A geração 32-64 bits foi extremamente marcante para a
história dos jogos. Em primeiro lugar, tivemos a estreia da Sony na indústria,
que trouxe consigo uma visão mais madura do que os videogames deveriam
transmitir ao público e arranhou a superfície do mundo de funções multimídia
com o PlayStation e sua capacidade de tocar CDs de música. Além disso, a
geração marcou a transição entre gráficos bidimensionais, tais como eram no
Super Nintendo, para um visual mais realista e tridimensional. A transição não
foi das mais fáceis, e as desenvolvedoras encontraram muitas dificuldades em
transportar suas franquias consagradas ao mundo dos polígonos e cenários com
livre exploração, de maneira que alguns gêneros caíram no esquecimento, por
mais que algumas empresas tentassem adaptá-los para os novos padrões de
mercado.
Um dos gêneros que mais sofreu foi o beat’em up. Consagrado
por títulos de peso como Battletoads (NES), Double Dragon (NES), Golden Axe
(Mega Drive) e Streets of Rage (Mega Drive), tal gênero fez a felicidade de
milhões de jogadores por todo o mundo com seu estilo de jogabilidade simples e
extremamente divertido, que buscava a cooperação entre players para derrotar, na porrada, hordas e mais hordas de inimigos
para que, ao final da fase, lutasse com algum chefe troglodita sedento pelo
sangue dos jogadores.
Bons tempos... |
Sentindo que os jogadores estavam ansiosos pela adaptação do
gênero ao mundo tridimensional, a Eidos Interactive, criadora de sucessos como
Tomb Raider (PS), decidiu se unir a CORE Design Limited para criar uma nova franquia
capaz de trazer de volta todo o prazer de se jogar um beat’em up. O resultado
foi Fighting Force, o primeiro – e talvez um dos únicos – jogo de pancadaria de
sucesso daquela época.
Pouco cérebro e muita porrada
Os jogos de pancadaria nunca foram muito conhecidos por
histórias envolventes e diálogos profundos e Fighting Force não se esforça em
absolutamente nada para mudar isso. A Eidos apenas criou um criminoso que conta
com um exército particular responsável por sua proteção, e um grupo de quatro
pessoas bem irritadas dispostas a destruir a vida de cada coitado que cruzar
seu caminho só para poder derrotar o vilão, que neste caso se chama Dr. Zeng
(não que isso seja importante).
Vai encarar? |
Para chegar ao pobre coitado, os personagens precisavam
passar por 25 estágios diferentes que iam desde um shopping até uma estação de
metrô, derrotando todas as pessoas que encontrassem pelo caminho. Assim como
nos clássicos do gênero, em Fighting Force era possível dar socos, chutar,
agarrar e usar um devastador golpe especial que consumia um pouco da barra de
energia do herói. A maior diferença é que os cenários passaram a ser
tridimensionais, o que possibilitava maior exploração e liberdade na
movimentação dos personagens. Para os que, como eu, estavam acostumados com
beat’em ups bidimensionais, no começo a jogabilidade causava uma certa
estranheza. Entretanto, a Eidos conseguiu implementar controles sólidos e
precisos, de maneira que, com poucos minutos de jogatina, os jogadores já
sabiam exatamente o que e como fazer.
Era possível usar até armas de fogo! |
A sacada mais legal de Fighting Force era a grande interação
que o jogador tinha com os cenários. A maior parte dos objetos encontrados
pelas fases era destrutível e podia ser utilizado como arma contra os
insistentes inimigos do jogo. Apesar dos clássicos possibilitarem ao jogador o
uso de armas encontradas pelas fases, foi com Fighting Force que se tornou
possível destruir completamente a mobília e outros objetos encontrados pelo
caminho. O nível de interação era surpreendente e fazia com que os jogadores
sempre buscassem novas maneiras, ainda mais brutais, de derrotar seus inimigos.
As limitações do mundo tridimensional
Assim como vários jogos lançados para PlayStation, os
gráficos do jogo não eram um primor de qualidade. Mesmo assim, Fighting Force
não fazia feio para os padrões da época e contava com cenários amplos e
variados, movimentação fluída e personagens bem modelados. Para os que curtiam
o gênero no Super Nintendo e no Mega Drive, o jogo soava como uma grande
homenagem aos clássicos de outrora, além de uma nova e promissora franquia que
poderia levar os jogos de pancadaria a um novo patamar. Infelizmente, não foi o
que aconteceu. Apesar de ser um título muito bom, a indústria estava focada em
outros gêneros que estavam nascendo ou se tornando mais populares com a nova
tecnologia disponível no mercado, o que fez com que Fighting Force não tivesse
o reconhecimento que merecia e com que o gênero caísse cada vez mais no
esquecimento.
Sindrome de Street Fighter...quem nunca? |
Em 1999, o jogo recebeu uma sequência que se distanciava do
gênero beat’em up e contava com uma jogabilidade mais voltada ao stealth para
apenas um jogador, o que é uma pena, já que a jogabilidade estilo arcade dos
beat’em ups acabou sendo quase que totalmente descartada daquela geração de
consoles.
Esperanças para o futuro?
Fighting Force quase recebeu um terceiro título, para
PlayStation 2. Contudo, o jogo foi cancelado antes mesmo de dar as caras. Entretanto,
estamos presenciando um retorno do gênero aos consoles caseiros, com remakes e
ports de séries de sucesso. A PSN, que possui Fighting Force em sua linha de
clássicos, possui um vasto catálogo de beat’em ups que vem crescendo cada vez
mais e tornando o gênero popular novamente. Seria esse um sinal de que os jogos
de pancadaria poderiam ter seu merecido retorno? E mais: seria essa a chance da
Eidos (agora estúdio interno da Square Enix) reviver sua franquia? Nos resta
apenas esperar e torcer...
Revisão: Alex Sandro de Mattos
Capa: Diego Migueis
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