Em 2004, a Nintendo revolucionou o mercado de consoles
portáteis com o Nintendo DS. Abandonando o nome GameBoy e trazendo uma segunda
tela à equação, o console demorou bastante para convencer o público, que foi
pego de surpresa com a drástica mudança. O que poucos esperavam, incluindo a
Nintendo, é que a situação se reverteria por meio de um de seus jogos menos
ambiciosos: Nintendogs. O simulador de animal de estimação fez tanto sucesso no
Japão, que fez com que o console se tornasse um dos mais vendidos da história
no lugar. No Ocidente, o sucesso se repetiu de maneira mais branda, o que não
impediu que o gênero se tornasse um dos mais explorados por diversas
desenvolvedoras.
Diversas séries começaram a surgir, sendo uma pior que a
outra, e todo mundo queria uma fatia do sucesso estrondoso de um gênero que
surgira das cinzas. Hoje, quase dez anos depois, a Sony decidiu tentar criar
sua própria versão de um simulador de bichinho virtual canino e,
surpreendentemente, PS Vita Pets se sobressai com uma proposta mais abrangente
e profunda.
Cães tagarelas
No início, PS Vita Pets pode parecer como todos os outros
jogos. Você escolhe um companheiro canino, que pode ser um Labrador, um Collie,
um Husky ou um Dálmata. Todos eles são muito parecidos, então cabe ao jogador
selecionar a sua raça favorita. Logo após a decisão, é hora de decidir o nome
de seu animal e brincar um pouco com ele para que ele se sinta mais à vontade.
E aí já vem o primeiro choque: os animais do jogo são falantes!
Isso pode até soar um pouco estranho, e é mesmo. Para dar um
pouco mais de identidade e personalidade aos animaizinhos, a Spiral House
pensou que colocar vozes em cada um deles seria uma boa solução. Infelizmente,
a escolha não foi das melhores, e conviver com um cão tagarela nem sempre é das
tarefas mais simples. Eventualmente eles até soltam piadas boas e frases mais
inteligentes, mas ainda assim é estranho se dar conta que seu cachorro quer que
você leia um livro para ele. Felizmente, é possível desativar a falação canina
para os que desejam uma experiência mais tradicional. Ainda é possível falar
com seus animais pelo microfone do portátil, mesmo que nem sempre os comandos
sejam entendidos.
Aventuras caninas
Após o trauma com o cachorro falante (tente ouvi-lo falar em
português de Portugal e prepare-se para meses de terapia), você poderá brincar
com seu animalzinho, comprar roupas, comida e novos brinquedinhos como em
qualquer jogo do gênero, o que já é até divertido, apesar de se tornar
rapidamente algo repetitivo. Contudo, cada atividade realizada com seu cão
deixa ele mais forte e capaz de realizar mais tarefas e movimentos, o que vem a
calhar para um jogo de aventura. Espera aí, aventura?
Estranhamente, o jogo se passa em uma ilha abandonada e
cheia de segredos e mistérios e, por incrível que pareça, a maior parte da
experiência é voltada para a exploração deste local. Com um enredo simples mas
divertido, sobre um antigo monarca e seu companheiro canino, o jogo estimula o
jogador a explorar cada canto da ilha em busca de mais revelações sobre os
antigos habitantes locais.
É aí que entram os elementos de RPG do jogo, já que você será
obrigado a aperfeiçoar seu cãozinho para avançar em novos locais ainda não
explorados. Com o fim de melhorar os atributos de seu companheiro, é necessário jogar
uma série de minigames que utilizam todas as funcionalidades do Vita, desde os
sensores de movimento até a tela de toque. Tais opções, aliadas às mecânicas
tradicionais de simuladores do gênero (muito bem implementadas), fazem com que
o título se diferencie bastante do que estamos acostumados a ver, e isso seria
ótimo se não fosse pelo mesmo problema que todos os jogos deste estilo
enfrentam: a repetição.
Apesar dos momentos de aventura serem muitos divertidos e
genuinamente interessantes, Vita Pets exige que os jogadores repitam os mesmos minigames várias vezes para treinar os bichinhos, e isso vai se tornando cada
vez mais maçante e sem graça conforme se avança na jornada. Certamente, boa
parte dos jogadores se manterão presos ao jogo até terminar a história, mas não
dá para fingir que é divertido repetir as mesmas atividades exaustivamente.
Produção impecável
Vita Pets não surpreende apenas pelas novidades trazidas ao
gênero, mas também pela qualidade de seus gráficos. Com cenários amplos,
detalhados e muito bem construídos, o título é agradável o tempo todo e é um
dos mais bonitos do console até agora. O level design da ilha também é muito
bom e faz com que o jogador se sinta imerso nas aventuras com seu cãozinho. As
músicas e sons também fazem seu papel e agradam na maior parte do tempo,
exceto, novamente, pelas vozes dos cachorros, que não combinam em nada com todo
o resto proposto pela desenvolvedora.
Um bom simulador canino
PS Vita Pets está longe de ser um jogo excelente, e possui
diversos probleminhas que prejudicam a experiência, mas, ainda assim, a Spiral
House tentou sair da mesmice de um gênero limitado para oferecer algo novo aos jogadores, o que deu muito certo. Apesar dos minigames repetitivos e de
algumas decisões erradas de design, o jogo é capaz de divertir bastante, ainda
mais para aqueles que gostam de cachorros. Vamos torcer para que, caso haja uma
sequência, os problemas sejam resolvidos e o título consiga se consagrar com um
dos mais importantes do portátil da Sony.
Prós
- Adiciona elementos nunca antes vistos no gênero;
- Elementos de RPG deixam o jogo mais interessante;
- Gráficos lindos.
Contras
- Cachorros falantes são perturbadores;
- Minigames se tornam repetitivos com o tempo;
- Comandos de voz nem sempre são compreendidos pelos animais.
PS Vita Pets – PS Vita – Nota: 7,5
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Vitor Nascimento
Capa: Vitor Nascimento
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