Em uma indústria dominada pela mesmice, é admirável quando
uma desenvolvedora decide se arriscar para trazer algo novo aos jogadores. Um
dos desenvolvedores mais bem sucedidos em tais empreitadas é Suda 51, que nos
últimos anos emplacou jogos de qualidade com temáticas peculiares nos consoles
de jogadores de todo o mundo. Contudo, nem todos que se arriscam conseguem
obter o mesmo sucesso. É o caso da Ignition Entertainment com El Shaddai:
Ascension of the Metatron, jogo de ação que prometia contar uma história
profunda e diferente com um visual de cair o queixo.
O livro de Enoch
El Shaddai é inspirado na história do livro de Enoch, um
famoso documento judeu, e conta a história de Enoch, um rapaz que deve
encontrar sete anjos decadentes para impedir que o mundo seja destruído por uma
grande enchente. Durante sua jornada, Enoch contará com a ajuda de Lucifel, um
anjo guardião de todo o planeta. Com um enredo bem fundamentado e deveras
interessante é difícil acreditar que algo pudesse dar errado. Infelizmente,
algumas decisões de design foram extremamente equivocadas, e a história não
chega nem perto de atingir seu verdadeiro potencial.
"Não sei bem o motivo, mas tenho que te matar" |
Tudo é vago em El Shaddai. As cenas são mal explicadas e
nunca há linearidade durante a execução do roteiro. Os personagens dizem coisas
profundas em momentos inoportunos e tudo parece uma grande salada de
simbolismos sem nexo. Além disso, pontos altos da ação são interrompidos por
cenas, que na maior parte das vezes também não fazem sentido e acabam quebrando
o ritmo da aventura. Como se não bastasse, a tal falta de linearidade faz com
que o jogador não sinta que está progredindo ou que no mínimo saiba o que está
fazendo.
"Eu não sei o que estou fazendo!" |
Jogabilidade problemática
A jogabilidade do título também sofre pelas más decisões
tomadas pela Ignition. Para que o lindíssimo visual da jornada pudesse ser
melhor aproveitado, o jogo não conta com um HUD, ou seja, não é possível
visualizar a energia, pontuação ou mesmo indicadores de especiais que Enoch é
capaz de executar. Isso torna o jogo bastante confuso, já que quase nada é
explicado no inicio da aventura e o jogador praticamente não tem nenhuma
informação sobre o que está se passando na tela. A única forma de saber se
Enoch está morrendo é pelo estado de sua armadura, que vai perdendo suas peças
conforme o personagem é atingido por golpes dos inimigos. A pior parte, no
entanto, é que quando terminado pela primeira vez, o jogo permite que o jogador
visualize o HUD em uma nova partida, o que faz com que qualquer um se pergunte
quem foi o gênio que decidiu tornar o jogo mais jogável apenas a partir da
segunda partida.
Apesar de limitado, o combate de El Shaddai é divertido |
Apesar deste problema, os comandos de Enoch são bastante
precisos e fáceis de serem executados, mesmo que bastante limitados. Durante os
combates, o personagem pode roubar as armas dos inimigos, mas existem apenas
três tipos delas e sem nenhuma variedade nos ataques: basicamente Enoch pode
utilizar uma espada com poder médio, mas rápida, uma muito pesada e devastadora
e um lançador de projéteis.
O jogo ainda possui algumas passagens em cenários bidimensionais |
Cada inimigo possui vantagens e desvantagens e é
necessário utilizar a arma correta para derrotá-los. Nos primeiros capítulos da
aventura, descobrir as fraquezas dos inimigos e as armas corretas para se
utilizar contra eles é algo muito divertido. No entanto, dada a pouquíssima
variedade de inimigos, a diversão é rapidamente interrompida e derrotá-los se
torna algo mecânico e sem graça. O ponto alto dos combates do título são as
lutas contra os chefes, que são desafiadoras o bastante para exigir que o
jogador se concentre e possua um timing impecável para desviar dos ataques
enquanto executa golpes precisos.
A incrível arte de El Shaddai
Se há um ponto da aventura que merece ser muito elogiado é
seu visual. El Shaddai conta com gráficos lindíssimos, com paletas de cores que
se alternam a todo o momento e tornam o visual artisticamente lindo. Em
diversas passagens, me deparei admirando os belíssimos cenários do jogo, que
mais parecem ter vindo diretamente de um sonho psicodélico do que de um jogo de
videogame, dada a quantidade de cores e elementos bizarros que compõe a
atmosfera do jogo, que é complementada por uma trilha sonora recheada de
composições épicas e empolgantes.
Os belíssimos gráficos de El Shaddai não param de surpreender |
Apesar da história não ser contada da melhor forma possível,
a dublagem e atuação dos personagens durante as cutscenes é excelente, e
mostram que a Ignition tentou, a todo custo, criar um jogo de alto nível e ao
mesmo tempo diferente de tudo o que estamos acostumados a ver por aí.
Ficou na promessa
Apesar da proposta incrivelmente promissora e do visual
arrebatador, El Shaddai: Ascension of the Metatron falha devido às péssimas
escolhas da desenvolvedora no que tange à jogabilidade do título e o mal
aproveitamento de um enredo que, além de interessante, possui material o
suficiente para ser mais profundo e melhor contado. Apesar disso, o jogo
consegue divertir em alguns momentos, com seus controles precisos e combates
desafiadores (também em alguns momentos). El Shaddai poderia ser um jogo muito
bom, mas é apenas medíocre.
Prós
- Gráficos lindíssimos;
- Trilha sonora bem trabalhada.
Contras
- História confusa e mal contada;
- Jogabilidade precisa, mas muito limitada;
- Falta de um HUD prejudica demais o andamento da aventura.
El Shaddai: Ascension of the Metatron – PlayStation 3 – Nota: 5.5
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis
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