Elas param aí. O clima de solidão ao explorar um planeta vasto é desconstruído na primeira cena de Axiom Verge. Durante sua exploração, ele te pega mais na mão ao se comparar com o pai dos metroidvanias. Suas mecânicas e inimigos lembram muito mais a franquia Contra com temáticas de invasão alienígena do que qualquer Metroid e, por fim, mesmo sua estética é muito mais sinistra e irreal que a de Super Metroid. Axiom Verge tem, sim, todo um conceito único construído e é sobre como isso é bem executado que quero falar aqui.
Um mundo a ser explorado
Antes de mais nada, acho bom explicitar que o universo de Axiom Verge é imenso. A campanha principal tem tamanho razoável e é conduzida a um bom ritmo, mas apenas ela é aproximadamente metade do jogo. Fora dessa nítida linha, existem literalmente centenas de ramos que podem ser seguidos para conseguir armas, upgrades de armas e saúde, e documentos que contam parte de sua história. A maioria deles faz parte do mapa visível, mas alguns são trechos escondidos que só podem ser encontrados usando o poder de glitch na parede certa (uma das capacidades obtidas é a de “hackear” a realidade).
Note que, excluindo a saúde, todos os upgrades ocorrem nas armas e equipamentos de Trace, o personagem principal. Nesse aspecto, Axiom Verge se difere bastante dos demais metroidvanias: enquanto a evolução dos personagens habitualmente se dá na conquista de novas habilidades, aqui praticamente todas elas ocorrem em sua arma, e umas poucas veem de seu jaleco. Pode parecer uma mudança sutil, mas o objetivo de manter uma coerência entre esta proposta narrativa e as mecânicas do jogo acabaram trazendo certas peculiaridades a ele. Por exemplo: passamos boa parte da campanha aguardando o momento no qual pegaremos o pulo duplo, como em qualquer metroidvania. Isso não existe aqui. Obtemos uma extensão da altura máxima do pulo que pode ser combinada com outros poderes para alcançar obstáculos. Este é apenas um dos diversos poderes originais obtidos, o que poderia dar uma certa sensação de não-obviedade aos desafios do level design.
Isso não significa que Axiom Verge é fácil, apenas significa a dificuldade de seu level design não está em precisar pensar o que deve ser feito, como se fosse um puzzle. O jogo possui um level design muito bem estruturado em termos de posicionamento de inimigos e plataformas, e as dificuldades serão superadas de acordo com a perícia e intimidade que obtemos conforme progredimos. Falando em termos práticos, é exatamente o que se espera de um plataforma 2D baseado nos clássicos dos anos 90, inclusive no que se refere à quantidade de mortes. Tenha uma certeza, você vai morrer demais (mas também tem muitos pontos para salvar, então não costuma ser frustrante). Assim como o jogo lembra Metroid apenas nos olhares pouco atentos, também lembra Contra apenas por uns instantes (mesmo morrendo muito). As mecânicas de combate são bem parecidas, e torna essa semelhança realmente válida apenas nas lutas contra os chefes.
Axiom Verge é um ótimo jogo. Calhou de ser um exclusivo de PS4 lançado na mesma semana do excelente Bloodborne (PS4) e de sair em um ano lotado de metroidvanias em uma data muito próxima ao elogiadíssimo Ori and the Blind Forest (XBO/PC), mas mesmo assim, fez barulho na mídia. Não foi apenas por parecer com Metroid, até porque, como foi dito, isso não é verdade. No fim, inspirando-se em muita coisa, a equipe tentou dar uma cara própria a Axiom Verge e conseguiram.
É MUITA ARMA MEU DEUS |
Didático? Sim, um pouco demais até
Uma pena que há um esforço grande para explicar demais o jogo. É possível que, em algum momento da sua vida escolar, você tenha sido aluno de um professor bem didático e que explica cada mínimo detalhe da matéria, mas ele é tão prolixo que chega a ser irritante, porque ele nunca te deixa caminhar sozinho. O level design de Axiom Verge é esse professor. Você nunca vai travar em uma parte porque ele sempre te lembra a técnica necessária para resolver os desafios difíceis por cerca de três ou quatro telas antes. Ser didático demais em jogos é incômodo; em uma proposta de metroidvania, é fatal, porque tira um dos desafios mais interessantes do gênero. Este é outro dos fatores que contribui para a já citada nitidez da linearidade da campanha principal.Isso não significa que Axiom Verge é fácil, apenas significa a dificuldade de seu level design não está em precisar pensar o que deve ser feito, como se fosse um puzzle. O jogo possui um level design muito bem estruturado em termos de posicionamento de inimigos e plataformas, e as dificuldades serão superadas de acordo com a perícia e intimidade que obtemos conforme progredimos. Falando em termos práticos, é exatamente o que se espera de um plataforma 2D baseado nos clássicos dos anos 90, inclusive no que se refere à quantidade de mortes. Tenha uma certeza, você vai morrer demais (mas também tem muitos pontos para salvar, então não costuma ser frustrante). Assim como o jogo lembra Metroid apenas nos olhares pouco atentos, também lembra Contra apenas por uns instantes (mesmo morrendo muito). As mecânicas de combate são bem parecidas, e torna essa semelhança realmente válida apenas nas lutas contra os chefes.
Uma história competente
Para não dizer que não falei da história, ela está lá, é minimamente interessante e contribui mais ainda para deixar o jogo bem linear. Digo, pelo seu andamento você sabe que está no caminho certo. Não vou dizer que ela é irrelevante ou que não me importei com ela, mas qualquer elogio além de “competente” seria um exagero. Para ser justo, o desfecho dela é ótimo, mas só ele mesmo. A história cumpre seu papel ao longo da narrativa, tendo seus pontos altos nos momentos certos para despertar nosso interesse, e para aí. Inventa pouco e entrega direito.Axiom Verge é um ótimo jogo. Calhou de ser um exclusivo de PS4 lançado na mesma semana do excelente Bloodborne (PS4) e de sair em um ano lotado de metroidvanias em uma data muito próxima ao elogiadíssimo Ori and the Blind Forest (XBO/PC), mas mesmo assim, fez barulho na mídia. Não foi apenas por parecer com Metroid, até porque, como foi dito, isso não é verdade. No fim, inspirando-se em muita coisa, a equipe tentou dar uma cara própria a Axiom Verge e conseguiram.
Prós
- Muito lugar para explorar
- Level design inteligente
- Originalidade na evolução do jogo
- História competente com o propósito do jogo
Contras
- Excessivamente didático
- Linear demais para um metroidvania
Axiom Verge — PS4 — Nota: 8.5
Revisão: Alberto Canen
Capa: Angelo Gustavo
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