Um dos maiores dilemas da humanidade é se há vida após a
morte. Folklore trata essa questão de uma maneira ousada e interessante.
Desenvolvido em 2007 pela Game Republic, este é um jogo de aventura com
elementos de RPG que conta com dois protagonistas bem peculiares: Ellen e
Keats. Ellen é uma bela e determinada jovem que recebe uma carta endereçada de
Doolin, uma misteriosa cidade Irlandesa. A mensagem, escrita por sua falecida
mãe, pedia para que a menina fosse a seu encontro. Já Keats é um curioso
jornalista que escreve para uma revista sobre questões sobrenaturais chamada Unknown
Realms. Sua jornada começa quando o rapaz recebe um telefonema anônimo de uma
mulher pedindo socorro. A chamada, assim como a carta recebida por Ellen, também
vinha de Doolin. Tem então início as aventuras dos nossos protagonistas, que
inevitavelmente, como a trama irá revelar, estarão fortemente conectadas pela
macabra história que assombra o local de seu destino.
Em busca de respostas
Doolin é uma cidade melancólica e erma que é conhecida por
ser supostamente o lugar no qual se encontra o portal que une o mundo dos vivos
com Netherworld, o mundo dos mortos. Ironicamente, nesse mundo tudo é vivo,
colorido e movimentado. Um dos pontos mais fortes do jogo é a história. Uma
tragédia que resultou em quatro mortes ocorreu em Doolin há 17 anos, porém
ninguém sabe ao certo o que realmente aconteceu. Os poucos que podem saber algo
preferem ocultar a história, tornando a procura por alguma resposta ainda mais
difícil. Assim, Ellen e Keats se veem obrigados a resolver o mistério
praticamente sozinhos, já que a investigação de ambos os leva ao incidente.
A história é contada com a utilização de cenas em computação
gráfica distribuídas em quadros nos quais as falas dos personagens são escritas
em balões, lembrando muito uma HQ. Infelizmente, essas passagens não possuem
dublagem, ao contrário das escassas CGs tradicionais espalhadas pelo jogo. As
vozes são excelentes e representam muito bem cada um dos personagens presentes
no game, tornando ainda mais questionável o motivo pelo qual elas não foram
utilizadas em todas as animações.
A jornada pelo mundo dos mortos
Cada capítulo conta com três momentos distintos:
primeiramente há uma investigação não muito divertida em Doolin. O jogador deve
conversar com NPCs em busca de pistas do que ocorreu na cidade há 17 anos. No
processo, é obtida uma lembrança (uma foto ou objeto pessoal) de algum
personagem morto no incidente, sendo ela a chave para entrar em Netherworld e
seguir a aventura. E é em Netherworld que o jogo brilha. No lindíssimo mundo
dos mortos, Ellen, ou Keats, deve ir à procura do falecido personagem e assim
esclarecer o que realmente ocorreu naquela fatídica noite em Doolin. A busca
não é das mais simples, pois os heróis devem enfrentar o Folklore da região -
monstros que guardam as memórias de vida dos personagens. As missões por
Netherland são o que faz o jogo realmente valer a pena, pois as fases são muito
bem elaboradas e divertidas. O capítulo termina quando o jogador retorna à
Doolin para juntar as informações coletadas em Netherworld. Esse momento
funciona como um resumo do que Ellen e Keats presenciaram, para sintetizar as
novas descobertas.
Em Doolin, o jogo é muito simples. Os gráficos são apenas
razoáveis, e suas ações se resumem a ir de um ponto a outro e conversar com
NPCs. Já em Netherworld, o jogo mostra todo seu potencial. Ao contrário da
cidade irlandesa, no mundo dos mortos tudo é muito vivo e colorido. O lugar
parece ter vida própria, além de ser lá que a jogabilidade mostra suas
qualidades. Porém, tanta beleza e detalhamento têm preço, que no caso de
Folklore se converteu em alguns slowdowns
e texturas borradas. É evidente que a real beleza do jogo reside em sua direção
artística, e não em sua parte técnica.
Temos que pegar!
No mundo dos mortos, Ellen e Keats devem enfrentar diversos
inimigos chamados Folks. A grande sacada é que cada Folk possui uma Id (ou
alma), que pode ser absorvida para fornecer novas habilidades aos personagens.
Cada Id possui características próprias: algumas atacam à distância, outras
necessitam de contato, outras servem como escudo, e assim por diante. Além
disso, as almas podem ter elementos ligados a elas, como terra, água e fogo.
Isso adiciona estratégia aos combates, de modo que cada Folk possui suas
próprias vantagens e desvantagens baseadas nesses elementos.
É possível fazer upgrades nas Ids utilizando itens obtidos
nos cenários ou em sidequests. Essas
missões paralelas aumentam a longevidade do jogo, além de serem divertidas e
recompensadoras. Com elas, o vasto mundo criado pela Game Republic é melhor
aproveitado, o que é muito bom, já que o universo do jogo é muito interessante
e pode ser explorado de diversas maneiras. Por outro lado, caso o jogador não
faça questão de aproveitar tudo que o jogo oferece, as missões podem ser ignoradas
sem afetar a história dos protagonistas.
Para obter as Ids, o jogador deve lutar contra o Folk que a
possui a fim de enfraquecê-lo. Quando enfraquecido, uma sombra vermelha surge
acima do inimigo, representando sua Id pronta para ser absorvida. Nesse
momento, deve-se apertar R1 seguido de um movimento com o Sixaxis. Tal
movimento varia de acordo com a importância e força das Ids, sendo mais simples
para almas mais básicas e mais elaborados para as avançadas. Em qualquer um dos
casos, a resposta dos controles é sempre muito precisa.
Quando capturadas, as Ids podem ser dispostas em botões de
atalho no controle para a utilização em combate. Como a alternância entre Ids é
muito constante, basta apertar L2 a qualquer momento para modificar a formação
de almas que se deseja utilizar. O sistema é bem eficiente, sendo seu único
problema a presença de um pequeno loading
toda vez que se deseja realizar o processo, o que pode incomodar devido à
frequência com que tal procedimento é necessário.
Nem tudo são flores
A parte sonora se destaca por suas melodias melancólicas,
que contribuem muito para a atmosfera do jogo. Doolin, a erma cidade palco da
aventura, é marcada por melodias tristes com violinos e piano. Já em
Netherworld as músicas são mais tensas, para acompanhar o clima de ação dos
combates que se passam em suas diversas regiões. Os efeitos sonoros são
simples, mas cumprem seu papel. O grande
problema da trilha sonora é a pequena quantidade de músicas, o que as tornas
repetitivas depois de um tempo.
Falando em repetição, eis o maior problema do jogo. Cada
capítulo deve ser jogado duas vezes (uma por Ellen e outra por Keats) para a
conclusão do jogo. Porém, os capítulos são idênticos para os dois personagens,
diferindo apenas pela variação de alguns inimigos e em uma ou outra animação.
Até mesmo o Folklore ao final de cada fase é igual, o que se revela como um
problema para a lógica da história, já que cada personagem destrói sozinho o
mesmo chefe.
O jogo dá a opção de terminar os cinco capítulos de cada
protagonista na ordem em que o jogador desejar. É possível terminar todos eles
com um personagem para só depois iniciar o jogo com o outro, assim como é
possível completá-los alternadamente. Porém, cada forma de progressão reflete
um problema do jogo. Terminando todos os capítulos com apenas um personagem
para só depois iniciar a jogatina com o segundo faz com que diversas revelações
da história sejam dadas antes da hora. Além disso, com as descobertas de apenas
um protagonista a cada final de capítulo, as informações do enredo ficam
incompletas. Por outro lado, progredir alternadamente com os personagens torna
o jogo extremamente repetitivo, pois a mesma fase será jogada duas vezes em
sequência. Sendo assim, uma forma de progressão torna o jogo confuso, e a
outra, repetitivo.
Os loadings
constantes são outro grande problema do jogo. O mapa de cada região de
Netherworld é dividido em pequenas porções, e a cada transição entre os espaços
surge uma tela de carregamento. A instalação opcional de 1,1GB minimiza o
problema, porém os loadings continuam
aparecendo e incomodando. O fator replay do jogo é alto. A campanha dura em
torno de 12 horas, mas seus diversos e gratificantes sidequests, somados às dezenas de Ids disponíveis para captura
tornam o jogo muito mais longo para os que desejam conseguir tudo. Além disso,
outras missões podem ser compradas na PSN Store, aumentando ainda mais a
longevidade do jogo. Por ser um título de 2007, o game não possui suporte a
troféus, o que é uma pena devido à sua grande quantidade de tarefas
desafiantes.
Folklore é um jogo intrigante, bonito, e acima de tudo muito
divertido. Apesar de seus pontos negativos, o conjunto da obra é satisfatório,
o que o torna recomendável a todos que apreciam uma boa história de mistério e
muita ação.
Prós
- Mundo belíssimo;
- Temática interessante;
- Enredo intrigante;
- Mecânicas criativas.
Contras
- Muito repetitivo;
- Enredo pode se tornar confuso dependendo da forma que o título for jogado;
- Loadings demorados.
Folklore - PS3 - Nota: 8.0
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Vitor Nascimento
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