Metal Slug foi um dos maiores sucessos da década de 1990. O
shooter side-scrolling da SNK fez sucesso por sua ação empolgante e desenfreada que se desenrolava por meio de controles acessíveis para todo o tipo de jogador. Grande hit dos arcades, a
série logo passou a fazer sucesso também nos consoles de mesa como o Neo Geo e
o PlayStation, sendo que o Wii foi o último console a receber um título inédito da franquia, o
divertido Metal Slug 7. Apesar de todo o legado deixado pela série, o gênero
foi deixado de lado em prol de jogos mais modernos e tridimensionais, o que
deixou jogadores das antigas com saudade da época em que jogos mais simples,
mas muito divertidos se sobressaiam na indústria. Com a proposta de trazer o
estilo para os dias de hoje, a Tribute Games produziu Mercenary Kings, jogo de
ação com o espirito de Metal Slug mas com as tendências atuais do mercado.
Quando o enredo nem era tão importante assim
Os jogos da era 16-bit não precisavam de um enredo complexo
para fazerem sucesso. Com exceção dos gêneros nos quais toda a jogabilidade
depende do desenvolvimento de um enredo, como no caso dos RPGs, poucos jogos possuíam mais
do que uma pequena situação de plano de fundo para justificar o título como um
todo. Mercenary Kings bebe dessa fonte retrô e possui um enredo muito simples, que pouco serve de estímulo para seguir a aventura. No controle de um mercenário
pertencente à facção que dá nome ao jogo, você deverá cumprir uma série de
missões para dar cabo aos planos do CLAW, um grupo barra pesada que fica
causando problemas em diversas regiões do mundo.
Contando com uma equipe talentosa e carismática, o jogador
deverá enfrentar missões de resgate, de coleta de materiais e até mesmo de eliminação
de terroristas; isso enquanto melhora seu arsenal, conquista novos equipamentos e até
mesmo melhora os atributos básicos de seu personagem. E não pense que tudo isso serve
apenas para aumentar o tempo de jogo. Essas melhorias são fundamentais para
se concluir a campanha do jogo, que dura cerca de 20 horas, um número
surpreendente se considerarmos que estamos falando de um jogo de tiro
bidimensional aos moldes de Metal Slug, título este que pode ser terminado em pouquíssimas
horas de jogo.
A única crítica negativa real se liga diretamente ao enredo, que é irrelevante, mesmo que esta não
tenha sido a intenção da desenvolvedora. Ao iniciar as missões, o jogador
assiste a diálogos pelos quais não se importa e que acabam sendo apenas um
obstáculo chato para a ação. Se a Tribute Games desejava realmente que os
jogadores se importassem com o background das missões do grupo de mercenários,
então este deveria ter sido melhor desenvolvido.
O soldado perfeito
Como dito, em Mercenary Kings as melhorias de equipamento
são essenciais e, para estruturar isso, o jogo conta com um sistema de loot que é muito parecido com aquele que estamos acostumados a encontrar em títulos como Monster Hunter (Multi) e em grande parte dos RPGs, principalmente os ocidentais. Durante as missões, é possível coletar
quase qualquer coisa que for encontrada pelo caminho, de pedaços de madeira até
frutas. E todos estes itens terão algumas utilidade quando o jogador retornar
até a sua base.
Povoada por diversos NPCs, a base serve como hub para embarcar em
uma nova missão ou para trabalhar na evolução de seu personagem. Cada um dos habitante desta base é responsável por algum tipo de melhoria, seja de seu arsenal,
habilidades ou atributos, e tudo o que é coletado nas missões ajuda a tornar
o seu mercenário mais forte. Tais melhorias são essenciais na medida em que o
desafio do jogo é crescente e exige que o jogador seja cada vez mais forte e
habilidoso para superá-las.
E aí está outro ponto de destaque do título: apesar de
muitos pensarem que Mercenary Kings tem uma aventura linear como a de Metal
Slug, o jogo permite maior flexibilidade. Contando com cerca de 100 missões
diferentes, o game permite que o jogador acessá-as na ordem que desejar para ele analisar se já se
sente preparado para completá-las, o que faz lembrar os RPGs em
que o jogador deve realizar quests da maneira que mais lhe agradar. A não-linearidade do jogo faz com que a experiência seja mais única para cada um, já que nos sentimos a vontade para fazer tudo da forma que acharmos mais divertida, mesmo que todos os caminhos nos levem para o mesmo encerramento que qualquer outro jogador que terminar o título
verá.
No controle da ação
Mercenary Kings possui controles precisos, mas um pouco
difíceis de serem dominados no início. Apesar de lembrar muito Metal Slug e
Contra (NES), as armas devem ser recarregadas e é necessário que o jogador
saiba lidar com isso em situações mais tensas. Diferentemente de Metal Slug,
não é possível sair atirando desenfreadamente e esperar que isso lhe dê uma
vitória fácil, já que os inimigos virão de todos os lados que eles e são inteligentes o
bastante para derrotá-lo. Além disso, nem sempre as missões consistem em ir de um ponto até outro do mapa. Por vezes o jogador terá de localizar e libertar prisioneiros, que
podem estar em qualquer lugar, o que pode fazer com que ele tenha que revisitar o
mesmo local várias vezes.
Depois de dominados, os controles de Mercenary Kings se mostram extremamente
intuitivos e precisos, permitindo que você se sinta mais letal que o Rambo em pessoa. Em momentos
mais avançados do jogo, tudo se torna ainda mais legal graças ao aumento de seu
arsenal e do seu leque de habilidades, que lhe concedem novas e divertidas formas de matar seus
inimigos e diferentes maneiras de se completar as missões do jogo.
Um toque de modernidade
Apesar de toda a temática e jogabilidade retrô, Kings conta
com leaderboards e com um modo cooperativo, seja offline, em tela dividida, ou online.
Infelizmente, com a tela dividida do modo offline o campo de
visão dos jogadores fica bastante limitado. Sendo assim, a melhor forma de
tirar proveito do modo cooperativo, pelo menos tecnicamente falando, é jogando o título no modo online. Se jogado em multiplayer, a
ação desenfreada se torna ainda mais engraçada e divertida, tornando o modo uma
grande adição ao jogo, que já é excelente mesmo sendo jogado por apenas um jogador.
Scott Pilgrim encontra Metal Slug
Uma das primeira coisas que chamam a atenção em Mercenary
Kings é sua semelhança gráfica com Scott
Pilgrim vs. The World (Multi). Com gráficos pixelados e muito coloridos, o jogo
segue quase o mesmo estilo artístico do jogo do Scott Pilgrim, exceto pela ambientação, que é bastante
divergente. Talvez isso se explique pelo fato de que a Tribute Games, fundada em 2011, é formada por ex-funcionários da Ubisoft. Esses funcionários, não por mera coincidência, são
as mesmas mentes responsáveis pelo jogo de sucesso lançado em meados de 2010.Outro
ponto marcante de Scott Pilgrim era sua trilha sonora brutalmente divertida. E
a qualidade se repete em Mercenary Kings, de forma ainda mais intensa. Com
músicas realmente empolgantes e divertidas, me senti como se estivesse jogando
Megaman ou algum outro clássico da era dos side-scrollers dos anos 1990, e isso é espetacular!
Uma viagem para o passado
O PlayStation 4 está tendo seu início de vida marcado por
títulos modernos que buscam, de alguma forma, trazer o brilho de grandes
clássicos de volta à mente dos jogadores. Mercenary Kings não apenas consegue
tal feito como também eleva um gênero amado por todos a um novo patamar. Com
uma jogabilidade sólida, uma duração admirável e gráficos e trilha sonora
memoráveis, o jogo da Tribute Games se consagra como um dos melhores títulos
indies dos já lançados para o novo console da Sony. Por sorte, o jogo está disponível
gratuitamente para os que possuem o plano PlayStation Plus até o fim do mês de
abril, e se esse é o cartão de visitas da Tribute Games, ela acaba de conseguir
um novo fã cativo.
Prós
Contras
Mercenary Kings – PlayStation 4 – Nota 9.0
Revisão: Marcos Silveira
Capa: Stéfano Genachi
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