Numa época em que jogos como Resident Evil e Dead Space estão deixando de lado seus elementos de terror em prol de experiências mais voltadas a ação, se destacam os títulos que tentam resgatar o que tornou o gênero
survival horror tão popular nos anos de 1990. Outlast, jogo desenvolvido pela Red Barrels, lar de profissionais envolvidos na produção de diversos jogos de sucesso, foi lançado em setembro do ano passado para PC, e aparece agora como um dos principais títulos indies disponíveis para o PlayStation 4. Com a promessa de assustar os jogadores e de mantê-los tensos o tempo todo, o jogo consegue, apesar de alguns pequenos defeitos, ser um dos títulos de terror mais gratificantes e assustadores dos últimos anos.
A insanidade de Mount Massive
Em Outlast, o jogador assume o controle de Miles Upshur, um jornalista freelancer que recebe uma denúncia de que coisas estranhas vêm acontecendo em um hospício um pouco afastado da cidade. O informante, que se autonomeia The Whistleblower, alega que o hospício Mount Massive, controlado por uma enorme corporação chamada Murkoff, está isolado e que ninguém sabe o que se passa dentro do local. Munido apenas de sua câmera com visão noturna, Miles decide realizar uma visita ao local, sem saber o enorme pesadelo que o aguardava.
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Tem que ter muito sangue frio para entrar em um lugar assim por livre e espontânea vontade |
Ao chegar ao hospício, o repórter percebe que está se metendo onde não deve ao constatar que os funcionários da clínica estão mortos e que os pacientes se encontram em uma situação deplorável, com seus corpos mutilados e ainda mais perturbados do que estavam quando foram internados. Alguns pacientes, muito agressivos, tentarão tirar a vida do repórter a todo custo, e o rapaz terá que conseguir escapar do inferno em que se metera.
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Os pacientes de Mount Massive recebem um tratamento de primeira |
Apesar de isto ser um pouco clichê, Outlast utiliza a seu favor diversos elementos já tradicionais de histórias de terror. Se passando em um hospício, o jogo encontra o equilíbrio perfeito ao contrapor ciência e religião, de maneira que até a ambientação do jogo já é capaz de tirar o sono de qualquer um. A história se desenvolve, em grande parte, por intermédio de documentos encontrados pelo hospital, e também por meio de alguns poucos diálogos com alguns dos mais horripilantes personagens que já vi em qualquer jogo. Apesar de deixar muitas dúvidas, a narrativa cumpre seu papel de intrigar o jogador sobre o que está acontecendo e sobre o que está por vir.
O FPS sem arma
Um ponto de destaque em Outlast é a fragilidade de Miles perante a situação que deve enfrentar. Ao contrário da maior parte dos protagonistas dos jogos do gênero, o repórter não possui armas e não pode se defender de seus agressores, o que obriga o jogador a sempre evitar que os inimigos o vejam. Os cenários possuem diversos locais nos quais Miles pode se esconder caso seja visto por algum paciente agressivo, então, espere passar muito tempo escondido dentro de armários ou debaixo de mesas e camas.
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"Achoou!" |
Para escapar de Mount Massive, o rapaz ainda deve encontrar itens, ativar geradores e outros dispositivos que habilitam sua passagem, o que torna a experiência muito tensa. Para piorar a situação, muitos pontos do hospício não possuem iluminação, o que obriga o jogador a utilizar a visão noturna da câmera do repórter, que se alimenta de baterias que podem ser encontradas em vários pontos dos cenários. As passagens em que é necessário utilizar o equipamento são as mais tensas do jogo, capazes de tirar o sono de qualquer marmanjo que se diga corajoso.
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Médico simpático esse aí |
O jogo é dividido em nove capítulos, cada um se passa em um setor do hospital e dura cerca de seis horas. Apesar de parecer curto, Outlast é uma experiência tão densa que parece durar muito mais. Os momentos que passei em Mount Massive foram aterrorizantes e inesquecíveis na mesma medida, e o título acabou se tornando um dos jogos mais marcantes que tive a oportunidade de jogar neste ano.
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Alguns pacientes perambulam pelo hospício totalmente nus |
Infelizmente, nem tudo são flores em Mount Massive e alguns problemas acabam prejudicando a experiência a partir da metade do jogo. Por ser quase um jogo de esconde-esconde, a tensão provocada no jogador durante a campanha é, em grande parte, causada pelo medo de ser descoberto pelos inimigos. Contudo, após algumas horas de jogo, a inteligência artificial dos inimigos começa a se mostrar muito previsível, e o passeio ao inferno promovido pela Red Barrels começa a parecer mais um passeio no parque. Na segunda metade do jogo, meu medo foi sendo deixado de lado e, cada vez mais, eu conseguia cumprir meus objetivos sem ao menos ser visto. Os pacientes do hospício perseguem Miles quando o veem, mas desistem rapidamente. E boa parte da imersão vai embora assim que o jogador se acostuma com os padrões simples da inteligência artificial.
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Depois de um tempo fica fácil escapar desse grandão |
Mesmo assim, Outlast é tenso a todo momento, já que a ambientação e o clima do título são bastante pesados e não deixam o jogador ficar totalmente tranquilo, mesmo ele sabendo como fugir dos inimigos depois de um tempo. Os temas abordados durante a aventura, principalmente os de vertente religiosa, são muito pesados e fazem com que o jogador se sinta imerso no universo do jogo, sentindo-se angustiado até a sua conclusão. E isto é algo que não acontecia em um jogo de terror há alguns anos.
Realismo assustador
Outlast pode não ser graficamente lindo como
Killzone: Shadow Fall (PS4), mas ainda oferece uma experiência realista e apavorante. Os corredores de Mount Massive são cheios de detalhes, que vão desde pichações feitas com sangue até rachaduras e azulejos quebrados. Os ambientes, sempre escuros, transmitem um clima muito forte de melancolia, o que mantém a atmosfera agonizante do título. Os efeitos sonoros vão à mesma direção, e fazem com que o jogador se apavore com qualquer som que ouvir. As músicas completam o clima de tensão e sua intensidade varia conforme o perigo da situação em que Miles se encontra.
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Outlast é cheio de momentos macabros |
A visão noturna da câmera do repórter torna tudo ainda mais realista e assustador. Utilizar a funcionalidade dá um efeito quase fotorrealista, e ver um inimigo se aproximando de você sob essa ótica é uma das coisas mais desesperadoras que já vi em um videogame.
O retorno do horror
Outlast é um dos jogos de terror mais assustadores e imersivos dos últimos anos. Com uma temática clichê
— mas ainda assim profunda
— e uma ambientação muito convincente, o inferno de Miles Upshur é uma das melhores experiências oferecidas pelo PlayStation 4 até agora. Oferecido por apenas quinze dólares, exclusivamente na PSN, o título é obrigatório para qualquer um que curte jogos de terror. Caso essa não seja sua praia, passe longe, pois Outlast consegue assustar como poucos jogos no mercado.
Prós
- Ambientação imersiva;
- Enredo intrigante;
- Jogabilidade precisa;
- O jogo assusta de verdade.
Contras
- A inteligência artificial pode se tornar bastante previsível com o tempo;
- Um pouco curto.
Outlast – PlayStation 4 – Nota: 8.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Diego Migueis
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