No ano 2000, época em que o consagrado tijolão cinza já perdia suas forças e esperava pacientemente o seu sucessor, eis que surge um RPG surpreendente, mostrando a todos que o gênero se encerraria com grande classe no console. É claro que estou falando de The Legend of Dragoon, um grande jogo da Sony que marcou gerações. Ainda hoje ele é objeto de debates sobre sua importância (ou não) para o gênero. Mas afinal, o que o fez um clássico? Quais os principais elementos que o consagraram para uma multidão de fãs? Acompanhe nossa matéria e reflita com a gente.
E quem não ficou de boca aberta?
Lembro como se fosse hoje, era uma época diferente aquela. Nem todos podiam se dar ao luxo de acompanhar as principais notícias do mundo dos games pela internet. A solução? Assinar as clássicas revistas especializadas, é claro. Fiquei feliz igual criança quando ganha bicicleta ao descobrir que minha mãe havia me dado uma assinatura da Super Game Power de presente. Tenho muito a agradecer aquela revista, foi através dela que tive contato com os principais jogos que marcaram minha infância.
De Digimon a Breath of Fire, o fato é que foi por intermédio dela que um belo dia, folheando o número novo que havia chegado, me deparei com um jogo que chamou a minha atenção só pelo nome: The Legend of Dragoon. Aficionado por dragões como sou, logo me interessei. O artigo tinha apenas uma página, mas foi o suficiente para me conquistar. E foi incrível o modo como tudo deu certo naquela semana, pois, dois dias depois, eu encontro o jogo em uma loja.
Aposto que muitos, assim como eu, assistiram boquiabertos a apresentação que serve de prólogo para a história principal do jogo. Na época somente os Final Fantasy dispunham de gráficos desse nível. Procurando competir com isso, a Sony decidiu arriscar e contratou uma equipe gigante de 100 pessoas para produzir um produto com 4 CDs, algo considerado enorme para a época.
Com belos gráficos, história longa e consistente e um sistema de batalha inovador, não deu outra, o game caiu nas graças do público e entrou para o meu “Hall da Fama”.
Guerras, dragões e tudo o que uma boa história precisa
Há muito tempo atrás, a grande divindade Soa plantou uma semente no Endless e gerou a Árvore Divina com seus 108 frutos. Cada um deles caiu sobre a Terra e deu origem a uma espécie. Uma dessas, os mágicos voadores Winglies, julgavam-se mais fortes e melhores que as outras raças e começaram a exterminá-las, dentre elas os humanos, que foram escravizados.
Mas, eles se revoltaram e iniciaram uma guerra com proporções épicas. A Campanha dos Dragões, composta por guerreiros que haviam obtido os poderes dessas criaturas fantásticas e ficaram conhecidos como Dragoons, consegue combater a ameaça e libertar o mundo da tirania dos Winglies. Mas como tudo o que é bom dura pouco, 10.000 anos se passaram e o mundo novamente precisa dos lendários Dragoons, pois uma nova guerra está para começar.
Essa é a mitologia da série, que nos ajuda a compreender mais pra frente a história de Dart, o herói do jogo. Quando criança, ele teve seus pais mortos e sua vila destruída por uma criatura conhecida apenas como Black Monster. Criado em outra vila, Dart se tornou um guerreiro e jurou vingar seus pais, mas cinco anos após ter início sua jornada, ele acaba descobrindo uma guerra civil entre os reinos de Basil e Sandora. Preocupado, volta para sua vila apenas para encontrá-la destruída e saber que sua amiga de infância Shana havia sido raptada.
Esse é o ponto de partida da história. Após o encontro de Dart com Shana e o cavaleiro Lavitz, a trama ganha proporções maiores e vai se desenvolvendo de forma coesa e interessante. É realmente louvável a capacidade do RPG em fazer com que você tenha empatia pelos personagens e suas variadas motivações.
E são muitos ao longo da história, cada um com características e habilidades distintas. Quem não se lembra da misteriosa guerreira Rose? Ela salva a pele de Dart duas vezes e o ensina sobre seus poderes ocultos. Há também o rei Albert, que surge após o comovente desfecho da história de Lavitz (não me conformo até hoje). Enfim, são personagens para lá de bacanas que ajudam a tornar o plano de fundo da história muito mais rico.
E o que dizer dos vilões? Todos são muito bem apresentados e possuem motivações tão válidas quanto os mocinhos. Ainda me lembro da primeira vez que vi o Lloyd e pensei: “nossa, que personagem massa, tomara que seja possível jogar com ele”. Mero engano de alguém que teria gratas surpresas ao final da história. A questão é que o jogo apresenta um farto material no que diz respeito aos seus personagens, quesito mais do que necessário em um bom RPG.
A ousadia dos Additions
Acredito que a maior contribuição do jogo tenha sido no sistema de combate. Cerca de 98% dos RPGs possuíam o clássico sistema de escolher o golpe e esperar outro turno até chegar a sua vez de novo. The Legend of Dragoon procurou inovar e trazer uma mecânica onde o poder dos seus golpes depende de você.
Os Additions são ataques especiais que são executados apertando o botão X um certo número de vezes e em determinados momentos. Outro ponto importante é que a cada 20 vezes que você o utiliza, ele sobe de nível e fica mais forte (chegando ao nível máximo após ser utilizada 80 vezes). Nem é preciso dizer que, conforme o seu personagem avança de nível, novos combos vão aparecendo.
Os combos são muito interessantes, mas é a partir do momento em que o seu personagem recebe um dos Dragoon Spirits que o combate fica realmente divertido. Ao executar perfeitamente os Additions, você ganha SP (Spirit Points) e quando encher a barra poderá se transformar em um Cavaleiro Dragão. Nesse momento, os seus ataques ficam mais fortes e novos combos são destravados, assim como magias especiais.
Assim como o inesquecível The Legend of Legaia, acredito que The Legend of Dragoon tenha sido o grande divisor de águas para a época no que diz respeito às melhorias nos combates em turno. Há dez anos atrás a Sony nos mostrou que é preciso inovar e principalmente arriscar para que os jogos possam se desenvolver e evoluir. Escrevendo essa matéria agora me veio à mente a questão de que a gigante japonesa deu o mesmo passo que a Capcom com o seu Dragon’s Dogma e mostrou que é preciso romper com o marasmo que ronda até mesmo os RPGs.
Como assim “sem alma”?
O game foi tão bem recebido pelos jogadores que despontou até mesmo na terra do sol nascente. Nunca antes na história dos games um RPG ocidental havia feito tanto sucesso por lá como o fez The Legend of Dragoon. O game tinha no pacote tudo o que os fãs de olhos puxados gostam.
Os gráficos eram muito bem feitos para a época, com uma boa dosagem de cores e iluminação. Os cenários eram diversos, além de muito bem elaborados e construídos. Além das cenas espetaculares em CG, o jogo ainda trazia diálogos com vozes, inclusive nas batalhas, algo que nem mesmo os jogos da Square possuíam no período. Isso sem falar em uma trilha sonora muito bem feita, que só favorece a imersão durante a aventura, destaque para as músicas emotivas que consegue, de forma louvável, reproduzir determinado evento.
É óbvio que o jogo possui defeitos, assim como qualquer outro. Um deles é o fato dos encontros aleatórios serem extremamente irritantes às vezes. Os críticos aceitaram o game de forma muito positiva, com exceção de uns e outros que torceram o nariz e chegaram ao ponto de publicar: “Ele possui quatro discos de pura beleza gráfica, mas carrega consigo a alma de um RPG?”.
Esse é um julgamento bastante infundado para mim, mas também não esperava menos de alguém que, nos primeiros parágrafos, já diz que está cansado do gênero, o que me leva a questionar o porquê analisá-lo então. O fato é que a consistência narrativa de Legend of Dragoon é tão boa quanto a dos games da Square. É óbvio que gosto é uma questão puramente pessoal, mas se você é fã de RPGs e acompanhou os lançamentos do período, era impossível não se apaixonar pelo game.
Nostalgia renovada
E para fechar com chave de ouro, o game está disponível na PSN americana. Sim, meus amigos, você pode comprá-lo e matar a saudade no seu PS3. Aproveitem que está custando apenas 6 Obamas.
Enfim, The Legend of Dragoon é um jogo que marcou minha infância, e acredito que tenha marcado a de muitos outros também. Com uma ambição para lá de ousada, a Sony nos brinda com uma aventura digna dos clássicos RPGs da era de ouro do PlayStation.
Fãs de Legend of Dragoon: Prometo a vocês que se um dia eu ficar milionário, eu mesmo vou providenciar para que a Sony ressuscite a continuação desse belo game. Afinal, a esperança é a última que morre, não é mesmo?
Revisão: Catarine Aurora
Ótima sua matéria, está de parabéns. E eu sempre tive a mesma vontade, se um dia ficar rico o suficiente, eu dou um jeito de reviver esse jogo xD.
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