Imagine um jogo em que você é um assassino de aluguel com um
braço mecânico e uma katana e tem como parceira de missão uma garota que parece
ter saído de alguma animação japonesa para maiores de dezoito anos. Agora some
isso a viagens até a lua, tigres de estimação, diálogos à la Pulp Fiction e
situações completamente sem sentido que, quando analisadas conjuntamente, se
completam em uma história inteligente e instigante. Isto é Killer is Dead, nova
obra de Goichi Suda, que apesar de estar longe de ser perfeita, deve agradar a
todos os que acompanham o trabalho do desenvolvedor, ou simplesmente os que
estão em busca de algo muito diferente para jogar.
Assassino de aluguel
Killer is Dead conta a história de Mondo Zappa, um peculiar
assassino de aluguel que trabalha para a Bryan Execution Firm, empresa liderada
por Bryan Roses, um brutamontes extremamente frio que não se importa
minimamente com a vida de ninguém, desde que seu bolso esteja cheio de
dinheiro. Inicialmente, o enredo é muito confuso e é muito difícil entender as
cutscenes apresentadas e até mesmo as motivações de Zappa em sua jornada.
Apenas duas coisas ficam claras no início: o personagem deve cumprir os
peculiares contratos de assassinatos que recebe e, provavelmente, algo maior
deve unir as peças de tudo o que vemos acontecer no desenrolar dos crimes.
Mondo é um dos assassinos mais estilosos já vistos nos games |
Killer is Dead conta com doze missões e o seu enredo vai
crescendo a cada uma que passa. No fim, temos um jogo que não só possui uma
história –
apesar de inicialmente confusa – bastante envolvente, como também inteligente e
bem escrita. Como é de se esperar, Suda abusa de piadas pesadas, referências à
cultura pop e textos brilhantemente sem sentido que dão um charme impar à jornada,
tornando-a única a todo instante, de tal maneira que as cutscenes são os
momentos mais esperados de todo o jogo.
O arroz com feijão do Hack`n Slash
Talvez um dos maiores problemas de Killer is Dead seja a sua
jogabilidade limitada. Contando com os mais básicos comandos de ataque e
defesa, um sistema de parry (que, quando executado com perfeição, faz com que a
ação fique em câmera lenta e permite a Mondo desferir golpes alucinados em seus
inimigos) e com a habilidade de atirar projéteis de sangue (isso mesmo, de
sangue), Killer is Dead peca pela falta de variedade nos combos e por não
oferecer mais formas de se avançar pelos estágios.
Apesar de divertido, o combate é limitado |
Durante os doze capítulos do jogo, Mondo atravessa cenários
completamente lineares, derrotando inimigos sempre da mesma maneira e coletando
sangue (que pode ser usado como munição), itens de recuperação e outros que,
quando acumulados, podem ser trocados por algumas habilidades bastante
dispensáveis. Entretanto, isso não significa que o jogo não diverte. É muito
fácil parecer estiloso em Killer is Dead, e as batalhas, mesmo que repetitivas,
são divertidas na maior parte do tempo. As lutas contra os chefes são as mais
interessantes e realmente desafiadoras. Como de praxe em criações de Suda 51,
tais personagens são bizarros, alucinados e lhe deixarão perturbado, antes,
durante e depois das longas lutas que sempre resultam em um banho de sangue e em
finalizações extremamente estilosas.
"Acho que esse aí morreu..." |
O jogo ainda conta com pequenas missões que podem ser
destravadas entre uma fase e outra, que se limitam a cumprir pequenos desafios
em cenários já visitados por Mondo. Tais missões não adicionam muito à jornada,
mas rendem alguns itens interessantes que tornam a campanha mais fácil, o que
ainda não as torna indispensáveis. Contudo, o pior ainda está por vir...
007... só que não
Um dos pontos de Killer is Dead mais alardeados durante seu
desenvolvimento gira em torno das Gigolo Missions, fases paralelas em que Mondo
tem como objetivo conquistar mulheres. Tais missões foram vendidas por Suda 51
como um momento James Bond de Zappa, que mostraria sua capacidade de conquistar
mulheres com seu charme inigualável, mas, infelizmente, elas não chegam nem
perto disso. Para jogá-las é necessário comprar presentes em uma loja e
selecionar uma das várias missões do gênero presentes na tela de seleção de fases.
As Gigolo Missions parecem uma desculpa para mostrar mulheres semi-nuas |
Durante essas fases, o jogo fica em primeira pessoa e o
jogador deve olhar para as partes íntimas das mulheres sem que elas percebam.
Com isso, uma barra de excitação aumenta e, quando cheia, o personagem pode
entregar um presente para a garota. Repita o procedimento com sucesso mais duas
ou três vezes e ela topará ir a um lugar mais reservado, e Mondo receberá um
upgrade para seu braço. Se errar, a garota simplesmente dará um tapa na cara do
personagem e a missão falhará. As Gigolo Missions não são divertidas e parecem
uma justificativa barata para satisfazer os necessitados de plantão, já que
nada adicionam ao jogo e seu conceito.
Influências de Killer 7
O primeiro grande jogo de sucesso de Suda foi Killer 7(GC/PS2). Um dos pontos que mais chamavam atenção de qualquer um nesse título
eram os gráficos extremamente estilosos, ainda que simples e estranhos, em um
primeiro momento. Killer is Dead bebe da mesma fonte do clássico cult da
geração 128 bits e apresenta um visual muito vivo, com uma paleta de cores
lavada e com cenários de modelagem simples, porém bela. O estilo também faz
excelente uso de sombras, que dão um tom noir
aos gráficos do jogo e tornam a ambientação bastante única, enigmática e, em
certos momentos, angustiante.
"O senhor poderia me informar para que lado é o hospício, unicórnio?" |
Os sons do jogo também passam uma certa angústia ao jogador,
com seus barulhos bizarros e gritos desesperadores, que trabalham em sincronia
com as músicas que misturam composições clássicas com uma pitada de rock.
Killer is Dead fica devendo apenas em seu trabalho de dublagem, já que as vozes
não combinam muito com as pessoas que vemos na tela. É possível jogar toda a
aventura com as vozes japonesas, mas nem elas se salvam do mau trabalho que a
Grasshopper Manufacture realizou na idealização das vozes dos personagens.
Despedida com estilo
Killer is Dead marca a despedida de Suda 51 nesta geração,
isso se não contarmos com a sequência de Liberation Maiden (3DS), que está
sendo desenvolvida para PlayStation 3 e que não deve aparecer por estas bandas.
O adeus não poderia ser mais estiloso. Com um jogo que parece mesclar um pouco
de cada um dos jogos já lançados pelo desenvolvedor durante os últimos anos,
Suda 51 parece estar fechando um importante ciclo de sua carreira. Resta agora
esperarmos pelo seu já anunciado novo título que virá para a nova geração: o já
intrigante Lily Bergamo.
Prós
- Ambientação incrível;
- Enredo inteligente e intrigante;
- Extremamente estiloso;
- Gráficos e sons excelentes;
- Batalhas contra chefes desafiadoras e divertidas.
Contras
- Jogabilidade limitada;
- Gigolo Missions;
- Muito curto.
Killer is Dead – PlayStation 3 – Nota 7.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Felipe Araújo
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