A responsável pelo feito é a banda americana Anamanaguchi. Com esse nome estranho, que faz referência a grandes nomes da moda (Armani, Prada, Gucci), a banda faz parte da cena indie-rock de Nova York com uma vertente underground: o chiptune. Isso significa que eles usam hardware de consoles clássicos como sintetizadores. Parece mentira, mas a banda mistura guitarra, baixo, e bateria com Nintendinho e Game Boy, gerando uma sonoridade atual e retrô ao mesmo tempo. Isso se encaixa perfeitamente com Scott Pilgrim.
Scott Pilgrim mistura de tudo um pouco...
Falando no querido Scott, tudo começou com uma HQ canadense do autor Bryan Lee O'Malley, repleta de referências aos videogames e à cultura pop/nerd em geral. Tantas referências, unidas a uma narrativa sensacional, tornaram a obra um sucesso e ela ultrapassou a barreira das páginas para as telas do cinema e do videogame.
No cinema, a escolha foi feita por um live-action mesmo, com atores, mas sem se preocupar com um realismo mais formal, mantendo a cara de HQ e permitindo qualquer nonsense, como cair umas moedas no chão depois de Scott dar umas porradas em um adversário, que pode ser comparado a um chefão. Ver o filme e ler o quadrinho é quase como jogar um videogame, ou ao menos dá pra lembrar-se de muitos. Até em referências discretas, como Scott usar uma camiseta com a Triforce ou ter uma banda chamada Sex Bob-omb.
Seria muito decepcionante se uma obra que homenageia tanto os videogames criasse um jogo ruim. Mas nem foi o caso; Scott Pilgrim vs. the World: The Game, da Ubisoft, é a própria referência encarnada. Um side-scrolling beat ' em up para homenagear as eras 8 e 16 bit. Visual 2D e cores chapadas, em pleno PS3 e X360, é só pra quem "entende".
E pra finalizar o trabalho com um toque especial, não podia faltar uma trilha sonora com ares de chip de videogames clássicos. E é aí que entra Anamanaguchi. A banda se formou em 2004, quando alguns dos integrantes tinham apenas uns 15 anos e aprenderam em revistas e fóruns na internet a hackear um nintendinho e fazer suas próprias músicas com ele.
...e a trilha sonora não podia ser diferente
Em entrevista ao Gamasutra e no Q&A com The Creators Project, os integrantes da banda comentam um pouco sobre suas referências e a criação das músicas em si. Eles adoram o estilo "videogame-com-rock" e têm mais referências no Pop e Rock do que na Música eletrônica ou de videogames. Eles citam Weezer e The Beach Boys, por exemplo.
No vídeo acima, temos todas as músicas do álbum final de Scott Pilgrim vs The World: The Game, sendo a primeira a mais conhecida, Scott Pilgrim Anthem. Os criadores dizem que queriam escrever algo que lembrasse John Hughes (roteirista de "Esqueceram de Mim"), pelo ar de confusão e problema, mas também com diversão. E, claro, que seja sobre sair batendo em todo mundo.
No momento 12:40 do vídeo, entramos na faixa 8, Cheap Shop, que tem a intenção de ser mais calma pois é a música que toca quando o jogador sai das brigas de rua e entra em uma lojinha ou lanchonete para comprar uns power-ups, que podem ser um cachorro-quente, por exemplo. Os compositores comentam que a ideia era fazer um som super light, com ar de "falsa bossa nova" e uns trechos de Jazz.
Muitas das músicas são inspiradas no momento do game em que vão tocar ou na personalidade do boss que entra em cena. Para a música de Matthew Patel, foi pedido pela Ubisoft algo bem "Bollywood". O tema do mini-boss é uma tentativa de criar Metal, apesar do Game Boy modificar completamente a sua essência, que são as guitarras.
A banda não é só Scott Pilgrim
O jogo certamente alavancou o sucesso dos jovens músicos, mas eles já produziam trabalho próprio muito antes do jogo e continuaram fazendo o mesmo depois. No começo de maio iniciaram uma campanha no Kickstarter para produzir um CD autoral. Em um mês conseguiram mais de 250 mil dólares, sendo que o orçamento inicial era de apenas 50 mil.
Anamanaguchi usa um Nintendinho e um Game Boy para dar o tom de suas músicas, e eles funcionam como sintetizadores. Mas, pra quem não acredita que também usam instrumentos de verdade, aí vai um vídeo ao vivo dos jovens americanos:
O que achou? Quem teria coragem de abrir um console clássico e ligá-lo em suas guitarras? Deixe sua opinião nos comentários.
Revisão: Bruno Nominato
Capa: Daniel Machado
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