Há poucas semanas o jogo Resident Evil 6 chegou às lojas, e já é um dos jogos mais vendidos do ano. Cercado de polêmica graças à reviews bem divididos, o jogo parece dividir também a opinião dos fãs, já que alguns não andam nada satisfeitos com o clima de ação que surgiu em Resident Evil 4, para PlayStation 2, e que chegou a níveis alarmantes em Resident Evil 5, para PlayStation 3. Mas será que os sustos realmente sumiram de vez? Eu, Thomas Schulze, e meu amigo e parceiro Gabriel Vlatkovic, cujas opiniões aparecerão como caixas de citação azuis no texto, nos unimos para discutir as mudanças de rumo da série. O resultado você acompanha a seguir.
Fanboys e internet: uma combinação mortal
Thomas, você está gostando de Resident Evil 6?
Nossa Gabriel, eu sou suspeito para falar, porque gosto muito da série Resident Evil, desde os primeiros jogos com aquele climão de Alone in the Dark, até os mais novos cheios de ação eletrizante nos moldes de Resident Evil 4. Um dos meus jogos preferidos de todos os tempos. Nesse sentido, eu não tenho absolutamente nada a reclamar de Resident Evil 6, já que ele entrega tudo que eu espero de um bom jogo. Mas por que pergunta isso, meu caro?
Não sei se você viu, mas a internet anda recheada de polêmica sobre as mudanças de rumo da série. Muitos fanboys mais esquentadinhos estão perdendo a cabeça e falando que Resident Evil 6 é um dos piores jogos de todos os tempos, só porque prometeu uma volta as origens, aos puzzles e ao climão de terror, mas parece ter mantido a fórmula de jogos como RE4 e RE5.
Isso lá é verdade. De fato, o jogo não chega perto do clima das primeiras edições da série. Mas, na minha concepção, nada no mundo justifica essa reação exacerbada dos fanboys mais intensos. Me lembra o ridículo chilique que a internet deu com o final de Mass Effect 3, que culminou na risível iniciativa de um novo final gerado por demanda popular, e na mais patética ainda demissão de alguns funcionários da BioWare graças à polêmica. Agora tem gente chegando ao ponto de fazer análises de Resident Evil 6 dando notas como 3,0 ou 4,0, notas que se dá para jogos quebrados ou incompletos, só porque não gostam dos rumos que a Capcom deu à série. Onde foi parar o senso crítico?
Você está certíssimo, Thomas. Uma coisa é as pessoas estarem insatisfeitas com decisões criativas. Isso sempre aconteceu e sempre vai acontecer, produtos culturais têm por natureza esse potencial para polarizar opiniões, até mesmo pela arte ser algo subjetivo. O que não dá é para deixar seu gosto pessoal nublar um julgamento justo. Só porque você sente saudades de quando os jogos eram mais simples, uma época em que Resident Evil tinha apenas um mínimo de ação até mesmo por limitação técnicas, não é justo iniciar um movimento na internet crucificando os novos jogos.
Survival horror, uma relíquia dos computadores
Certamente. Aliás, esse é um ótimo ponto. Sobre as limitações técnicas, quero dizer. Na minha concepção, esses novos rumos que Resident Evil tomou são apenas uma progressão natural da tecnologia. Quer dizer, se você olhar em volta, salvo raríssimas exceções, o gênero survival horror está morto e enterrado. E há boas razões para isso! Será mesmo que ainda há espaço para ele no mercado, num mundo repleto de jogadores sedentos por ação, jogadores que esperam que os videogames sejam cada vez mais parecidos com o cinema? Será mesmo que ainda dá para lançar numa boa um jogo nos moldes dos antigos jogos de terror para computador? Imagina se Resident Evil 7 voltasse a ter meia dúzia de inimigos na aventura toda e uma câmera fixa estilo Alone in the Dark, o primeiro, aquele todo poligonal e quadradão. Será que os jogadores que defendem uma volta às origens gostariam disso?
Eu acho que o público para este tipo de jogo hoje em dia é um nicho cada vez menor de jogadores. Infelizmente os recursos de nenhuma empresa são ilimitados, então elas devem se voltar a gêneros que apelem para uma maior quantidade de pessoas. Eu acho louvável o que a Capcom tentou criar com Resident Evil 6, pois todas as campanhas oferecem algo diferente entre si. A do Leon, em sua maior parte, é uma excelente homenagem aos jogos antigos da franquia, enquanto a do Chris leva o outro extremo ao máximo! A desenvolvedora definitivamente quis agradar a todos de alguma forma. É uma pena que poucos reconheçam isso.
O zumbi invisível que regula o mercado
Realmente o público para esses jogos está diminuindo cada vez mais, e não tem como uma empresa gastar milhões em um game que não gere receitas nem para cobrir os gastos realizados com sua produção. Mas eu não sei, esse novo caminho que a série está tomando não chega a deixar o fator medo completamente de lado, só tenta explorar outra forma de assustar os jogadores. Não sei se me fiz entender, mas penso o seguinte: nos primeiros jogos da série, a desolação, o silêncio e a escassez de recursos deixavam os jogadores apavorados com o que encontrariam na próxima sala. Nos jogos novos você não tem essa sensação, mas aquele clima de um monte de inimigos virem direto em nossa direção o tempo todo cria um clima de tensão que não existia nos jogos antigos. Eu ficava desesperado na vila dos Ganados em Resident Evil 4. Aquela música angustiante e aquelas pessoas falando em espanhol vindo de todos os lados me deixavam apavorado!
Nem me fale desses momentos! A tensão que a Capcom criou com esse novo direcionamento da série é espetacular. Está certo, não causam aquele medo que as primeiras entradas da série causavam, mas ainda assim trazem uma forte sensação de tensão. Afinal, você está sozinho, em um vilarejo cheio de pessoas loucas querendo enfiar uma enxada na sua cara. Pra mim, essa situação já é bastante pavorosa. Esse é o grande problema dos jogadores nostálgicos de hoje em dia. Tudo bem, eu jogo videogames há mais de vinte anos e sinto falta de muitas coisas que hoje em dia nem sonham em fazer sucesso novamente. Mas por outro lado, as desenvolvedoras estão criando jogos cada vez mais diferentes e interessantes que não seriam possíveis em um PlayStation 1, por exemplo. E essa tendência não é algo exclusivo da Capcom, está acontecendo com a própria Sony e em boa parte das third parties. A galera precisa perceber que o mercado e o público mudaram e que é muito difícil para a maioria das empresas se manterem fiéis às suas fórmulas utilizadas há mais de dez anos atrás.
Falou tudo, Gabriel! Acho que o público deve deixar a nostalgia em excesso de lado e aprender a apreciar o que há de melhor atualmente nos videogames. Afinal, essa geração está no seu auge e jogos incríveis são lançados toda hora. Falando nisso, acho que vou terminar a campanha do Chris... Só falta um capítulo! Tá afim?
Bora lá! Estou querendo saber se vou conseguir estraçalhar a Ada já faz um tempinho!
Colaboração: Gabriel Vlatkovic
Revisão: José Carlos Alves
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