A indústria dos videogames está passando por uma séria crise
de originalidade. A grande quantidade de shooters e sequências sem inspiração
vendendo milhões de cópias, enquanto títulos de gêneros diferentes ficam à
míngua, desencoraja cada vez mais as desenvolvedoras a arriscar novas franquias.
Contudo, algumas empresas insistem e criar algo novo a cada lançamento. A Game
Republic, apesar de não ser muito conhecida, é uma dessas empresas. Responsável
pelo intrigante Folklore, em 2007, três anos mais tarde nos presenteou com
Majin and the Forsaken Kingdom, jogo de aventura que passou batido por grande
parte dos jogadores. Descubra agora os motivos pelos quais a aventura merece
ser visitada!
Tempos de Escuridão
Majin conta a história de um mundo em que a escuridão reina
sobre a paz. Aquele lugar, antes cheio de luz, cores e natureza se tornou algo
extremamente melancólico e sem vida, de forma que nem os animais que lá
habitavam conseguiam sobreviver. Muito aflitos com a situação que os cercava, os
seres, que iam de pequenos ratos a majestosos pássaros, se reuniram para pensar
em uma solução para o problema que assolava o reino. Acontece, que um ser
chamado Majin, que havia sido o guardião daquele mundo outrora, estava
aprisionado em uma fortaleza, e ele poderia ser a única esperança de salvação.
Assim, os animais decidem que um humano deveria realizar o serviço e o propõem
a um ladrão que pouco sabe de seu passado. Sem muitas opções e vendo o reino
ruir, o rapaz aceita o fardo e parte ao encontro de Majin, que nada mais é que
um ogro que mal sabe formular frases coerentes. O guardião batiza o ladrão de
Tepeu e os dois partem em busca da salvação do reino.
Influências lendárias
A estrutura de Majin muito lembra à da franquia The Legend
of Zelda. No controle de Tepeu, o jogador deverá explorar o mundo em busca de
novos itens e habilidades enquanto resolve uma série de quebra-cabeças
inteligentes e enfrenta chefes que demandam estratégias e itens específicos
para serem derrotados. O que realmente difere a mecânica dos dois jogos é a
atuação do guardião na aventura. Isso porque os dois devem cooperar para
enfrentar os desafios encontrados pelo caminho. Para isso, Tepeu pode dar
ordens a Majin que vão desde empurrar objetos muito pesados até lutar contra
hordas de inimigos que tentarão impedir o progresso dos heróis.
Falando em batalhas, eis o que o jogo oferece de mais desafiador.
A dificuldade das lutas obrigam o jogador a criar estratégias específicas para
derrotar os inimigos. Em alguns momentos, a melhor coisa a fazer é derrota-los
sorrateiramente para que todos não venham juntos atacar; em outros, basta
ordenar que Majin utilize algum objeto no cenário (como uma pedra gigante) e os
derrote com apenas um golpe. O jogo oferece as mais variadas opções para os
combates, tornando tudo muito interessante e divertido. A inteligência
artificial de Majin funciona bem na maior parte do tempo, e as pequenas falhas
não chegam a ser frustrantes, apesar de atrapalhar em alguns momentos. Ao final
de cada luta, os heróis recebem pontos de experiência que lhes concedem
melhoria em seus atributos físicos e pontos de amizade, que aumentam a sintonia
entre Tepeu e Majin e lhes fornecem novos golpes.
Cada uma das cinco áreas do jogo devem ser exploradas para
que os heróis conquistem partes de uma chave que dá acesso ao castelo do vilão
do jogo, que não é bem definido até o final da aventura. Explorá-las é um
deleite para qualquer fã de jogos de aventura com o ritmo de jogos da franquia
The Legend of Zelda. Isso porque cada área é recheada de puzzles inteligentes
que demandam o uso eficiente das habilidades dos personagens e geralmente são resolvidos
de forma simples, contudo geniais. Ao final de cada área, Tepeu e Majin se
deparam com um dos generais da trevas que comandam o reino, e aí as coisas
começam a ficar sérias: os inimigos são colossais e exigem muita paciência e
estratégia para serem derrotados. A única dica para derrota-los é que uma nova
habilidade é aprendida por Majin em cada região, de maneira que, assim como na
lendária franquia da Nintendo, ela será fundamental para derrotar o chefe e
conquistar a parte da chave.
A aventura dura cerca de quinze horas, que pode se estender
a vinte, caso o jogador resolva buscar todos os colecionáveis e conquistas do
jogo. Vale a ressalva de que o título possui dois finais diferentes, sendo que
o melhor deles só é possível se todos os itens espalhados pelo mapa sejam
coletados, o que desestimulará os menos aficionados por colecionáveis. Contudo,
boa parte deles é bastante útil e relevante: o jogador pode encontrar pelo
caminho roupas que aumentam os atributos de Tepeu e até mesmo fragmentos da memória
de Majin, o que enriquece bastante o enredo do jogo e dá mais motivação ao
jogador.
Arte de cair o queixo
Não se engane: tecnicamente Majin and the Forsaken Kingdom é
um jogo feio e cheio de serrilhados e texturas em baixa qualidade. Contudo, a
arte empregada no jogo é que faz toda a diferença. O mundo do jogo é
extremamente bem construído e cheio de locais artisticamente exuberantes. Nada
parece estar lá por acaso, tornando o reino orgânico e cheio de nuances dignas
de serem exploradas. A modelagem dos personagens beira à perfeição,
principalmente a de Majin, que passa a sensação de um ser primitivo, que apesar
de bruto, é extremamente adorável e grato a Tepeu. Os inimigos são muito
macabros e casam perfeitamente com o reino melancólico que aquele mundo se
tornou. A trilha sonora, apesar de pouco variada, possui músicas memoráveis que
trazem as mais diversas sensações ao jogador. É algo que lembra muito Ico ou
Shadow of the Colossus, jogos que conseguem transmitir diversos sentimentos só
com a trilha sonora. O trabalho de dublagem do título não é dos melhores,
exceto por Majin, que é provavelmente um dos personagens mais bem construídos
que já tive o prazer de encontrar em todos esses anos jogando videogames.
Esquecido na escuridão
Majin and the Forsaken Kingdom é um jogo conhecido por
poucos, mas é um sopro de esperança para um mercado dominado por shooters e
jogos de ação frenética e deve ser jogado por aqueles que buscam experiências
menos caóticas e mais introspectivas. Mesmo com alguns defeitos, a história e os
personagens são tão envolventes que prenderão o jogador até o fim da epopeia.
Majin é um jogo divertido, envolvente e emana luz própria, estando a frente de
muita superproduções anuais que nada mais são do que expansões genéricas umas
das outras que não trazem nenhuma inovação ao mercado. Vale ser jogado!
Prós
- História envolvente;
- Personagens carismáticos;
- Batalhas e puzzles criativos;
- Mundo crível e orgânico.
Contras
- Gráficos medianos;
- A inteligência artificial de Majin falha algumas vezes;
- Dublagem sem inspiração.
Majin and the Forsaken Kingdom – PlayStation 3 – Nota: 8.5
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Vitor Nascimento
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