Blast from the Trash: Irritating Stick (PS)

O ano é 1999 e o PS se tornou a febre da molecada. A ascensão dos gráficos em 3D e do sistema rumble , que fazia os controles tremerem, come... (por Alan Kottwitz em 29/03/2012, via PlayStation Blast)

Irritating Stick capaO ano é 1999 e o PS se tornou a febre da molecada. A ascensão dos gráficos em 3D e do sistema rumble, que fazia os controles tremerem, começava a se tornar moda na indústria dos games. No desespero de quererem embarcar no mesmo bondinho de sucessos como Final Fantasy VII e Tomb Raider, muitas desenvolvedoras produziram verdadeiras “pérolas” que viravam alimento para traças nas prateleiras das lojas. Irritating Stick pode ser classificado com uma dessas mer... cadorias, e a análise desta “obra prima” você confere agora, direto do túnel do tempo.

Ai, ai, ai, ui, ui”

Seu HirochiAntes de tudo, deixe-me vos ministrar uma pequena aulinha sobre cultura asiática: lá na terra do sol nascente, também existem programas de auditório, onde participantes devem cumprir provas para ganharem prêmios, a lá Programa Silvio Santos. Todavia, as provas desses programas nipônicos costumavam ser um tanto quanto “hardcores”. Exemplos? Os participantes sofrem choques elétricos, boladas na cara (se for homem, bolada nas nozes), esmagamento por lutadores de sumô e etc. Os telespectadores se divertem deveras ao assistir os participantes se lascando. Mas para estes competidores nem tudo é tão divertido assim.

Uma das provas mais interessantes que existia em meados de 1997 se chamava “Bastão Elétrico”. Os participantes manejavam um bastão de metal e precisavam fazê-lo passar por um percurso feito de cabos de cobre; era uma espécie de jogo de labirinto. Entretanto, esse percurso era eletrificado e caso o competidor encostasse o bastão nos cabos, além de fazer soar uma campainha azucrinante, levava um baita choque nas mãos. Até ai “tudo bem”, o problema é que o apresentador do programa ficava gritando e as assistentes de palco faziam todo o tipo de estripulias, para que os competidores se distraíssem e errassem de propósito. Eu adorava quando era uma mulher que jogava. Era impagável o gritinho de uma japonesinha levando choque…

cassetetePois é, acredite se quiser, mas a prova maluca descrita acima gerou, de fato, um jogo de videogame. Irritating Stick é um game de puzzle baseado nessa prova japonesa eletrizante. Na verdade este é uma versão americana de um jogo lançado no Japão chamado Denryuu Ira Ira Bou Returns (tradução: o retorno do bastão elétrico irritante). No game, o jogador controla um bastão de metal e precisa atravessar o labirinto de cabos metálicos sem tocar nas paredes. Parece divertidíssimo! Mas não é…

Pega na vara

No game o jogador só vê a ponta do bastão, uma bolinha cinza. É preciso conduzir essa “bolinha” pelo labirinto, desviando dos obstáculos — hélices, cavalinhos de um carrossel (!) e robôs medonhos — evitando a qualquer custo tocar nas paredes, com o objetivo de chegar até um checkpoint ou até o final do percurso. Os estágios têm um tempo limite para serem concluídos, portanto não dá para ficar enrolando muito. A movimentação é simples: cima, baixo, esquerda, direita. Os comandos são mais simples ainda: você só tem que fazer a bolinha avançar mais rápido ou mais lentamente, em cinco velocidades diferentes, tal como a dança do Créu.

Como eu disse no início da matéria, as desenvolvedoras queriam fazer de tudo para que suas produções fossem as mais realistas possíveis. Irritating Stick tinha a intenção de simular uma das brincadeiras desses game shows japoneses, mas conseguiu falhar desgraçadamente. Os gráficos em 3D são mal elaborados, com boomluzinhas multicoloridas piscando ao fundo e os cenários parecem ter sido tirados do descanso de tela do Windows 2000. Quando o jogador toca nas paredes do labirinto, a bolinha explode em uma descarga elétrica, com um estardalhaço de luzes (Pikachu, Choque do Trovão agora!). E os controles começam a vibrar (Deus abençoe o inventor do controle DualShock), numa tentativa esdrúxula de querer reproduzir a sensação do choque que aqueles otários simpáticos competidores japoneses levavam.

Trivialidades

  • Na versão japonesa do game, há um narrador que fica falando besteiras, gritando como um doido e tentando assustar o jogador, para que ele erre de propósito. Além disso, toda vez que o jogador erra, o narrador ficava gritando baka! (tradução: idiota!). Já na versão americana, o narrador não grita e nem falava abobrinhas, mas fica repetindo “watch out!” tantas vezes que acaba forçando o jogador a desligar o volume da televisão. Todos os insultos existentes na versão original, se transformaram em um desanimado “oh, no!”. Pelo visto os americanos tinham, e ainda têm, sérios problemas com auto-estima.
  • Na versão japonesa, há também o som de uma platéia ao fundo que grita, assovia, bate palmas ou fica gargalhando quando o jogador erra. Por motivos nunca esclarecidos, o som de platéia foi retirado da versão americana.
  • A capa do game, que ilustra a abertura desta matéria, não revelava nada a respeito do tipo de jogo que se trata. Há nela um ser que parece com um Power Ranger segurando um cassetete luminoso.
  • Na contracapa do CD (vide imagem abaixo) está escrito: “é chocantemente divertido”. Jura?
Irritating Stick contracapa
  • Ah! Não posso deixar de mencionar, ainda, que há no jogo uma opção que permite a criação de labirintos aleatórios. Infelizmente, as chances de o jogador pegar dois labirintos idênticos de forma consecutiva são de 98%.
  • Houve uma versão similar desse game para o console NeoGeo e para os Arcades, intitulada The Irritating Maze, lançada em 1997. Nessa versão o jogo é totalmente em 2D e mais parece um jogo de pinball. Por incrível que pareça, essa versão chega a ser pior que Irritating Stick.
Irritating Maze
  • Existe uma versão para o N64 que nunca foi lançada no ocidente. Sem comentários…
Moral da história: nem todos os jogos que abordam a cultura japonesa ficam bons quando migram para as terras do tio Sam. É melhor se contentar apenas com os RPGs e Final Fantasies da vida. Se por acaso você for um desenvolvedor de games e estiver sem ideias para algum projeto, por que não fazer um game baseado na Banheira do Gugu? O único problema seria que a censura classificaria o game para maiores de 18 anos.
Revisão: Samuel Coelho

é formado em Administração de Empresas e seu primeiro videogame foi um Dynavision Radical com 64 games. Adora escrever, é fã de carteirinha de Neil Gaiman e se amarra em coisas Nerds. Para trocar uma ideia com ele, basta procurá-lo no Facebook.

Comentários

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  1. PS1 e seus lixos ... e eu me divertindo no meu SNEs ^^

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  2. @Guinho Nem todos os jogos do PSOne eram "lixos" como esse. ¬¬ Se fosse assim o SNES era também um lixo porque também tem esses jogos de "mer...cadoria". Mas não, o SNES é um ótimo console. E o PSOne também.

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