O grande atrativo de Silent Hill sempre foi a ideia de ficar preso em lugar macabro, assombrado muitas vezes pelos seus próprios pesadelos e demônios interiores. Se ficar preso em uma cidade fantasma já era aterrorizante, imagine se fosse dentro do próprio apartamento, sendo assombrado por estranhas aparições. Essa é a ideia básica de Silent Hill 4: The Room, que se passa em Ashfield, uma cidade vizinha da sinistra Silent Hill, e talvez por conta disso tenha seus próprios problemas com coisas inexplicáveis.
Prisão Domiciliar
O jogo começa com o protagonista Henry Townshend acordando em seu apartamento e descobrindo que está preso lá dentro. Estranhamente a porta está trancada por dentro, com várias correntes e cadeados, mas não foi Henry quem fez isso. O protagonista fica nesta situação durante cinco dias, tendo sempre muitos pesadelos estranhos, até que um buraco surge inexplicavelmente na parede do seu banheiro. Vendo este buraco como sua única oportunidade de escapar do quarto, Henry passa por ele e aí o pesadelo começa de verdade.
Ao chegar do outro lado, tudo parece um sonho, a começar pelo cenário: um metrô, que seria impossível de ser alcançado através de um buraco num simples banheiro. Durante sua jornada, Henry sempre encontra pessoas que acabam mortas e, logo em seguida, ele escuta no rádio as notícias dizendo que elas já estavam mortas no mundo real. Todas as mortes fazem parte de um ritual macabro realizado pelo serial killer Walter Sullivan, que cresceu em um orfanato em Silent Hill administrado pela Ordem, a grande antagonista dos outros jogos da série.
O ritual realizado por Walter consiste em 21 mortes, das quais metade ele fez depois de morto. Após matar cerca de 10 pessoas, o cara foi preso e acabou se suicidando na prisão, mas como parte do ritual já estava feito, ele acabou adquirindo certos poderes sobrenaturais que o permitiram continuar com a matança. A 21ª morte seria a de Henry, que vive no apartamento 302, local onde Walter nasceu e onde está escondido o cadáver dele atrás de uma parede.
Uma curiosidade interessante é que Sullivan já havia sido mencionado em Silent Hill 2, em um jornal encontrado pelo protagonista James Sunderland, no qual dizia que ele havia se matado. Outra ligação com o segundo jogo da série é que o zelador do prédio onde Henry mora se chama Frank Sunderland, supostamente pai de James. Um dos arquivos encontrados por Henry diz que o filho e a nora de Frank desapareceram em Silent Hill anos atrás, deixando claro que o final ruim de SH2 é o oficial na cronologia da série.
Convivendo com assombrações
A grande novidade trazida pelo quarto capítulo da série foi a visão em primeira pessoa, que era utilizada sempre que estávamos no apartamento de Henry. Essa mudança trouxe ainda mais imersão ao game, uma vez que nos passava uma sensação realmente claustrofóbica de estar preso em um lugar pequeno. Além disso, o quarto foi usado de maneria muito inteligente pelos produtores, nos dando uma sensação de segurança no começo, para depois jogar tudo isso pra escanteio e colocar assombrações dentro do nosso “querido” apartamento.
E por falar em assombrações, Silent Hill 4 trouxe para a série uma nova criatura a ser enfrentada: os fantasmas típicos de filmes de terror japonês, com seus longos e molhados cabelos negros. Essas criaturas possuem a capacidade de perseguir o jogador pelos cenários, tela após tela, e não podem ser mortas por armas comuns. A única forma de “se livrar” dos fantasmas é cravando uma espada especial (Sword of Obedience) no corpo deles, mas o jogador não poderá mais usá-la em algum outro. A boa notícia é que existem outras formas de se livrar dessas criaturas temporariamente, como utilizar balas de prata ou itens especiais que os afastam do jogador.
Os cenários, como de costume, estão muito bem trabalhados e assustadores. A grande novidade é que, por não se passar em Silent Hill, não temos aquela neblina macabra o tempo inteiro. O apartamento de Henry, por exemplo, nos deixa em um clima de apreensão constante quando começa a ser assombrado por espíritos. E quando finalmente o personagem consegue sair lá de dentro é impossível não sentir um certo alívio. Até o momento que percebemos que ele saiu para encarar uma realidade muito pior. Como apenas algumas partes se passam na cidade de Silent Hill, o jogo permite cenários diferenciados do restante da série, muitos com um visual que remetem a sonhos. Em um deles pode ser vista até mesmo uma cabeça gigante.
Silent Hill 4: The Room foi muito criticado por alguns fãs mais xiitas da série na época do lançamento, mas eu o considero um dos melhores capítulos da saga. Além de fazer um pequeno crossover com o segundo game, ele conseguiu passar todo o clima claustrofóbico de ficar trancado em um lugar. Sem contar que ele trouxe um novo vigor à série com a introdução dos fantasmas, que deixou o jogo com um clima de filme de terror japonês. Sem dúvidas um dos grandes jogos da era PlayStation 2.
Revisão: Alberto Canen
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