Blast from the Past: Final Fantasy Tactics (PS)

Em 20 de junho de 1997 a Squaresoft nos apresentou um capítulo da franquia Final Fantasy totalmente diferente do que estávamos acostumados. Deixando de lado o RPG tradicional e abraçando o gênero Turn-Based Strategy (Estratégia Baseada em Turnos), Final Fantasy Tactics consagrou-se como um dos melhores games do gênero para o PlayStation.

 

Com fortes influências de um outro grande título do gênero TBS, Final Fantasy Tactics nos traz um enredo mais maduro, cheio de intrigas, reviravoltas e personagens marcantes, além de contar com belos gráficos, uma jogabilidade precisa e complexa, e a costumeira - e notável - qualidade em sua trilha sonora. Sem contar que este game nos apresenta pela primeira vez um dos mais importantes cenários criados para a franquia da atual Square Enix: o reino de Ivalice.

Reino dividido

A história se passa no reino de Ivalice, tempos depois da chamada Guerra dos Cinquenta Anos (Fifty Years' War), travada contra os reinos vizinhos Ordallia (a leste) e Romanda (ao norte). Após essa dura guerra, Ivalice enfrenta uma grave crise econômica, fazendo com que os poucos soldados que regressaram dos campos de batalha não recebam seu soldo, o que gerou descontentamento com relação à nobreza. Além disso, Ivalice passa por conflitos políticos, causados pela recente morte do Rei Omdoria e a ausência de um sucessor - já que seu único herdeiro ainda era apenas uma criança.

Com a necessidade de escolha de um regente, Ivalice se divide com a disputa entre dois príncipes: o Príncipe Goltana, simbolizado pelo Leão Negro e o Príncipe Larg, representado pelo Leão Branco, que, através de seus exércitos independentes - os cavaleiros Nanten, liderados por Goltana e os cavaleiros Hokuten, liderados por Larg - disputam o controle da monarquia, dando início a uma nova guerra que passaria a ser registrada na história como a Guerra dos Leões (War of the Lions).

Esses acontecimentos são complementados no jogo pela figura do historiador Alazlam J. Durai, que narra os eventos dessa guerra ao passo que revela o importante papel de um certo indivíduo - um nobre guerreiro aristocrata chamado Ramza Beoulve - cujas ações traçarão o destino do reino de Ivalice.

Experiência herdada

Final Fantasy Tactics teve um processo de desenvolvimento bem curioso, mas até bem recorrente hoje em dia: para compor a equipe de criação deste game, foram contratados profissionais que trabalharam em uma empresa concorrente - a Quest (desenvolvedora dos clássicos Ogre Battle e Tactics Ogre). Com isso, Akihiko Yoshida (desenhista de personagens), Hiroshi Minagawa (diretor de arte) e Hitoshi Sakimoto (compositor) integravam a equipe de desenvolvimento encabeçada pelo diretor Yasumi Matsuno.

Todos eles trabalhavam na franquia Ogre e trouxeram suas experiências para que fossem agregadas no projeto da Squaresoft, o que fez com que este tivesse várias influências em seus gráficos, jogabilidade, arte conceitual e diversos outros elementos. Essa foi com certeza uma decisão acertada por parte da Squaresoft, que até então não havia feito nada parecido, o que garantiu a criação de um game de primeira linha.

Mas, infelizmente, nem isso foi garantia de qualidade para a versão que foi lançada nos Estados Unidos: trazida pela divisão americana da Squaresoft, Final Fantasy Tactics teve simplesmente o pior trabalho de tradução da história da empresa, com termos japoneses mal traduzidos ou substituídos por termos que não faziam nenhum sentido (a magia "Fire Breath" na versão japonesa virou "Fire BRACELET" nos EUA. Pois é…). Felizmente esse defeito foi corrigido anos depois com o lançamento do remake para o PlayStation Portable, intitulado Final Fantasy Tactics: The War of the Lions.

Quem é quem

O mundo de Final Fantasy Tactics é repleto de ótimos personagens, cada um com sua personalidade, interesses pessoais e pontos de vista diferentes com relação ao cenário político de Ivalice. Todos eles possuem papéis importantíssimos na trama, seja indo em busca das 12 Pedras do Zodíaco, disputando pela coroa do reino em nome de um dos Príncipes ou apenas sendo uma mera marionete manipulada por forças ocultas que controlam a Igreja de Santa Ajora, além de contarem com relacionamentos bastante intrincados e complexos entre si.

Ramza Beoulve - Personagem principal do jogo, membro da respeitada Casa Beoulve e integrante dos Cavaleiros Hokuten, Ramza colocava sua honra como guerreiro e a importância de ajudar os outros acima da obrigação de honrar o nome de sua família. Entretanto, após a morte de Teta Heiral - irmã de seu melhor amigo Delita - pelas mãos de seu antigo aliado Algus, ele resolve deixar a Casa Beoulve, tornando-se um mercenário e trabalhando para o ganancioso Cavaleiro Negro (Dark Knight) Gaffgarion.

Delita Heiral - De origem humilde, Delita foi criado pela família de Ramza, de quem se tornou seu melhor amigo. Apesar de ser extremamente honrado, seu defeito é ser facilmente manipulável, o que fez com que ele fosse envolvido em uma trama que culminou no assassinato de sua irmã mais nova. Após o ocorrido, Delita jura nunca mais se deixar manipular e inicia uma cruzada pessoal para eliminar a nobreza e ascender ao trono.

Princesa Ovelia Atkascha - Filha adotada do Rei Omdoria quando ele ainda era vivo, Ovelia foi enviada a um monastério após o nascimento do Príncipe Orinus e viveu durante anos no Monastério Orbonne, onde conhece a irmã de Ramza, Alma Beoulve. Ovelia acaba se tornando peça-chave para os planos do Príncipe Goltana de se tornar regente de Ivalice. Assim sendo, Ovelia recebe a assistência e proteção de sua guarda-costas, a Amazona Sagrada (Holy Knight) Agrias Oaks, além do grupo mercenário liderado por Goffard Gaffgarion e do qual Ramza Beoulve fazia parte na ocasião.

Agrias Oaks - Amazona Sagrada e guarda-costas pessoal da família real, Agrias é incumbida da missão de proteger a todo custo a princesa Ovelia no início da Guerra dos Leões. Segue a aventura do jogo lutando ao lado de Ramza e seus aliados.

 

Goffard Gaffgarion - Mercenário e ex-comandante de uma ordem desconhecida de cavaleiros, Gaffgarion é conhecido por sua ganância e por crueldade em campo de batalha. Enviado por Dycedarg Beoulve (um dos meio-irmãos de Ramza) para matar Ovelia Atkascha e facilitar a ascenção de Larg ao trono de Ivalice, Gaffgarion surge no início do jogo cumprindo uma missão atribuída por Agrias para proteger a Princesa, a fim de se aproximar de seu alvo e facilitar o cumprimento de sua verdadeira missão.

Visual simples, porém gracioso

Final Fantasy Tactics é um jogo bem diferente do restante da franquia da Square Enix. Como o jogo teve forte influência dos games da série Ogre, nada mais natural que o design das fases seguisse a mesma linha dos seus games de origem.

Dessa forma, as fases eram cenários compostos por "casas", como em um tabuleiro de xadrez, mas com alturas diversas, compondo os obstáculos e estruturas de cada cenário. Todos os cenários eram reconstruídos em 3D, o que possibilitava girar e regular a altura da câmera, a fim de visualizar melhor as batalhas. O visual das fases era até certo ponto bem simples, com texturas bem básicas, fazendo com que o jogo fluísse sem prejuízos na performance, mas os gráficos em geral não deixavam de ser bem bonitos na maior parte do tempo.

Já os personagens, monstros e quase todos os itens e objetos eram formados por sprites bidimensionais, de traço também bastante simples, mas que eram muito bem representados e animados, com atenção especial às cutscenes onde os personagens faziam muito mais do que andar de uma casa a outra e golpear os inimigos.

Brandindo espadas

Um ponto fortíssimo de Final Fantasy Tactics sem dúvida era sua jogabilidade, que priorizava a estratégia e retornava com o memorável sistema de Jobs (Classes de Personagem), introduzido pela primeira vez em Final Fantasy V e bastante aprimorado aqui. O jogador dispunha de uma quantidade predefinida de soldados e precisava gerenciar a Classe de cada um deles.

Existem 33 Classes diferentes, com a maioria delas podendo ser usadas livremente pelo jogador em seus soldados. Muitas delas só eram acessíveis após evoluir um soldado até certo nível de uma Classe mais básica, enquanto algumas outras eram Jobs especiais, restritas aos personagens do computador - como Gaffgarion (que é um Dark Knight) e o próprio Ramza, cuja Classe no início do jogo é uma variante mais forte da Squire.

Cada Job concedia uma gama diferente de técnicas (Skills) diferentes e era possível trocar os soldados de Classe a qualquer momento, possibilitando combinar classes diferentes com habilidades diferentes em um mesmo guerreiro. Você poderia ter um Arqueiro capaz de lançar magias de cura de um Priest, por exemplo.

Canções dignas de Coração Valente

Fruto do trabalho de Hitoshi Sakimoto, as músicas de Final Fantasy Tactics são um show a parte. Suas canções variam de temas mais agitados e com ritmos próprios para as batalhas, passando por composições mais serenas ouvidas durante as cutscenes que mostram as relações entre alguns personagens da trama. Algumas delas tem toques de gaita de fole, lembrando as típicas músicas épicas escocesas (como a música da abertura do game, logo abaixo), enquanto outras possuem uma forte batida militar medieval.

A sensação passada por muitas de suas composições contribui para um clima bastante tenso durante os combates, o que deixa o jogo ainda mais especial. Destaque para uma das melhores músicas desse game, executada durante a batalha na Cidade Comercial de Dorter (Dorter Trade City).

A História dos Bravos do Zodíaco

Apesar de suas falhas de internacionalização, este jogo de estratégia da Squaresoft não fez feio, tendo não apenas divertido os donos do PSOne como também deixando um interessantíssimo legado: o Reino de Ivalice se tornou tão importante com suas lendas, personalidades e locações que serviu de pano de fundo para outros games dentro e fora da franquia Final Fantasy (sendo Vagrant Story e Final Fantasy XII seus mais notáveis exemplos).

Aqueles que ainda não tiveram a chance de jogar este grande clássico podem adquirir seu remake produzido para o PSP, ou então a versão original - com sua tradução para inglês totalmente revisada e corrigida - à venda na PSN para jogar no PSP ou no PS3. Seja qual for a sua escolha, Final Fantasy Tactics é simplesmente imperdível!

Revisão: Leandro Freire