A franquia Ninja Gaiden, da desenvolvedora Team Ninja, apareceu pela primeira vez no saudoso NES, e, de lá para cá, angariou uma legião de fãs aficionados pela dificuldade extrema de seus jogos e brutalidade desmedida - com cabeças e membros sendo decepados com frequência. Na era moderna, essa fórmula fez muito sucesso e o responsável por isso é Tomonobu Itagaki, que vinha dirigindo os jogos mais novos. Ninja Gaiden 3 é o primeiro game da desenvolvedora após a sua saída e já veio com muitas mudanças, dando um rumo completamente diferente à franquia. Com um apelo mais comercial, a esperança é a de conseguir novos fãs sem perder os antigos, o que convenhamos, é uma tarefa das mais complexas.
A história não é muito interessante e busca passar um lado mais humano de Ryu Hayabusa, o protagonista da série. O aspecto mais sombrio da franquia foi deixado de lado e, agora, sem seres sobrenaturais, Ryu deve enfrentar um alquimista terrorista que ameaça o mundo com seus desejos mirabolantes de uma nova ordem mundial. Ao mesmo tempo, o ninja mostra afeição por uma garotinha (filha da ajudante de Ryu) e demonstra que não é apenas uma máquina de matar, até mesmo retirando a máscara e mostrando o rosto.
A Team Ninja fez um ótimo trabalho na criação dos personagens principais e procurou apresentar um aspecto mais cinematográfico no jogo, sendo bastante comum aparecerem cutscenes entre uma luta e outra. Durante os combates, movimentos precisos são apresentados e também aparecem os Quick Time Events (QTE), que, dependendo do tipo de golpe aplicado, mostrará um botão diferente para finalizar o inimigo de forma brutal, em uma curta cena.
Qualquer um que saiba apertar um botão pode ser um ninja
O aspecto que mais deixará os fãs da franquia decepcionados (ou irritados) com esse novo Ninja Gaiden é o sistema de combate. Nos jogos anteriores, era muito mais difícil de se avançar durante as fases e não bastava esmagar os botões para passar pelos inimigos. Era necessário usar mais táticas e ser cuidadoso. Agora, entretanto, basta apertar incessantemente o botão de ataque fraco (quadrado) para cortar os inimigos com facilidade. Eventualmente, será necessário usar o ataque mais forte (triângulo) para quebrar a defesa de algum inimigo ou aplicar um combo diferente. A adição de um arco especial, a partir da segunda fase, cria um novo diferencial na jogatina que é acertar os inimigos distantes enquanto fatia os mais próximos. Mas esse extra não adiciona muito na dificuldade, pois a mira é automática e muito simples de utilizar.
Mesmo que os seguidores da série fiquem chateados com a mudança nas lutas, não podem negar que a jogatina não era para todo mundo e que, dessa forma, a franquia pode angariar mais adeptos. Talvez no próximo Ninja Gaiden os produtores alcancem um meio-termo adequado, que não seja tão difícil e que não canse os dedos de tanto apertar o mesmo botão.
Outro ponto a se questionar é a falta de evolução e variedade das armas. Ryu apenas se vale da espada, do arco e de um poderoso Nippo (magia), apesar de atualizações terem disponibilizado a opção de garras e foice (estilo Dante's Inferno) - Falcon's Talons e Eclipse Scythe, respectivamente. Ele também não aprende novos golpes durante o jogo todo, o que significa que os primeiros minutos de jogo já vão mostrar tudo o que há de possibilidade na jogatina.
Pintando a tela de vermelho
Aqueles que jogaram os Ninja Gaiden anteriores e gostavam de decepar membros do corpo e cabeças - no jogo (!) - vão se decepcionar nesse aspecto. Os produtores do game tiraram completamente essa possibilidade. Segundo eles, a intenção é que o jogador realmente sinta como é matar uma pessoa com a espada, o que não aconteceria se os membros fossem separados dos corpos o tempo todo, pois eles passariam a ser mais como brinquedos do que humanos. Além disso, eles acham que as pessoas não querem mais ver isso nos jogos e resolveram mudar o rumo da violência.
Apesar de ser estranho não ser possível desmembrar uma pessoa com uma espada ninja - não que devesse acontecer o tempo todo, mas eventualmente seria inevitável não voar um braço no meio de tantos inimigos mortos -, a violência não foi deixada de fora. Tanto é verdade, que litros de sangue são jorrados durante as batalhas e Ryu fica coberto do sangue dos adversários ao final de cada confronto. Por isso, não se enganem, e deixem aqueles que não gostam de brutalidade nos games longe de você durante a jogatina.
Controle de movimento apenas para "heróis"
Assim que você liga o jogo se depara com o famoso aviso do PlayStation Move que indica a compatibilidade com o acessório. Feliz da vida, você vai procurar pelo seu controle, seja lá onde ele estiver, pois há um bom tempo você não faz uso dele (!). Por inocência, ou talvez por otimismo, você pensa que vai utilizar o controle como se fosse a sua própria espada, respondendo aos seus controles conforme você desfere golpes de um lado para o outro com maestria. Se era isso que você queria, pode guardar seu PS Move de volta na gaveta, pois não é a proposta estabelecida em Ninja Gaiden 3. De fato, os controles funcionam bem, mas apenas mimetizam o esquema do controle normal. Dessa forma, se você movimenta o Move de um lado para o outro, ele aplica um ataque fraco - o mesmo do botão quadrado - e se o movimento é de cima para baixo, um golpe forte é desferido - tal qual se apertasse triângulo.
Seja como for, é uma forma diferente de jogar e funciona muito bem. O grande problema está no fato de o Move só poder ser usado no modo Hero, que é o mais fácil de todos. Se o modo Normal já não apresenta dificuldades, imagina ter que ser obrigado a jogar num ainda mais tranquilo. Isso significa que, a não ser que você seja um jogador extremamente casual, o esquema de controle por movimentos ficou adiado mais uma vez. O que é uma pena, pois a ideia não era ruim e daria um bom descanso para os seus dedos.
Sombras do mundo online
Bem diferente do modo solo offline, Ninja Gaiden 3 traz um modo online chamado Shadows of the World, que oferece a evolução das técnicas de combate e deixa de lado os QTEs. Há ainda uma opção de jogatina cooperativa para até oito jogadores (Ninja Trials). A experiência online é muito divertida e gratificante, além de permitir que os amigos se juntem para realizar as missões. Além disso, uma longevidade bem mais estendida é acrescentada ao game e talvez os fãs da série se sintam mais confortáveis jogando online.
Um novo rumo para a franquia
Com essa nova fórmula, pode ser que a franquia tenha tomado um novo rumo. Se nós considerarmos esse novo título apenas como um jogo de ação e hack 'n' slash, não vamos nos decepcionar. A questão maior está na justamente por ser um Ninja Gaiden, com fãs que sempre criam expectativas muito altas a cada novo lançamento, considerando as características especiais e grande qualidade que a série sempre demonstrou. Diante disso, o jogo passa longe de ser ruim, mas está bem deslocado se comparado aos seus antecessores.
Prós
- Fácil para novatos nesse estilo de jogo;
- Visual bacana;
- Modo online cooperativo gratificante.
Contras
- Fácil para os padrões Ninja Gaiden, o que não agrada aos fãs;
- História pouco interessante;
- Jogabilidade repetitiva;
- Uso pouco inteligente do PS Move
Ninja Gaiden 3 – Playstation 3 – Nota final: 7.0
Gráficos: 7.5 | Som: 7.0 | Jogabilidade: 6.5 | Diversão: 7.0
Revisão: Leandro Freire
Ninja Gaiden 3 (PS3) nos foi gentilmente cedido para análise pela Iguana Mall.
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