Desde o nascimento da marca PlayStation, em 1995, a
Sony se esforça para emplacar um mascote que possa bater de frente com Mario,
Sonic e outros tantos que são muito populares no mundo dos videogames.
Apesar de ter conseguido bons resultados com Crash, na era PlayStation, a
franquia logo deixou de ser exclusividade do console, o que acabou com todas as
expectativas da empresa em consolidar o personagem como símbolo de sua
plataforma. Na geração seguinte, em parceria com suas empresas Second Party, a
Sony apresentou ao mundo uma série de novos personagens, na esperança de que
algum emplacasse. Dentre os personagens, três se destacam: Jak, Ratchet e Sly
Cooper, criados pela Naughty Dog (Uncharted), Insomniac (Resistance) e Sucker Punch
(Infamous), respectivamente. Divertidos e carismáticos, os personagens elevaram
o nível das franquias desenvolvidas por estúdios parceiros da Sony a um novo
patamar, e colaboraram para compor a fantástica biblioteca de jogos que tornou
o console o mais popular de sua época.
Dentre as três franquias, facilmente a mais
peculiar é Sly. Protagonizado por um guaxinim homônimo, o jogo de aventura fez
sua estreia em 2002 com Sly Cooper and the Thievius Raccoonus. O jogo
contava a história de Sly e seus amigos, que partem em uma jornada em busca do Thievius
Raccoonus, um livro que pertencia ao pai do guaxinim e ensinava diversas
técnicas essenciais para todo bom ladrão. A jogabilidade misturava elementos
consagrados de títulos de plataforma com stealth
no melhor estilo Splinter Cell.
Em busca do passado
Aprenda como roubar com classe! |
O pai de Sly era um dos ladrões mais respeitados da
comunidade. Grande profissional, sr. Cooper decidiu registrar todas as suas
técnicas avançadas escrevendo um livro detalhando cada uma delas. Com
informações preciosas, o material, que deveria pertencer à linhagem dos Cooper
foi roubado pelos Fiendish Five, cinco bandidões liderados por Clockwerk, um
robô com feições de coruja responsável pela morte do pai de Sly. No comando do
guaxinim, você deveria recuperar o livro, que foi dividido em cinco partes, e
de quebra derrotar toda a gangue de inimigos dando um fim aos seus planos
diabólicos.
Mas é claro que o ladrão não estava sozinho!
Durante a aventura, Sly conta com a ajuda de seus amigos Murray, um hipopótamo
com muita força física e habilidades de mecânico, e Bentley, uma tartaruga
capaz de hackear os mais protegidos sistemas de segurança. Juntos, eles eram
capazes de invadir e saquear os esconderijos dos vilões antes que eles sequer
notassem que algo estava acontecendo.
Sly e seus amigos Murray e Bentley |
Mesmo com tantas habilidades e recursos, a vida de
ladrão não é nada fácil, e Sly ainda devia ser preocupar em escapar de
Carmelita Fox, uma raposa investigadora da Interpol que desejava capturar o
guaxinim a todo custo. Galanteador, Sly consegue criar um hibrido de amor e
ódio na garota, que apesar de perseguir os ladrões por todos os cantos do
mundo, sente grande atração pelo guaxinim, que se aproveita da situação para se
livrar de todo tipo de encrenca em que se mete.
Mario encontra Splinter Cell
Sly Cooper and the Thievius Raccoonus é dividido em
cinco grandes áreas que se ramificam em pequenos estágios. Em cada um deles, o
trio de heróis deve completar um plano milimetricamente arquitetado para
avançar para a próxima área. As missões envolviam quebra-cabeças bem bolados,
coleta de itens e exigiam muita discrição por parte do jogador, estimulando-o a
adotar um estilo mais stealth em suas
partidas. Os cenários eram amplos e possuíam diversas rotas diferentes que levavam
até os objetivos. Além disso, existiam guardas por toda a parte e um simples
golpe deles era capaz de derrotar o guaxinim.
Snake, é você? |
Apesar de soar um pouco complicado, o pessoal da
Sucker Punch desenvolveu controles precisos e um leque de movimentos e truques
capazes de deixar muito encanador de cabelos em pé. Controlar Sly era um
deleite. O personagem era capaz de saltar, se pendurar em beiradas, andar sobre
fios e ainda podia executar vários outros movimentos stealth, tudo com comandos simples e acessíveis. Cada área era
finalizada com um chefe e cada um deles era derrotado de forma diferente, algo
que exigia que o jogador pensasse melhor suas ações antes de sair atacando. As
batalhas eram extremamente divertidas e, certamente, o ponto alto do jogo.
Sly se enfiava em qualquer lugar para conseguir o que queria... |
Para os que gostam de colecionáveis, as fases ainda
contavam com diversas garrafas espalhadas por todos os cantos que, quando
coletadas, liberavam tesouros que concediam novas habilidades a Sly. Apesar de
muito fáceis de serem encontradas, era muito divertido procurá-las enquanto se
avançava pela fase driblando os inteligentes inimigos que faziam a guarda do
local.
Jogo com cara de desenho animado
A primeira coisa que chamava a atenção no título
era a excelente utilização do filtro cel-shaded, que dá uma cara de desenho
animado aos jogos. Naquela época, o estilo começava a se disseminar e era um
grande atrativo dos consoles daquela geração pelo ar de novidade e modernidade
que ele passava. Mas Sly conseguiu ir além! Com personagens brilhantemente
animados e dublados, jogar o título era quase como assistir a um episódio de alguma
série de animação de qualidade. O carisma de Sly e seus amigos, o jeito
caricato dos inimigos e os diálogos, brilhantemente escritos, davam um tom de
descontração que se somava a um enorme grau de imersão, resultando em algo que
poucos jogos de plataforma conseguem reproduzir, ainda mais se considerarmos
que o gênero está, cada vez mais, caindo no esquecimento. As músicas também
contribuíam para a imersão, com composições que transmitiam um clima de comédia
e ao mesmo tempo de urgência, e até um pouco de suspense, assim como vemos em
filmes ao estilo Onze Homens e um Segredo e Uma Saída de Mestre.
"Grana, grana, grana!!" |
Franquia de sucesso
O jogo rendeu duas sequências, ainda no PlayStation
2, que expandiam ainda mais o genial universo criado pela Sucker Punch. A
trilogia foi tão bem aceita e avaliada que recebeu uma coletânea remasterizada
para o PlayStation 3 e uma sequência inteiramente nova intitulada Thieves in
Time. Contudo, Sly nunca chegou a se consolidar como um grande mascote da Sony,
mesmo com jogos excelentes em seu currículo. Talvez o erro tenha sido colocá-lo
para disputar com outras grandes franquias que estavam nascendo, de maneira que
nenhuma delas, por si só, se consolidou como a cara do console, mas sim o
conjunto de todas. Mas, para um console que possuía uma gigantesca biblioteca
de jogos de excelente qualidade, nada melhor do que não ter apenas um, mas três
mascotes com jogos excelentes.
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Stefano Genachi
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