Tiroteios ininterruptos? Cenários totalmente destrutíveis? Diversão sem ter que pensar muito? Armamento diversificado? Som realista e perfeito?
Não, caro leitor, não estamos falando de Battlefield, mas de um "irmão" deste, que inclusive foi lançado pela mesma softhouse: estamos falando de Black, considerado por muitos (eu incluído) o melhor shooter já editado para o PlayStation 2.
Sem mais delongas, recarregue então seu M-16, respire bem fundo, concentre-se e relembre um dos melhores jogos do PS2.
Conquistando o jogador casual de FPS
O gamer minimamente antenado de hoje sabe que, em 2012, o gênero que mais movimenta a economia do entretenimento eletrônico é o FPS, first person shooter, encabeçado pela popular série Call ofDuty - cujo último lançamento, Modern Warfare 3 (Activision, novembro de 2011), vendeu a quase inacreditável marca de 6,5 milhões de cópias - gerando mais de 400 milhões de dólares - só nas 24 horas iniciais de vendas, isso apenas nosEUA e Reino Unido.
Tem gente que afirma que a série"matou" o mercado de games estabelecendo um novo padrão, cuja mina deouro virtual leva muitas produtoras a só querer produzir clones de COD de olho numa vaguinha nesse filão tão rentável, em detrimento de outros estilos de jogo - mas há apenas 6 anos, a realidade era bem diferente. A Electronic Arts, berço e casa até hoje da bem sucedida série Battlefield, lançava em 24 de fevereiro de 2006 um jogo que é um verdadeiro marco para o FPS moderno: Black, para as plataformas PlayStation 2 e Xbox.
Pessoalmente, até então o FPS era um gênero que pouco me chamava a atenção - a referência maior era Medal of Honor, lançada em 1999 para o PlayStation pela mesma EA e marcada pelo fator histórico: sua totalidade era até então de missões tendo a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo. Faltava algum jogo que mostrasse a batalha moderna, nos moldes da série Counter-Strike (modificação de Half Life surgida em 2003) para PC. A produtora Criterion apostou suas fichas neste modelo e criou um verdadeiro marco, que conquistou jogadores como eu, até então mais focados em outros estilos de jogo.
Uma ode moderna ao tiroteio
Ambientes destrutíveis. Gráficos cristalinos. Som absolutamente realista. Enredo cinematográfico. Armamento contemporâneo. E muitos, mas muitos tiros. A abertura e capa de Black, surpreendemente clean, deixam escancarado como o jogo encara a guerra: um fundo preto e uma torrente de balas infindável como uma verdadeira ode moderna às armas de fogo, elevadas a um patamar quase de divindade. E é bem isso que o jogador encontra no game: tiroteios contínuos que tecem uma bem enredada – embora relativamente curta - estória passada na Chechênia (sul da Rússia).
Você comanda o calejado primeiro sargento Jack Kellar, que já rodou meio mundo em operações clandestinas para a CIA. De personalidade rebelde, Kellar é interrogado sobre as ações do grupo terrrorista e contrabandista Seventh Wave, ameaçado de perder sua patente e passar o resto da vida atrás das grades caso não colabore.
A maior parte da estória é contada em flashbacks, quatro dias após os eventos revividos pelo jogador. Relutando inicialmente, Kellar acaba por detalhar as ações que viveu: a infiltração de um bunker da Seventh Wave em Veblensk, que resultou na morte de três membros de alta patente da organização e culminou em uma emboscada, após uma não-autorizada invasão a um prédio controlado pelos terroristas. Lá, Kellar descobre que o grupo é liderado por William Lennox, originalmente um agente de operações clandestinas da CIA que forjou sua morte no Cairo (Egito).
Cada missão revisitada pelo jogador é precedida de uma cena do interrogatório de Kellar, detalhando o que ocorreu em cada passo: o ataque em Veblensk, a travessia do canal Vlodnik e neutralização de um arsenal, o encontro com a agente McCree, a destruição de uma fábrica de armas em Naszram, a união da dupla com o agente Solomon, o difícil ataque derradeiro ao gulag Spetriniv.
Atirar, explodir, recarregar. Repetir
Bom, enredo político e de manipulação à parte, o que fez de Black um jogo memorável, provavelmente o melhor shooter do PlayStation 2? O simples fator diversão. Basicamente, tudo o que você faz é atirar, explodir, recarregar. O tempo todo, sem parar, sem pausa pra conversinha, sem muita estratégia. Desde o primeiro minuto jogando, você se sente como se estivesse em um Duro de Matar, Rambo ou Comando Para Matar da vida: como nos bons clássicos de ação dos anos 80, não tem muito o que pensar – tudo se resume a descer bala em qualquer coisa que se mova ou possa ser explodida.
E meu amigo, como isso é divertido. O arsenal é grande e bem variado, de pistolas e submetralhadoras compactas a lançadores RPG e armamento pesado como as M60. Dá pra carregar duas armas ao mesmo tempo, alternando (fora granadas) o uso destas. Muito adequadamente, a Criterion chegou a classificar o jogo como “gun porn”: tudo é muito explícito, muito detalhado, iluminação e jogo de sombras perfeito, sons e animação de primeira… mal dá tempo de respirar!
O fã de FPS encontra aqui elementos utilizados até hoje no gênero: mudança de foco visual ao recarregar (dando mais perspectiva e realismo), a tela ficando monocromática à medida que sua energia diminui, acompanhada do aumento da frequência cardíaca e vibração do controle.Tudo é muito dinâmico: paredes e obstáculos não são meros pontos de cobertura do fogo cruzado, o fator considerado como assinatura tradicional da série Battlefield aparece aqui explendorosamente: dá pra destruir praticamente tudo à vista. Eu disse tudo: transportes, paredes, tudo acaba ou em pedacinhos ou, no mínimo, crivado de balas. Tem horas que chega a ser quase poluição visual, fica uma nuvem de poeira e tudo o que dá pra ver é só brilho do fogo inimigo no fundo.
Uma experiência única em som
O som em Black é algo à parte, algo realmente único. O som da MP5 é idêntico ao de Duro de Matar, o da UZI é o mesmo que ouvimos em True Lies – mas o conceito não se resume a uma cacofonia de tiros, trilha sonora e explosões. Em uma sacada genial, os engenheiros sonoros montaram tudo como se fosse um “coral de armas”: o som muda de acordo com o número de inimigos – se há três atiradores em cena, cada arma apresenta um tom diferente, médio, baixo e alto, tal qual cada cantor em um coral verdadeiro, com tonalidades distintas. Merecidamente, Black ganhou prêmios por essa característica.
Durante essa semana, tirei a poeira do meu PS2 e fui jogar Black pra relembrar como tudo flui e soa, seis anos após o lançamento. Acredite: tudo continua ainda impressionante e incrivelmente divertido, o jogo envelheceu muito bem. O jogador contemporâneo, no entanto, pode estranhar apenas que tudo rola em um certo ritmo, nada acelerado, e algo que, convenhamos, é a grande graça da maioria dos jogos hoje em dia: a falta de um modo multiplayer online. Sangue também não aparece por aqui, mas temos a compensação de, na imensa maioria dos casos, ver o inimigo cair de uma plataforma ou janela em uma animação 100% estilo dublê: leva o tiro e despenca, ou voa com o cenário explodindo.
E o futuro de Black?
Mas mesmo esses pequenos detalhes não comprometem a beleza e diversão proprorcionadas por Black, até porque devem ser levadas em conta as limitações técnicas do console para a época – e olha que o jogo realmente leva o motor gráfico do PlayStation 2 ao seu limite.
O fim do jogo deixa no ar que poderia haver uma sequência (e, de fato, surgiu um “irmão espiritual” com Bodycount para PS3 e Xbox 360, pelas mãos dos mesmos produtores, porém com pouca repercussão), mas infelizmente a Electronic Arts não se interessou. Fica então a torcida para que a EA decida um dia investir em uma sequência ou até mesmo remake atualizado para Black… com as plataformas que temos hoje, seria glorioso revisitar este "padrão Rambo" de destruição em massa sem muita estratégia - e, tendo em vista os rios de dinheiro que o FPS gera hoje, seria uma experiência gratificante tanto para nós, jogadores, como para a produtora. Quem sabe um dia?
Ah sim, só fechando essa matéria com uma experiência pessoal: eu nunca consegui efetivamente acabar o jogo na dificuldade maior. A última missão de Black é dolorosamente difícil, com munição escassa e inimigos que parecem brotar de todo lugar – sem parar. Cara, é frustrante… quem sabe hoje em dia consigo, agora que tenho os polegares calejadíssimos de Black Ops e Battlefield 3?
Revisão: Rodrigo Estevam
massa esse jogo
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