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Análise: Ni no Kuni: Wrath of the White Witch (PS3)

Games de aventura geralmente têm uma meta: transportá-lo para um mundo fantástico, onde você não precise se preocupar com mais nada que não... (por Rafael Neves em 15/02/2013, via PlayStation Blast)

Games de aventura geralmente têm uma meta: transportá-lo para um mundo fantástico, onde você não precise se preocupar com mais nada que não a sua épica jornada. Pois bem, Ni no Kuni: Wrath of the White Witch é uma das mais recentes tentativas de promover esse escapismo no PS3 e tenho que dizer que trata-se de uma das mais brilhantes aventuras que pude aproveitar nos últimos anos. Ao contrário da versão para DS, essa não apenas finalmente chegou ao Ocidente como também traz toda uma nova mecânica de RPG, uma direção de arte exemplar, um enredo repleto de surpresas e uma jornada simplesmente épica. Ponha essa música para tocar e vamos à Análise!

Com simples poderes vêm gigantescas responsabilidades

Ni no Kuni tem como protagonista Oliver, um jovem que vivia uma vidinha pacata numa pequena cidade americana com sua mãe e seus amigos. Sua vida seria a de qualquer outro garoto se um traumático incidente não tivesse mudado para sempre seu destino. Bem, esse tal "traumático incidente" é o gatilho para toda a aventura que virá a seguir, mas é algo tão inesperado e emocionante que não ousarei revelar. Enfim, Oliver desperta a "fada" Drippy (que de fada só tem a tagarelice de Navi), que serve como guia para o garoto. Juntos, eles terão de desbravar um mundo de fantasia que só pode ser salvo pelo coração puro de Oliver, além de ter lá uma chance de salvar alguém muito especial para o garoto. E assim começa a jornada de Oliver e Drippy pelo "outro mundo", ou "Ni no Kuni" para quem fala japonês.

Um mundo mágico e fantástico
a ser explorado
É claro que tudo isso é apenas a premissa do jogo. O enredo mesmo esconde-se nesse mundo paralelo, no qual Oliver terá de explorar diversas regiões, caminhar por várias cidades, conhecer personagens excêntricos e resolver uma imensidão de problemas. Mesmo com todos os clichês de um JRPG, Ni no Kuni surpreende em muitos momentos e traz um universo cativante. Prepare-se para percorrer grandes planícies, enfrentar desertos escaldantes, nevascas intensas, cidades colossais e até o interior do corpo de criaturas. E tudo flui muito bem, mesmo quando você precisa interromper a aventura para resolver alguns problemas emocionais dos personagens ou para voltar ao mundo real para descobrir alguma pista de como resolver um problema correspondente no mundo alternativo.

Uma espada na mão e uma tarefa na cabeça

Como em todo RPG, prepare-se para explorar cidades, acumular itens, resolver sidequests e, é claro, batalhar! E talvez esse último ponto seja a grande diferença entre as versões de DS e PS3. Se, no portátil de duas telas da Nintendo, os combates eram em turnos; no console da Sony, os confrontos são em tempo real. Em um ringue tridimensional, você pode movimentar livremente seu personagem e selecionar comandos como atacar, defender, utilizar magias e outras habilidades próprias de cada lutador. O tempo de recarga das ações funciona como os turnos da versão de DS, equilibrando as batalhas. E vários elementos de jogo estão inclusos nas mecânicas de batalha, como bônus para defesas e esquivas certeiras, movimentos especiais, táticas de batalha, esquema de fraquezas e vantagens e muito mais. Apesar da quantidade de coisas para se preocupar, cada novo elemento é liberado aos poucos e bem explicado.



Mas o elemento de jogo mais interessante é, sem sombra de dúvidas, a utilização dos familiars. Tratam-se das criaturas que habitam esse mundo alternativo. Elas podem ser domesticadas, treinadas e usadas nos combates. O esquema lembra a série Pokémon, e a variedade e complexidade de cada criatura do jogo dá vazão a um leque de estratégias. Não se surpreenda ao passar a maior parte do jogo colecionando familiars, estudando suas habilidades e treinando-os nos combates. A Level-5 cuidou para que jogador nenhum fique confuso, afinal, é até possível ativar uma "estrela guia" que, a custo de deixar o jogo excessivamente linear, indica a localização de todos os objetivos do game.
Charmander, eu escolho voc... Ops!
Ainda assim, lutar com três personagens que podem carregar até três familiars pode ser algo confuso no campo de batalha - mesmo que cada personagem só possa usar um familiar por vez e você só possa controlar um deles. É necessário configurar as funções que os lutadores farão nas batalhas quando você não os estiver controlando, mas é fato que essa inteligência artificial falha algumas vezes. A ação de curar e defender é imediata, mas, às vezes, seus companheiros tentarão atacar manualmente em vez de usar um familiar mais forte ou gastarão toneladas de MP sem necessidade. É comum também, quando os combatentes estiverem muito próximos, a locomoção se tornar um problema, fazendo das batalhas um pouco mais complicadas do que deveriam ser. Mas não se engane: os combates em Ni no Kuni não são nem um pouco desagradáveis. Longe disso, as batalhas são viciantes e muito divertidas - sobretudo contra chefes.

Um mundo fantástico... e lindo

Ni no Kuni é mais um dos games a basear-se no estilo gráfico em cel-shading, e o resultado aqui é um dos mais ilustres. Praticamente todo o visual da versão de DS foi refeito para o PS3, culimando em um mundo imenso e muito bonito. Cada um dos vários cenários do jogo é muito bem reproduzido e diverso, assim como seus personagens. As animações e os efeitos visuais também não decepcionam - e tudo sem slowdowns. Mesmo depois de tantos games elevando o padrão gráfico do PS3, Ni no Kuni consegue ser um colírio para os olhos por aliar gráficos muito bem trabalhados a uma direção de arte excepcional. Comparações com "A Viagem de Chihiro" (2001) são inevitáveis, o que só serve para demonstrar o quão maravilhoso é o universo de Ni no Kuni.

A trilha sonora é outro ponto forte do título. A Studio Ghibli (empresa de animação japonesa) trouxe uma seleção de canções orquestradas tocantes que dá vida a cada um dos vários cenários do mundo alternativo e ainda casa perfeitamente com cada uma das situações enfrentadas por Oliver e seus companheiros. Ni no Kuni é aquele tipo de jogo que não só merece ser jogado, mas também ouvido. As diversas cutscenes (que alternam entre os visuais 3D do game e cenas belíssimas em anime) trazem uma riqueza cinematográfica de primeira por conta dessa excelente junção entre visuais exorbitantes e melodias incríveis. Mais uma contribuição do Studio Ghibli. Essas cenas só pecam na sincronia entre áudio e vídeo. E não se trata apenas de lábios não sincronizados com as falas, mas também de expressões faciais dos personagens que por vezes destoam da dublagem em inglês. Sim, é possível optar por falas em japonês, como o game foi originalmente concebido, mas a localização não atentou para esse pequeno problema de sincronia.



Que a jornada comece!

Ni no Kuni é simplesmente fantástico. A complexa e funcional mecânica de RPG, a direção de arte fenomenal, os excêntricos personagens e o enredo emocionante farão você abandonar qualquer anseio de voltar para sua vidinha normal. E, mesmo que queira, não será uma tarefa fácil, pois Ni no Kuni está longe de ser uma aventura curta. A jornada dura muitas horas, e a vontade de explorar as habilidades dos familiars e realizar as dezenas de sidequests aumentam ainda mais a longevidade do título. O jogo oferece conteúdo vasto, sem apelar para DLCs. A dificuldade também é outro fator que aumenta a duração do jogo. Não trata-se de um RPG infernal como Dark Souls, mas, em vários momentos, será preciso tirar um tempo para aumentar o nível dos lutadores, comprar equipamentos melhores, criar novas armas no sistema de alquimia ou estudar as habilidades especiais dos familiars.
Aquele suor que escorre do olho... *snif*
Em vez de apelar para multiplayer online, conteúdo extra ou mesmo dramas não convincentes, Ni no Kuni é a prova viva de que o gênero dos RPGs continua firme e forte. Adequando-se aos novos padrões dos videogames, mas sem perder a essência, Ni no Kuni é uma pérola para os dias atuais. Uma aventura à lá Dragon Quest, com um quê de Pokémon, o tempero de um Tales e o carisma de um Mother, mas seguindo seu próprio caminho, Ni no Kuni deve ser jogado por todos os fãs do gênero.

Prós

  • Mecânica de batalha em tempo real complexa e divertida;
  • Enredo profundo surpreende e emociona;
  • Visuais lindos dão margem a cenários e personagens incríveis;
  • Trilha sonora inteiramente orquestrada traz belas composições;
  • Dezenas de familiars para se domesticar e treinar;
  • Jornada longa e recheada de sidequests.

Contras

  • Falhas na inteligência artificial e na locomoção dos lutadores podem complicar as batalhas;
  • Problemas na sincronização entre áudio e vídeo nas cutscenes.
Ni no Kuni: Wrath of the White Witch - PlayStation 3 - Nota: 9,5
Revisão: Rafael Becker




é quadrinista e estudante de medicina da UFBA. Jogos fizeram parte dessa vida desde os seus primeiros anos, embalando muitos dos mais fortes laços de amizade e histórias de vida. E esse legado desembocam nas matérias que escreve aqui no Blast e em sua HQ, The Legend of Link.

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