Thomas é um retângulo vermelho, sem face, membros ou voz (não parece um protagonista muito interessante, não é mesmo?). Dizer que ele estava sozinho é uma forma estranha, porém eficaz de explicar a situação, já que o nosso herói geométrico fica realmente sem companhia durante as primeiras fases do jogo. Estes estágios iniciais funcionam como um tutorial — apenas para ambientar o jogador, já que não há qualquer tipo de dificuldade em aprender os comandos, que se resumem a pular de um lado para o outro. Em seguida, vão aparecendo mais quadriláteros para fazer-lhe companhia e ajudá-lo em sua empreitada.
Cada novo quadrado ou retângulo que aparece para colaborar tem habilidades e tamanho diferentes. Mas o mais interessante é que eles também têm sua própria personalidade única, que nos é apresentada pela excelente narração de Danny Wallace — que recebeu um prêmio BAFTA por tal feito (na categoria "Best Performer"). Danny é um comediante britânico e usa uma entonação diferente e divertida para tratar de cada novo quadrado ou retângulo, de forma que, mesmo sem eles demonstrarem qualquer tipo de sentimento ou expressão, o jogador acaba sendo envolvido pela história de cada um e considerando-os como verdadeiros personagens do jogo, com sentimentos e desejos próprios.
Danny Wallace recebeu o BAFTA de Best Performer pelo sua narração em Thomas Was Alone |
Claire: o quadrado azul que se considera uma super heroína |
Entre na Matrix
O enredo, contado fase a fase através das histórias dos 12 quadriláteros, mostra que eles representam a inteligência artificial de um programa que, após ter tido algum tipo de problema, levou-os a terem consciência. Com o passar do tempo, Thomas procura descobrir o que está acontecendo, onde eles estão e se há uma saída para eles se libertarem. Há uma clara referência ao filme Matrix, mas existem diversas outras no jogo, tanto a filmes, como Star Wars, quanto a jogos, como Metal Gear. Uma forma de notá-las é colocando os comentários do próprio Mike Bithell (criador do jogo), que explica cada fase — basta acessar o menu de opções.A trilha sonora do game, composta pelo aclamado David Housden, também pode ser silenciada, deixando apenas os comentários de Bithell, mas eu recomendo mantê-la, pois combinam bastante com o visual minimalista apresentado pelo jogo, que lembra até os clássicos do Atari 2600, e ajuda o jogador a ficar mais envolvido com a aventura dos blocos em sua jornada pela "liberdade".
Mais plataforma do que puzzle
O jogo possui dez níveis com dez fases cada, com um objetivo bem simples: levar cada forma geométrica para o seu devido portal, que tem o mesmo formato do respectivo quadrilátero. Para isso, as habilidades únicas deles deverão ser utilizadas de forma cooperativa, como servir de escada para os que saltam mais baixo consigam alcançar locais mais altos, ou retângulos menores que conseguem passar por lugares estreitos para apertar determinado interruptor, abrindo o caminho para os blocos maiores.Os puzzles em si são muito fáceis e parecem mais passatempos do que verdadeiros desafios. Não há uma verdadeira evolução na mecânica até chegar ao último nível, no qual há a mistura de habilidades e podemos ver algo um pouco mais complexo. É uma pena, pois havia muito potencial para explorar nesse aspecto, e o jogo acaba sendo, praticamente, um game de plataforma, pois não há muito o que ser desvendado. Isso também torna o período necessário para finalizá-lo muito curto: cerca de quatro horas — parando para escutar toda a narrativa sobre os personagens. Quanto aos saltos, são relativamente precisos, tendo algumas falhas pontuais, que levarão a algumas tentativas e erros, mas nada que comprometa a jogabilidade no todo.
Cross-buy e Cross-save
Ao comprar a versão para PlayStation 3, o jogador receberá também a versão para PlayStation Vita. O mais interessante é que o jogo conta com cross-save, ou seja, é possível salvar o progresso da jogatina (procure "Cloud Sync" no menu) em um dos consoles e continuar no outro, já que não há diferenças entre ambos além da possibilidade de utilizar a tela de toque do Vita para selecionar o bloquinho a ser controlado; no PS3, a única forma de fazer essa seleção é através de R1/L1.Apesar de ser uma função muito interessante, nos diversos testes que fiz, o Cloud Sync não foi completamente eficiente, salvando apenas parte do progresso em um primeiro momento, para só depois de algumas tentativas e tempo decorrido salvar o restante. Além desse problema, a forma como os menus foram criados é bastante primitiva, sendo muita lenta e não permitindo apertar o botão bola para retornar, deixando uma experiência que deveria ser rápida e prática, muito incômoda. Principalmente quando queremos acessar uma fase específica do jogo, que fica desbloqueada após ser alcançada, ou ainda averiguar nossa posição na leaderboard, que também demora muito para atualizar.
Não parece, mas é bom
Se eu tivesse que vender Thomas Was Alone para um amigo, provavelmente teria alguma dificuldade em convencê-lo que o jogo vale a pena ser comprado. Afinal, quem são os personagens? quadrados e retângulos — sem rosto ou membros. Eles também não falam, apenas têm os seus sentimentos passados para o jogador através de um narrador. E como é o ambiente do jogo? — ele me perguntaria. — Bem minimalista, lembrando até os bons clássicos de Atari, assim como os sons do jogo. Realmente, se fosse depender de mim como vendedor, Mike Bithell iria amargar um belo de um prejuízo. Mas convenhamos: a impressão que o game passa não é mesmo das melhores. Apenas depois de jogá-lo que entendemos o quanto ele é divertido e vale o investimento.Prós
- Excelente música e narração;
- Belo design minimalista;
- Cross-buy — compre a versão de PS3 e ganhe a de PS Vita;
- Cloud Sync — as fases já desbloqueadas no PS3 estarão acessíveis também no PS Vita e vice-versa.
Contras
- Apenas puzzles fáceis;
- Pequenos problemas na mecânica de pulos;
- Menus mal feitos;
- Muito curto.
Thomas Was Alone — PS3/PS Vita — Nota: 7.0
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Daniel Machado
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