Cavaleiros e dragões
Em 1996 houve o lançamento do filme de fantasia/aventura Coração de Dragão (Dragon Heart, no título original). Fez bastante sucesso na época, ao ponto de concorrer a um Oscar. Sua história é interessante: Draco, um sábio dragão, divide seu coração com um rei moribundo para salvá-lo. Diante disso, o rei fica praticamente imortal ao receber parte do coração de dragão e resolve ser um cara mal e opressor com o seu povo. Bowen era um cavaleiro do rei que resolveu matar todos os dragões do mundo com a esperança de que o rei morresse junto a eles. Bowen e Draco (o último dragão vivo) se unem para salvar o reino de sua dominação.A desenvolvedora de DragonHeart: Fire & Steel pegou o roteiro do filme e resolveu colocar mais dragões. Afinal, quanto mais melhor, correto? Você joga como Bowen e vai matar esses dragões em um esquema de beat’em up 2D até salvar o reino. Mas é incrível como conseguiram transformar um bom filme em algo que até quem jogou não quer lembrar que existe! Deve ser uma norma de mercado escolher um filme e desenvolver jogos com péssima qualidade a partir de seu enredo. Até parece que se esforçaram para estragar!
Pior que a capa é chamativa. Eu compraria um jogo com uma caixa dessas nos anos 1990! |
E o melhor ainda está por vir
Mas não prestaram atenção no personagem principal, não é mesmo? Tente lutar ou pular e também se sinta uma pedra! Joe e Mac na Idade da Pedra conseguiam se mover melhor do que Bowen. A animação detona a jogabilidade, sendo tão mal feita que acertar uma plataforma móvel com um pulo vai ser um enorme sacrifício. E tentar passar correndo por debaixo das plataformas também não adianta. A plataforma vai te empurrar para trás e, como a animação de levantar do personagem é muito devagar, no momento que Bowen ficar de pé vai ser empurrado denovo. Muito bem pensado!Esse tronco sozinho consegue ser mais difícil que qualquer inimigo. Passar dele sem apanhar é tão difícil ao ponto de ter um power-up de invulnerabilidade ao lado. |
De vez em quando você cruza com alguns power-ups que nem sempre fazem sentido, como taças e espadas. Na maioria das vezes que você pegar outra espada não vai mudar absolutamente nada, já em raras vezes ela vai brilhar e você irá matar inimigos com um só golpe. Mas não dá pra saber o que vai ser sem testar. Já as taças são de ouro, prata e barro. A de ouro cura um pouco de vida, já a de prata cura bastante e as de barro curam tudo. Tem que ser humilde, né mano!
Após muito sofrimento em combates e pulos nas duas primeiras fases, você vai encontrar o fantasma de um cavaleiro. Seria um sinal? Pouco a frente você chega na cachoeira onde Draco mora. Finalmente um combate sério? Draco vai desferir diversas cusparadas de fogo (algumas com cores meio estranhas) que você vai ter de defender com um escudo... de madeira (?). Ainda bem que Bowen é um cara com prática em caçar dragões e sabe que madeira é resistente para lutar contra feras que cospem fogo.
Isso é uma baforada de fogo? Ou um golpe de lingua? |
É nesse ponto que você vai experimentar outro estilo de jogabilidade de DragonHeart: voar nas costas de Draco com a câmera em primeira pessoa. O personagem fará isso algumas vezes, voando por um cenário sempre igual que desemboca em locais totalmente diferentes. É incrível como existem tantas variações da mesma coisa! Ah, um detalhe importante é que se você falhar, nada mudará no jogo. Simplesmente você irá voltar para o mapa do mundo e continuará sua aventura como se nada tivesse acontecido. Realmente uma parte bem importante do jogo.
Por que esse bicho não me leva direto para lutar com o rei em vez de ficar dando voltas por ai? Eu só quero salvar meu reino! |
Gráficos e bleeps
Visualmente DragonHeart é aceitável para 1996, com backgrounds bonitos e personagens humanos digitalizados. Com a Acclaim publicando tanto esse jogo como Mortal Kombat alguns anos antes, é de se imaginar que as animações dos personagens digitalizados seriam pelo menos próximas das usadas na série de luta. Mas ao cruzar com o primeiro inimigo se movimentando tão ágil feito uma pedra, você começa a perceber que tem algo errado com o jogo... Eu cheguei a comentar que o Oscar que o filme foi indicado era de efeitos especiais?E durante sua aventura você será acompanhado pelos efeitos sonoros, claro. Ah, os sons do jogo. Jogos de NES fizeram melhor. Talvez até de Atari. Você ouvirá alguns efeitos, como barulho de espadas, alguns urros de dor e das cusparadas de fogo. Também podemos ouvir uma música de fundo bem chata e repetitiva, isso quando tem. Várias fases rolam sem um sonzinho de fundo pra animar.
Sete dragões fazem a diferença? Não aqui
Do jeito que esse jogo foi mal feito, parece que pegaram os anos de experiência de clássicos jogos da era de ouro dos beat’em up nos consoles de 8 e 16-bits e jogaram tudo no lixo. Ainda bem que anos depois lançaram pérolas como Muramasa (Wii/PSVita) e Dragon’s Crown (PS3/PSVita) para salvar os beat’em ups do esquecimento. Porque nem as sete Esferas do Dragão tirariam esse jogo da lata do lixo!
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis
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