é boa, tudo bem, entretanto, alguns erros também foram exageradamente repetidos.
Os mapas e dungeons que deram errado
Se todo o sistema de evolução e batalha de Hacker’s Memory é uma cópia idêntica dos excelentes sistemas de Cyber Sleuth e isso é ótimo, em contrapartida, toda a ambientação e construção de dungeons também é idêntica ao jogo anterior, e isso é horrível. Um dos piores elementos do jogo de 2015 eram suas masmorras: lineares demais, sem detalhes e repetitivas, com vários espaços vazios e sem dificuldades aceitáveis para o público-alvo do jogo. Essas masmorras foram copiadas literalmente em alguns momentos para Hacker’s Memory, repetindo desnecessariamente todos os erros do seu antecessor.
Além disso, nos momentos em que nosso protagonista está explorando o mundo real através de diversos pontos da cidade, as câmeras são fixas em sua maioria (assim como nas dungeons) e as explorações são repletas de paredes invisíveis e animações repetitivas, o que torna a imersão quase nula nesses espaços.
O recurso de missões do jogo se assemelha bastante ao dos investigadores de Cyber Sleuth, mesmo que aqui estejamos lidando com hackers. Esses elementos dão a impressão ainda maior de que o jogo é uma cópia do seu antecessor com pouquíssimas diferenças a serem consideradas. Essas missões seguem uma linha de principais e outra de opcionais, onde temos missões repetitivas ou não. Aqui, é válido ressaltar que é sentida uma perda de ritmo na história em alguns momentos, principalmente por você ficar sem saber onde ir depois que um determinado capítulo termina.
Outro problema dentro das missões de Hacker’s Memory é a repetição do geral. As histórias mudam, os personagens mudam e o motivo pelo qual você tem que fazer seus passos mudam de missão para missão. Entretanto, num geral, o movimento permanece sempre o mesmo: alguns bons minutos de diálogos contextualizando a missão, uma exploração linear de dungeon com algumas batalhas para, no final, enfrentar o “alvo” da missão, seja a missão um resgate, uma investigação ou um combate mesmo. Tudo termina em lutas num ritmo muito uniforme.
Hackeando até o digimundo
Em Hacker’s Memory, como já falamos, estamos vendo a história da posição de um hacker. Isso muda algumas coisas e acrescenta alguns detalhes aceitáveis à jogatina. Um deles são as habilidades disponíveis para Keisuke enquanto ele está no Eden ou em alguma de suas ramificações. O protagonista pode recuperar computadores, deixar seu avatar invisível, ativar portas, destruir firewalls (através de batalhas com Digimon) e algumas outras coisas. Isso faz a exploração das dungeons se tornar um pouco mais divertida, mesmo que ainda muito semelhante ao game de 2015.
Além disso, usar a interface do jogo através de um cyber café, acessando de fato um computador dentro do jogo é bastante imersivo. Elementos como as missões que pegamos, o acesso ao Eden ou aos mecanismos de cuidado com os Digimon são todos feitos através de um PC, o que torna a identificação com os comportamentos do protagonista muito divertida. Temos também a novidade das Memórias Hacker, que dão o subtítulo ao jogo. Infelizmente, a mecânica é pouco utilizada se tornando, na maioria da jogatina, apenas mais um colecionável para estimular a exploração das masmorras.
Complementando a experiência da temática hacker, tanto os personagens secundários como as questões inseridas nas missões do jogo, sejam primárias ou secundárias, são muito interessantes. Assuntos como privacidade, doenças, bullying e até o que chamamos de vida são temas que perpassam algumas das aventuras de nosso hacker enquanto busca pela identidade de seu rival. Isso é bem bacana e mostra como de fato o público-alvo do jogo não são as crianças de hoje, mas sim as crianças dos anos 1990, que curtiam Digimon naquela época e agora estão na faixa dos 20 e tantos anos.
Os bons e velhos Digimons campeões
É verdade que Hacker’s Memory está longe de ser um exímio jogo, mas, verdade seja dita, a franquia Digimon parou de tentar agradar o grande público ocidental há muito tempo. Assim como seus antecessores, Digimon Story: Cyber Sleuth - Hacker’s Memory (PS4/PsVita) é um jogo de nicho, pensado e lançado para os fãs da franquia que a acompanham há tempos. Não busca novos jogadores, não se interessa por aqueles que não estão familiarizados com Digimon, somente reafirma as qualidades e defeitos que a série carrega há gerações.
Dito isso, Hacker’s Memory é um bom jogo para os fãs e melhor ainda para aqueles que não jogaram Cyber Sleuth, pois todo o senso de repetição e até cópia descarada que o jogo traz não será sentido. Já para os que o conhecem fica o aviso do perigoso dejavu que irá persegui-los por diversos momentos do jogo. De um forma ou de outra, seja por sua ótima trilha sonora, os mais de 300 monstrinhos ou as excelentes mecânicas de luta e evolução, Hacker’s Memory pode ser uma cópia, mas ainda assim é uma cópia de um dos melhores jogos da franquia até então, fazendo dele nada menos do que isso também.
Prós
- História interessante e bem longa;
- Batalhas em turno agregam à experiência de jogo;
- Mecânicas de evolução e treinamento bem estabelecidas;
- Mais de 300 Digimon para utilizar;
- Trilha sonora boa;
- Habilidades de Hacker incrementam a experiência;
- Extensa quantidade de elementos para evoluir;
- Forma de navegar pelo computador diverte.
Contras
- Missões secundárias repetitivas;
- Início lento demais;
- Diálogos demasiadamente longos;
- Semelhanças demais com o jogo anterior;
- Dungeons repetitivas e muito lineares;
- Sensação de desorientação depois de terminar alguns capítulos;
- Paredes invisíveis incomodam em alguns momentos.
Digimon Story: Cyber Sleuth - Hacker’s Memory — PS4/PS Vita — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
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