Esta matéria contém spoilers!
Guerra e Paz
Do ponto de vista narrativo, Suikoden II é um jogo sobre amizade, guerra, traição, violência e política. Diferente de muitos outros títulos da época, ele te coloca em meio a uma guerra entre duas nações em que teus inimigos são aqueles que defendem a outra bandeira, e não algum vilão sociopata que está por trás de tudo para acabar com o mundo ou dominá-lo. Trata-se de um conflito político entre o império de Highland e as cidades-estado ao sul. A ação é delimitada a uma parte do mundo apenas, evidenciando que o conflito tem proporções importantes, mas não mundiais e cósmicas.
O segundo jogo da série acontece na região marcada no mapa. As localidades do quarto e quinto jogos da série nem estão aí nessa imagem, para se ter uma ideia do tamanho do mundo criado para Suikoden. |
O amigão Jowy acaba mudando de lado eventualmente e o personagem principal vira o líder do exército de resistência (que você pode escolher o nome) e o enredo vai se desenrolando. Curiosamente, as cenas do Jowy são muito mais interessantes e bem dirigidas que aquelas com o personagem controlável. O herói tem um design bonito e usa tonfas para batalhar (o que é bem legal), mas é um cara meio parvo. Pode ser aquela velha ideia de deixar que o jogador tome o lugar de um indivíduo do tipo “papel em branco”, mas a opção aqui deixa a desejar, visto que tal personagem é o líder do exército. O jogador controla o “líder”, mas ao mesmo tempo não escolhe nada e não desenvolve as táticas de guerra (o que fica a cargo do personagem estrategista, típico da série). Isso acaba sendo uma contradição ruim entre o jogar e o narrar. Algo que é bem desenvolvido em Dragon Age: Inquisition, por exemplo, com ressalvas aos contextos completamente diferentes de lançamento. No título da BioWare, no entanto, vivemos a experiência de estar tomando decisões, de guiar os caminhos da Inquisição.
Formando alianças e recebendo itens que já deveriam ter sido dados há muito tempo. |
Também tem Suikoden II no Minecraft. Aqui temos o castelo North Window. Créditos ao numberouz. |
As 108 estrelas do destino
Do ponto de vista da jogabilidade, Suikoden II é um jogo sobre reunir uma porção de gente. É sobre política e guerra também, e é legal como narrativa e mecânicas confluem nesse sentido. Mas o aspecto central da experiência é o recrutamento dos mais de cem personagens. É um desafio e tanto, e somente com todas as “108 estrelas do destino” no seu exército o final verdadeiro (dito “final bom”) pode ser assistido. O chato é que é o tipo de coisa que é bem difícil sem um FAQ, principalmente por conta de alguns personagens que possuem uma janela de tempo, às vezes pequena, para serem recrutados. Esse tipo de dificuldade pode ser uma ideia para aumentar o fator replay, mas eu não consigo compreender a necessidade disso para um game com mais de 35 horas de jogo.
São diversos tipos de personagens, dentre os quais alguns adicionam mecânicas (como teletransporte, velocidade aumentada na mapa, etc) ou melhorias no castelo do exército: lojas e outras coisas divertidas, como o (também típico da série) personagem detetive, que investiga seus companheiros para descobrir suas fichas e segredos.
Luca Blight é amador. Se fosse ruim mesmo chamava o choque para dispersar a multidão! |
As cidades possuem o tamanho certo para a proposta do jogo. Se fossem desnecessariamente grandes, poderiam atrapalhar ainda mais no ritmo de recrutamento. Em contraposição, a escolha de apresentar a personagem Viki, que possui a magia do teletransporte, apenas mais adiante no jogo é frustrante. Até encontrá-la o jogo te faz passar por backtrackings (voltar para lugares já visitados) múltiplos. Que não agregam em nada em relação ao confronto com inimigos e fazem o jogador perder um tempo precioso. Considerando o caráter aleatório da entrada da personagem no grupo, teria sido muito mais inteligente ter introduzido ela antes, assim que o jogador assumisse o comando do castelo.
No entanto, enquanto experiência geral pensada para o recrutamento e para a guerra, Suikoden II é muito bom.
Os três lados da guerra
Já falamos um pouco do sistema tradicional de batalha presente em Suikoden II. Ele é bem divertido e rende boas batalhas. O título apresenta mais duas formas de confronto. A primeira é o duelo. É um momento no qual o herói precisa vencer um determinado adversário. Toda a pompa da peleja mascara o mais simples jogo de papel-pedra-tesoura. O jogador tem três opções: ataque, ataque feroz e defesa. Ataque vence defesa, defesa vence ataque feroz e ataque feroz vence ataque. Simples. A maneira de deduzir qual ação o adversário vai escolher é através da fala dele. Geralmente é bem óbvia, mas algumas são mais complexas e divertidas.Duelo maroto para resolver umas pendências. |
E aqui uma imagem das batalhas entre exércitos. |
Imagem da batalha por turnos de Suikoden II |
Joguem Suikoden
A apresentação do jogo melhorou muito em relação ao primeiro título da série. É estranho pensar que tal título foi lançado em 1999, após Final Fantasy VII, Final Fantasy VIII e Xenogears. Muitos torceram o nariz para os “gráficos de Super Nintendo”. Suikoden II acabou envelhecendo bem, e seu estilo e proposta gráfica não desagrada nos dias de hoje. Sua trilha sonora, que mereceria uma matéria à parte, é primorosa. Sons acústicos que variam dos ritmos celtas aos orientais dão o tom da aventura.Aproveitem o lançamento recente de Suikoden II na PSN (PS3 e Vita) e vivam esse clássico.
Capa: Diego Migueis
Revisão: Alberto Canen
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