Todo bom fã de Harry Potter conhece o Quadribol, o esporte mais popular do fantástico mundo criado por J.K Rowling. O próprio bruxinho que estrela a história se torna um excelente jogador para sua casa, a Grifinória. É impossível não se emocionar ao ler a narrativa das partidas, mais tarde adaptadas com grande qualidade para o cinema.
A Eletronic Arts levou a ideia além: trazer o Quadribol para os videogames, com direito à presença de jogadores "famosos" do mundo dos bruxos, como Viktor Krum. O resultado final foi Harry Potter: Quidditch World Cup, conhecido no Brasil também por Copa Mundial de Quadribol. Anteriormente, a EA já havia adaptado os dois primeiros filmes de Harry aos games, e os trabalhos foram feitos de maneira espetacular para a época. Mas será que deu tudo certo na hora de levar o esporte para o joystick?
Fácil de entender, mas nem tanto assim de jogar
Esse subtítulo define perfeitamente o Quadribol. Como nem todos conhecem o esporte fictício, faremos aqui uma pequena explicação de como ele funciona. A modalidade pode ser encarada como uma mistura entre futebol, basquete e hóquei, com a diferença do jogador ficar montado em vassouras voadoras, bem acima do solo. O campo é oval, e cada extremidade possui um trio de balizas, onde são marcados pontos.
O time de Quadribol tem sete jogadores. Três deles são chamados de artilheiros, cujo objetivo é fazer a bola vermelha chamada Goles passar por uma das balizas do time adversário. Cada vez que a Goles atravessa uma baliza, 10 pontos são marcados. A tarefa não é tão fácil, já que além de ter que driblar os jogadores adversários, ainda existe o goleiro, que guarda o trio de balizas.
Também há um par de Batedores. O objetivo deles é impedir que os Balaços – bolas encantadas que tentam derrubar os jogadores das vassouras – machuquem seus companheiros. Para isso, cada um deles possui um taco, que serve para bater nos tais Balaços e direcioná-los ao pessoal do time adversário.
Por fim, temos o Apanhador, de longe o mais importante do jogo. A missão do Apanhador é conseguir capturar o Pomo de Ouro, uma bolinha pequena, dourada e muito veloz, que fica sobrevoando o campo. É um trabalho importante pois o Apanhador que pegar o Pomo ganha 150 pontos para o seu time. Vale lembrar que uma partida de Quadribol só acaba quando o Pomo é apanhado. Como lembra Oliver Wood em Harry Potter e a Pedra Filosofal, não é raro uma partida durar dias e até semanas, fazendo com que seja preciso encontrar substitutos para os jogadores poderem descansar um pouco.
Bem, agora que conhecemos como funciona o esporte, vamos ver se a Eletronic Arts fez um bom trabalho com a adaptação.
Entre vassouras e minigames
O jogo conta com sete minigames, que são desbloqueados à medida que se avança no "modo carreira". Eles funcionavam mais ou menos como tutoriais para se aprender os controles. Mas, ao invés de um passo a passo chato, os minigames botavam o jogador direto na ação de cada função do esporte.
As atividades são de passar a Goles, perseguir o Pomo de Ouro, defender um artilheiro dos Balaços, entre outros. Eram ideias simples, mas bem executadas, e extremamente viciantes. Além de tentar quebrar os recordes, ainda havia Figurinhas de Bruxos para colecionar. Elas já existiam nos dois jogos anteriores de Potter, mas aqui elas foram aperfeiçoadas, fazendo com que as imagens estampadas até se movam! Realmente mágico.
Tipo Quadribol, só que não
Porém, nem tudo era tão bom quanto parecia ser. Harry Potter: Quidditch World Cup falhava justamente em seu ponto mais crucial: as partidas de Quadribol. Teoricamente, todo o sistema apresentado nos minigames deveria funcionar, mas por alguma razão eles não se encaixam.
Durante a maior parte do jogo, é preciso simplesmente tentar marcar pontos no time adversário usando os artilheiros. Certo, beleza, eles são parte essencial da partida. Mas o problema já começa na velocidade: nada é tão rápido ou fluído como parece nos livros e nos filmes. Os atletas são lerdos e a inteligência artificial é tão ruim que poderia se chamar de "burrice artificial". Roubar a Goles e marcar pontos era tão fácil quanto por o DVD do jogo no PlayStation 2. Não havia desafio real. Além da absoluta falta de preocupação com os Balaços, pois eles só acertavam o jogador se um Batedor de outro time o direcionasse. Era bem óbvio quando isso acontecia: rolava uma animação que quebrava o (já lento) ritmo de jogo.
Além disso, o game era recheado de bugs, slowdowns e "congelamento" das animações. Não era raro ver o rosto do personagem estático na hora de comemorar um ponto ou algo assim. Realmente triste, já que o gráfico é um celshading belíssimo.
O único momento que de fato parecia tratar com fidelidade a partida de Quadribol era a perseguição ao Pomo de Ouro. Isso só acontecia quando o jogador completava certo número de passes entre os Artilheiros. Com o Apanhador, devíamos acompanhar o rastro que o Pomo deixava para ganhar impulso e finalmente capturá-lo. Esse momento conseguia retratar perfeitamente a velocidade e a emoção transmitida pelo livro e o filme. O ruim é que a sequência costumava durar menos de um minuto e a diversão já parava por aí.
No multiplayer, as coisas ficavam um pouco melhores. Ao menos jogar com outra pessoa anulava o problema da inteligência artificial e aí sim era possível desfrutar um pouco da proposta do título.
O engraçado é que, antes de ser lançado, foi revelado um trailer. Ao que parece, ele mostra todas as qualidades ausentes no jogo. É até um pouco irônico pensar nisso.
Estádios de gelo, de plantas, de tudo…
Mesmo que os ambientes se limitem quase que exclusivamente à estádios de Quadribol, isso não impediu a apresentação de cenários lindíssimos e variados. Em Hogwarts, temos apenas o bom e velho campo tradicional, ocasionalmente com neve ou chuva. Mas quando jogamos, de fato, na Copa Mundial, podemos acessar vários estádios diferentes. O do Japão traz uma estrutura que remete aos dojos, com pontes e casinhas típicas. O da Noruega é completamente feito de gelo. Os jogadores das "seleções" também receberam um cuidado especial para mostrarem traços de seus países nos rostos e corpos.
A trilha sonora era realmente muito boa, mas tirando a faixa da introdução, ela não chegava a empolgar. A dublagem era especial, com direito a narração das partidas. Os comentários não eram chatos, e surgiam em momentos oportunos, o que ajudava até mesmo a transmitir humor durante algumas vezes. Os jogadores, por sua vez, falam com o respectivo sotaque de suas regiões. Realmente bem pensado.
Uma tentativa válida
Harry Potter: Quidditch World Cup tem inúmeros defeitos, e como já vimos, falha em passar a experiência esperada de uma partida de Quadribol. Então, por que ele está no Blast from the Past, e não no Blast from the Trash? O que diferencia este dos jogos na infame coluna do GameBlast?
No fim, a resposta é bem simples: o game não é um projeto desleixado, feito de qualquer jeito. Ele tem suas virtudes, ainda que falhe no essencial. Precisamos lembrar que o Quadribol é um esporte fictício, que não existe de verdade. De certa forma, é bem mais difícil do que produzir um jogo sobre futebol, de basquete, ou de qualquer outro esporte do nosso cotidiano. Olhando para trás, pode-se ver que Quidditch Wolrd Cup foi um projeto bem ambicioso.
O que salva ele do Blast from the Trash são seus minigames, a parte técnica bem produzida e o multiplayer razoável. O jogo não é abominável de maneira alguma, é simplesmente mal executado em sua alma, não por desleixo, mas por não se ter tido uma ideia clara de como simular o jogo de Quadribol. Ainda assim, podemos dar crédito pela EA ter tentado algo desse tipo.
O que talvez cairia muito bem seria um remake em HD do game, mas corrigindo os defeitos da versão original. Enquanto esse dia não chega, os fãs do bruxinho quatro olhos ainda podem se divertir com ela. Harry Potter é Harry Potter. E para estragar o mundo mágico de J.K Rowling, seria necessário um grande esforço.
Revisão: Bruna Lima
Capa: Daniel Machado
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