"[...] O Efeito Calígula é um efeito psicológico que leva alguém a desejar as coisas quanto mais tabu ou proibidas elas forem." |
Um mundo “ideal”
Tudo começa no início do ano letivo em Kishimai High School. Alguns alunos foram indicados para fazerem discursos de boas vindas aos demais estudantes, dentre eles o protagonista. Na sua vez de subir ao palco, no entanto, algo não parece certo: ele tem a impressão de que essa realidade está distorcida ao ver que os rostos de alguns de seus colegas se desfiguram e se restabelecem, mais ou menos como se um bug de computador tivesse ocorrido. Então, ele se desespera e corre para fora do auditório, enquanto um pequeno grupo de estudantes o observam com um certo ar de compreensão.
Nessa sua tentativa de fuga nosso herói se depara com µ, uma idol virtual e maior estrela da música no local. A popstar conta a ele que criou aquele lugar, chamado Mobius, com a intenção de ser um mundo ideal onde não houvesse sofrimento, só que para isso ninguém poderia sair de lá. Essa conversa é interrompida por Aria, uma mini-idol, e µ vai embora. Fãs da cantora descontentes passam a persegui-los.
O protagonista e a pequenina conseguem escapar com a ajuda de Shogo Satake, que os leva para um sala onde estão aqueles mesmos estudantes que observaram a fuga de nosso herói do auditório. Eles o acolhem e trazem a verdade sobre o que está acontecendo ao seu conhecimento. Essa turma forma o Go-Home Club e o seu objetivo é escapar desse mundo virtual em que estão aprisionados.
A história se desenvolve no ritmo que o jogador desejar, podendo ser mais direto, apesar de uns diálogos longos típicos do gênero. Mas boa parte da graça está nos subplots, cada personagem tem seu trauma pessoal que o fez buscar essa realidade alternativa. Descobrir seus problemas reais e seus passados torna cada um daqueles rostos pálidos mais humano e único. Porém, grande parte deles não se dá conta de que o mundo em que vive não é a realidade. Muitos vão defender esse mundo virtual com unhas e dentes, tornando-se Digiheads (inimigos mais comuns), pois estão enfeitiçados pela música de µ e dos Ostinato Musicians (chefes de cada dungeon).
Os personagens centrais são mais bem elaborados e possuem uma boa profundidade. Muitas vezes seus dramas e dilemas nos fazem refletir. A questão de que o mundo em que estamos é uma ilusão e de que devemos escapar é algo posto desde o início. No entanto alguns diálogos que temos com eles e as opções que temos para dar de resposta nos fazem questionar se é mesmo a melhor opção empreender esforços nessa direção e ter de encarar uma realidade possivelmente bastante dura.
O jogo apresenta um sistema de social links, chamado de Casuality Link, que permite que se crie e aprofunde elos com os demais personagens através de interações com eles. É uma mecânica interessante, pois através dela, além de se desbloquearem novas habilidades, é possível recrutar mais de 500 personagens para fazer parte do seu grupo e participar dos combates. Por outro lado, é preciso conversar diversas vezes para subir os níveis de afinidade e a maior parte das falas é repetitiva, impessoal e desnecessária. Outro ponto fraco é que os personagens recrutáveis possuem poucas habilidades de combate e nem sempre têm o nível de experiência adequado para o seu time, tornando-os dispensáveis na maior parte das vezes.
O protagonista e a pequenina conseguem escapar com a ajuda de Shogo Satake, que os leva para um sala onde estão aqueles mesmos estudantes que observaram a fuga de nosso herói do auditório. Eles o acolhem e trazem a verdade sobre o que está acontecendo ao seu conhecimento. Essa turma forma o Go-Home Club e o seu objetivo é escapar desse mundo virtual em que estão aprisionados.
A história se desenvolve no ritmo que o jogador desejar, podendo ser mais direto, apesar de uns diálogos longos típicos do gênero. Mas boa parte da graça está nos subplots, cada personagem tem seu trauma pessoal que o fez buscar essa realidade alternativa. Descobrir seus problemas reais e seus passados torna cada um daqueles rostos pálidos mais humano e único. Porém, grande parte deles não se dá conta de que o mundo em que vive não é a realidade. Muitos vão defender esse mundo virtual com unhas e dentes, tornando-se Digiheads (inimigos mais comuns), pois estão enfeitiçados pela música de µ e dos Ostinato Musicians (chefes de cada dungeon).
O jogo apresenta um sistema de social links, chamado de Casuality Link, que permite que se crie e aprofunde elos com os demais personagens através de interações com eles. É uma mecânica interessante, pois através dela, além de se desbloquearem novas habilidades, é possível recrutar mais de 500 personagens para fazer parte do seu grupo e participar dos combates. Por outro lado, é preciso conversar diversas vezes para subir os níveis de afinidade e a maior parte das falas é repetitiva, impessoal e desnecessária. Outro ponto fraco é que os personagens recrutáveis possuem poucas habilidades de combate e nem sempre têm o nível de experiência adequado para o seu time, tornando-os dispensáveis na maior parte das vezes.
Prevendo e planejando combos
Se por um lado The Caligula Effect segue alguns padrões dos JRPGs modernos como ambiente colegial, social links e forte relação com música pop japonesa, por outro é no sistema de combates que o jogo busca a inovação. A primeira coisa interessante a se notar é que embora as batalhas ocorram por turnos, elas se dão no mesmo cenário onde acontece a exploração (como num RPG de ação) e a movimentação por ele durante o confronto é um importante elemento tático.
Ao enfrentarmos um inimigo, entra em ação o Imaginary Chain System, que nos permite prever o provável resultado das ações que escolhemos dentre habilidades de ataque, cura, suporte, defesa e esquiva. É possível executar comandos em sequência e ajustar o tempo em que cada um dos golpes e skills serão usados. Combinando-se os diferentes tipos de ataques e técnicas dos personagens do time no momento certo, criam-se grandes cadeias de combos.
A parte negativa das batalhas fica por conta da repetitividade. O único tipo de inimigo básico existente no jogo são os Digiheads, estudantes que perderam sua individualidade pela música de µ e em favor da perseverança de Mobius. Eles são muito semelhantes e há pouca variação na forma em como abordá-los em combate. Pelo menos, não somos obrigados a enfrentar todos, pois os de níveis mais baixos tendem a não iniciar um confronto e é possível passar fora da área de percepção de alguns dos oponentes de níveis mais altos.
Uma coisa incomum para jogos gênero, mas que faz parte da estrutura do game, é o fato de não existir moeda para se adquirir bens e pertences para os personagens. Não há o uso de itens consumíveis para se reparar vida ou mana, por exemplo. Os equipamentos são obtidos através de inimigos derrotados ou encontrados em Soul Remnants (objetos que fazem o papel de baús) ao se explorar as dungeons. Isso para alguns pode tirar um pouco do charme, mas traz o benefício de tornar o jogo mais objetivo.
A parte sonora é um ponto alto do jogo também. A direção musical de Tsukasa Masuko traz canções no estilo J-Pop/vocaloid executadas por diversos artistas que vêm se destacando na cena atual do gênero como PoliphonicBranch e 40mP. A música nos acompanha durante todo gameplay, sendo mais tranquila durante a exploração e mais agitada durante os combates. O trabalho de atuação vocal foi feito de forma competente, contribuindo para a imersão do jogador.
The Caligula Effect é um jogo com ambições certas. A obra, em algumas partes, segue paradigmas recentes do gênero e os executa de forma razoável; em outros quesitos, o jogo busca a inovação e, embora tenha alguns tropeços, consegue se sair bem, como no Imaginary Chain System, por exemplo. A obra se confirma como uma adição muito boa à biblioteca do quase abandonado portátil da Sony. Uma futura iteração que corrija as falhas deste game pode colocar a série no rol de imperdíveis da nova escola do RPG nipônico.
Ao enfrentarmos um inimigo, entra em ação o Imaginary Chain System, que nos permite prever o provável resultado das ações que escolhemos dentre habilidades de ataque, cura, suporte, defesa e esquiva. É possível executar comandos em sequência e ajustar o tempo em que cada um dos golpes e skills serão usados. Combinando-se os diferentes tipos de ataques e técnicas dos personagens do time no momento certo, criam-se grandes cadeias de combos.
A parte negativa das batalhas fica por conta da repetitividade. O único tipo de inimigo básico existente no jogo são os Digiheads, estudantes que perderam sua individualidade pela música de µ e em favor da perseverança de Mobius. Eles são muito semelhantes e há pouca variação na forma em como abordá-los em combate. Pelo menos, não somos obrigados a enfrentar todos, pois os de níveis mais baixos tendem a não iniciar um confronto e é possível passar fora da área de percepção de alguns dos oponentes de níveis mais altos.
Uma coisa incomum para jogos gênero, mas que faz parte da estrutura do game, é o fato de não existir moeda para se adquirir bens e pertences para os personagens. Não há o uso de itens consumíveis para se reparar vida ou mana, por exemplo. Os equipamentos são obtidos através de inimigos derrotados ou encontrados em Soul Remnants (objetos que fazem o papel de baús) ao se explorar as dungeons. Isso para alguns pode tirar um pouco do charme, mas traz o benefício de tornar o jogo mais objetivo.
Um título com identidade própria
O estilo gráfico revela uma obra com personalidade. A construção dos cenários é feita através de polígonos e a movimentação é tridimensional, com aplicação de filtro cell shading. Um desempenho dentro do que se espera do PS Vita. O destaque, porém, está na forma como se escolheu representar os personagens, que são desenhados no estilo anime/mangá com uma arte belíssima do designer Oguchi em seus modelos 2D durante os diálogos.
É interessante notar que a grande maioria dos habitantes de Mobius é retratada em tons pálidos e são bem parecidos. Isso traz o pensamento de que, se nesse mundo virtual a sua imagem é uma representação da aparência física que se considera ideal e não corresponde à do mundo real, logo todos eles se guiam por um padrão geral de beleza e normalidade. Ou seja, todos querem se encaixar e ser aceitos, mas isso é artificial e esconde superficialmente os seus verdadeiros eus. Um boa sacada para uma trama que trata de aceitação pessoal.A parte sonora é um ponto alto do jogo também. A direção musical de Tsukasa Masuko traz canções no estilo J-Pop/vocaloid executadas por diversos artistas que vêm se destacando na cena atual do gênero como PoliphonicBranch e 40mP. A música nos acompanha durante todo gameplay, sendo mais tranquila durante a exploração e mais agitada durante os combates. O trabalho de atuação vocal foi feito de forma competente, contribuindo para a imersão do jogador.
The Caligula Effect é um jogo com ambições certas. A obra, em algumas partes, segue paradigmas recentes do gênero e os executa de forma razoável; em outros quesitos, o jogo busca a inovação e, embora tenha alguns tropeços, consegue se sair bem, como no Imaginary Chain System, por exemplo. A obra se confirma como uma adição muito boa à biblioteca do quase abandonado portátil da Sony. Uma futura iteração que corrija as falhas deste game pode colocar a série no rol de imperdíveis da nova escola do RPG nipônico.
Prós
- Trama bem escrita e elaborada;
- Personagens interessantes;
- Grande conceito de design de personagens;
- Sistema de combate inovador e com boas ideias.
Contras
- Sistema de social links raso;
- Diálogos repetitivos;
- Inimigos repetitivos.
The Caligula Effect — PlayStation Vita — Nota: 8.0
Revisão: Vitor Tibério
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