Em tom jocoso, convido meu amigo redator Farley para batermos um papo sobre alguns dos melhores RPGs da era de ouro do PlayStation. Nessa conversa falamos um pouco sobre a jogabilidade, experiências e o que mais nos impressionou em cada um dos títulos, trazendo nossa visão sobre esses clássicos.
Os primeiros RPGs de consoles
Pedro Gusmão: Então, Farley, você gosta muito de RPGs, certo?Farley Santos: Sim, é um dos meus gêneros favoritos. Quando você começou a jogar RPGs eletrônicos? Lembra qual foi o primeiro título?Eu dei sorte: o primeiro jogo de RPG que joguei foi o Chrono Trigger no SNES. Um amigo sempre me falava a respeito e acabou me chamando para mostrar o jogo, acabei adorando o estilo e o modo de jogar. Aí que começou minha paixão e curiosidade pelo gênero. E contigo, Farley, como foi?
O primeiro RPG mais tradicional que eu joguei, mais especificamente JRPG, foi Breath of Fire (SNES). Lá pros meus 12 anos, em um fim de semana, fui à locadora que eu sempre ia para alugar jogos de SNES. Chegando lá eu percebi que eles tinham um novo jogo, achei a capa interessante e decidi levar. O atendente disse: "olha, esse jogo vai ser meio difícil pra sua idade, é um RPG...", não liguei e peguei assim mesmo. Nossa, eu e meus irmãos adoramos o jogo, mesmo sem entender muito como funcionava e sem saber inglês muito bem. Passamos a alugar o jogo em todos os finais de semana e por sorte o arquivo não era apagado, deu pra avançar bem na história. Eu achava o jogo insanamente difícil, mas depois de várias semanas eu descobri que era porque eu não sabia que dava pra equipar itens nos personagens, hahahaha. Depois disso, eu passei a procurar mais RPGs.Ótimo início, começou muito bem. Breath of Fire é uma joia do SNES, bons tempos.
Tempos sofridos de não saber inglês, haha... Já no PlayStation, qual foi o seu primeiro RPG?Acho que foi Final Fantasy VII… Acho não, foi ele mesmo.
O clássico dos clássicos do PlayStation, haha.
Eu já tinha curiosidade sobre a série Final Fantasy, pois já tinha assistido ao FFVII Advent Children na casa de um amigo e o pessoal falava muito de Final Fantasy X. Como eu não tinha PS2 na época (por volta de 2005), peguei FFVII para jogar e adorei.
Ah, então você conheceu bem depois então.Sim, foi bem tardia mesmo. Quando eu comecei a jogar o PlayStation, o PS2 já existia há alguns anos, mas era muito caro e meus pais não tinham condição.
Bom que muita coisa interessante já tinha saído, não é?Joguei nele de 2004 a 2008. Tudo já tinha saído na verdade, daí eu tinha uma gama boa de seleção. Saí pegando dicas com amigos ou pela internet e comecei a jogar os mais bem falados no meu bom e velho PlayStation.
No meu caso, o primeiro RPG de PS que eu vi foi Breath o Fire III na casa de um amigo, pois eu não tinha o console. Fiquei maravilhado em ver como aquele RPG de SNES que eu gostava tanto evoluiu para aquele jogo imenso que é o BoFIII… Mas o primeiro que eu joguei mesmo mesmo foi Legend of Mana.Legend of Mana é muito bom, eu lembro que foi um dos primeiros jogos de PS que peguei e a jogabilidade e variedade era incrível. Lembro de passar horas modificando meus equipamentos no sistema de construção de itens. Fora que a quantidade de missões era imensa, né?
Ah, é verdade, a quantidade de conteúdo naquele jogo é incrível. O que eu mais gostava era do sistema de batalha: pra mim, na época, era incrível um combate todo focado em ação e combos com uma infinidade de armas, mas sempre achei difícil acompanhar todas as várias tramas do mundo. Para ver tudo tinha que planejar com cuidado tudo desde o início.Sem dúvidas, tanto é que masterizei quase todas as armas na época, era muito gostoso de jogar. E tive de zerar várias vezes pra poder entender como ia conseguir fazer tudo aquilo sem perder uma trama sequer, era um conceito muito ambicioso.
Complicado, mas divertido, haha.
Sim, haha. Tu falou agora a pouco de sistema de batalha, isso me lembra de Breath of Fire IV, que é um dos meus favoritos de PS, e um dos melhores jogos de RPG já criados.
Ah, eu joguei Breath of Fire IV e também é um dos meus favoritos.Eu tenho uma história interessante com Breath of Fire IV. Eu tinha jogado todos os outros de SNES e o III de PS, ficava maravilhado com as imagens do jogo em revistas, mas eu não conseguia botar nenhuma cópia de BoF IV pra rodar: seja lá porque diabos, nenhuma funcionava. Então durante uma viagem de férias encontrei o jogo numa loja e, para minha surpresa, funcionou. O jogo atendeu todas as minhas expectativas, achei excelente. Os personagens, sistema de batalha, trama, gráficos (os mais polidos da época, na minha opinião) e segredos eram ótimos. Só é uma pena que não tenham tido novos jogos da franquia há tempos.
Eu achava o sistema de batalha bem legal, achava bem interessante essa coisa de misturar ataques e magias em um sistema por turnos. Eu gostava muito também de como a trama era contada por dois pontos de vista diferentes. E, realmente, teve o Breath of Fire V: Dragon Quarter (PS2), mas muita gente odiou porque pouco tinha a ver com a franquia. Recentemente a Capcom decidiu reviver a série em... um jogo mobile, o que me deixou triste. Não tanto por conta da plataforma, mas sim por aparentar ser mais um jogo mobile genérico.Sim, o mesmo aconteceu com a série Mana. Depois do fracasso que foi Dawn of Mana (PS2), a franquia também migrou para plataformas móveis, com títulos que pouco lembram os jogos anteriores. É uma pena...
Valquírias nórdicas e aventuras espaciais
Continuando no tópico de sistemas de batalha, outro jogo bem legal e com uma história bem “dark” e filosófica é Valkyrie Profile. Chegou a jogar?Ah, Valkyrie Profile é um jogo que me evoca sentimentos de amor e ódio, haha… Qual é a sua experiência com ele?Foi ótima e uma surpresa pra mim, na verdade. Ele apresentava uma exploração bem diferente do que eu tava acostumado, apesar de possuir o mapa geral que eu tanto conhecia. A surpresa é que quando você entrava nas áreas específicas o jogo parecia Mega Man, tanto é que a minha primeira frase a respeito foi: "Nossa, parece Mega Man", haha.
Haha, pior que até lembra, levemente...Claro que é bem diferente, mas foi a melhor relação que tinha encontrado na época para explicar como funcionava. O sistema de exploração lembra os jogos atuais da VanillaWare e as áreas apresentam vários segredos. A trama, que é baseada na mitologia nórdica, era muito bem detalhada e com vários personagens retratados em suas próprias histórias. Além disso, o sistema de batalha era incrível, aqueles combos eram ótimos e dignos de jogos de luta, sem contar na dificuldade que era bem desafiadora... Tanto é que da Freiya eu não passava! haha.
É, eu gostava muito do sistema de batalha, achava muito legal aquela coisa de usar os ataques no momento certo e não deixar o inimigo cair no chão, em uma espécie de malabarismo — uma mistura inusitada de ritmo e ação. E adorava aquele ataque especial da valquíria Lenneth: "It shall be engraved upon your soul! Divine assault: Nibelung Valesti!"“Divine Assault… (pausa dramática) Nibelung Valesti!!!” e a Lenneth ainda completava: “Such is your fate”. Muito bom, muito mesmo.
Sim, hahaha... Mas tenho alguns adendos. Eu não gostava de algumas decisões de design do jogo, era muito chato você ter um tempo limitado em cada capítulo, sendo que metade deles era puro grind: ficar visitando os mesmos calabouços, enfrentando os mesmos inimigos, pra treinar os personagens e mandar pro Odin. Além do mais, eu achava as cenas de história um pouco arrastadas, tanto é que por conta dessas coisas avancei pouquíssimo no jogo.De fato, é mesmo, e esse Star Ocean é enorme, até demais.
Inclusive, essa coisa de enrolação me lembrou Star Ocean: The Second Story.
É, além de ser enorme, ele tinha cenas de diálogo que pareciam nunca terminar, haha... Eram vários e vários minutos com os personagens só conversando, bem lentamente, mas eu achava ele incrível.
O sistema de batalha era divertido, a história era interessante e tinha coisas que eu nunca tinha visto antes, como o fato de ter 80 finais diferentes. Também achava ótimo o sistema de decisões: era impossível ter todos os personagens jogáveis em um grupo e você tinha que fazer várias escolhas difíceis que trariam impacto a certos eventos.
Vários finais, várias combinações de personagens e MUITO conteúdo extra! Acho que o que mais me surpreendeu de Star Ocean 2 foi o tamanho mesmo, quando eu pensei que tava no final do jogo, era a metade e tinha outro mundo pra explorar.
Também achava bem legal aquela questão de talentos e habilidades, tinha coisas malucas como aumentar a proeficiência de um personagem em arte, aí você fabricava quadros e vendia — por mais que a maior parte das vezes os meus heróis só conseguiam fazer rabiscos que não valiam quase nada, haha.Sim! São caracteristicas próprias da série: seus personagens tem proeficiências diferentes e seus talentos ajudam nas tarefas mais mundanas, afetando também o desempenho nos combates. É bem bacana.
Sim, acho muito legal isso.
Mundos de fantasia e uma história de terror
Um jogo que precisamos mencionar também é Grandia. E sabe o que mais me surpreendeu nele? Primeiro jogo que vi os personagens terem vozes fora de CGs e isso blew my mind.Grandia eu não cheguei a jogar, mas conheço de nome.É facilmente um dos melhores RPGs de PS. A trama começa um pouco infantil, mas assim que vai avançando se torna muito interessante. E os personagens e locais que você visita também são muito legais. O sistema de batalha do jogo era muito dinâmico, eu costumo dizer que é uma visão diferente e melhorada do ATB (comum em Final Fantasy).
E o que tinha de diferente nele, em relação a outros jogos do gênero?Os personagens têm barras de ação e andam livremente pelo local da luta, só que a barra de ação incorpora inimigos também. Então se você conseguir bater o suficiente em um oponente, a barra dele para e você consegue até um ou dois ataques a mais com outros personagens, dava um bom senso de estratégia. É bastante divertido, um dos melhores, sem dúvidas.
Isso me lembrou também de Parasite Eve, chegou a jogar?Sim, outro jogo genial da antiga Square Soft. A trama era um pouco mais macabra e pode se comparar a Resident Evil, só que Parasite puxava mais pra o lado de RPG, tendo uns toques de terror aqui e ali. A personagem principal se chamava Aya Brea e era uma investigadora que cuidava de assuntos “paranormais”.
Lembro que as revistas da época falavam muito dele. Se não me engano, a trama dele é baseada em um livro e tem coisas de mutação de células e tal, não é? Nunca esqueço daquela CG bizarra na qual um rato vira um monstro...Isso, a trama gira em torno de mudanças celulares, principalmente das mitocôndrias. Os elementos de RPG dele funcionavam muito bem: o combate era mais livre, Aya possuía armas e, quando encontrava algum inimigo, podia se mover até sua barra de ação encher e desferir um ataque, daí dava pra usar habilidades e tudo mais. É uma junção de Resident Evil com um pseudo-turno, bem interessante.
Realmente, Parasite Eve parece ser bem interessante, mas não faz muito meu estilo de jogo… (traduzindo: sou medroso, haha). Falando em jogos que fazem meu estilo, lembrei agora de um que joguei muito, mas pouca gente conhecia, já conferiu Brave Fencer Musashi?Já sim, só que acabei jogando bem pouco, coisa de só conferir mesmo. É bom?
Eu joguei muitíssimo. Resumidamente, ele é uma espécie de Zelda com gráficos poligonais. O protagonista é um espadachim chamado Musashi (sim, é baseado no samurai de mesmo nome) e o legal do jogo é que o universo era bem variado, repleto de personagens carismáticos. A jogabilidade misturava ação, rpg e aventura, com mil segredos e colecionáveis. Até teve um segundo título pro PS2, mas mudaram muito o estilo, dando mais prioridade pra ação.Por que eu só joguei 30 minutos disso?
Haha, talvez você estivesse ocupado jogando Grandia...
Relembrando as aventuras favoritas
Sei que falamos de alguns jogos e sabemos que vários outros RPGs interessantes existem no PlayStation, mas qual foi o seu favorito?Sem dúvida alguma The Legend of Dragoon. Aquele jogo tinha tudo que eu estava esperando na época: cenários lindos, batalha totalmente inovadora, trama bacana, bons personagens e, o melhor de tudo, os personagens podiam se transformar em “Dragoons” e soltar ataques devastadores. O sistema de batalha era baseado em “additions”, que eram basicamente (dando o exemplo mais esdrúxulo) QTEs que rolavam sempre que você ia atacar, cada golpe tinha a sua e era sempre muito divertido executá-las. Pra mim foi o jogo que mais capturou minha atenção no console, gosto tanto que volta e meia jogo de novo no meu PS Vita. Sim, é tão bom assim.
Tem jeito de ser daqueles jogos bem imersivos.Bastante, os personagens e história eram bem cativantes. E o seu, Farley? Qual foi sua melhor experiência no console?
No meu caso, esse jogo é Legend of Mana. Não vou dizer que é a "melhor" experiência, mas a mais imersiva. Eu simplesmente mergulhava naquele mundo incrível e era bem fácil saber os motivos: o visual era muito belo (tudo era desenhado, lembrando uma aquarela), a jogabilidade era ótima, a quantidade de coisas pra fazer era imensa e a música é inesquecível (inclusive esse foi o jogo que me fez gostar muito de game music — Yoko Shimomura é mestra).Verdade, a Yoko faz umas coisas maravilhosas e a participação dela no Legend of Mana foi excepcional.
Uma infinidade de RPGs
Depois dessa conversa agradável, vale lembrar que há muitos outros jogos do gênero no PlayStation que merecem atenção — são tantos títulos que é praticamente impossível falar de todos de uma única vez.Verdade, até hoje existem vários RPGs do console que ainda quero jogar.Eu também, e olha que eu joguei bastante. É uma pena que a maioria desses títulos tenha caído no esquecimento ou tenham recebido continuações fracas, que pouco fizeram jus ao nome de suas franquias — seria ótimo ver novas versões ou sequências deles. Ao menos podemos revisitá-los com certa facilidade, afinal boa parte deles está disponível na PSN.
E vocês, quais foram suas melhores experiências com RPGs do primeiro PlayStation? Quais eram os seus favoritos?
Colaboração: Farley Santos
Revisão: Alberto Canen
Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araujo
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