Desastres naturais são, geralmente, denominados de "atos de Deus". Em From Dust, você cria esses atos de Deus, moldando o mundo à sua preferência, e guiando seus seguidores pelo mundo, sempre em busca da Terra Prometida. Podendo controlar água, terra e lava, você se sentirá um verdadeiro ser de poder infinito nesse magnífico jogo... Será? Apesar de todo seu potencial, esse magnífico jogo peca em fatores essenciais. Veja a análise completa aqui e tire suas próprias conclusões sobre esse jogo, que tinha uma belíssima idéia e potencial para ser excelente mas sofreu com os erros dos desenvolvedores.
Uma Experiência Inovadora
Lembro que me interessei por From Dust deste a primeira vez que o vi na pré-ordem do Steam. Esperei um pouco para comprá-lo na PSN, onde teria potencial gráfico para desfrutá-lo da melhor maneira possível. No final das contas, a decepção nesse simulador de Deus é quase igual. Apesar de, em alguns pontos, a compra valer a pena.
Claro, você não é chamado de "Deus" em nenhum momento do jogo. Em contrapartida, você é denominado de "Sopro da Criação", uma força sem forma que consegue controlar elementos como água, areia, lava, etc, de forma a redistribuí-los no mundo. Seus seguidores são um grupo de pessoas de cor negra, vestindo máscaras de madeira, e se trabalho é guiá-los na direção de totens de madeira, onde eles poderão construir seus ambientes para morar. Cada local possui seus próprios desafios. Na fase-tutorial, por exemplo, você deve criar um caminho de areia na água, de forma que esses nativos possam atravessar essa "ponte". Em outra fase, seus nativos resolve se instalar do lado de um vulcão em erupção, e cabe a você, ó todo-poderoso, criar uma contenção para o fluxo de lava.
Cada vila dá ao Sopro novos poderes, como a habilidade de solidificar água (Mar Vermelho, cadê você?), apagar incêndios, e etc. As vilas também conseguem se defender (minimamente, claro) desses desastres naturais, desde que o totem que está no centro desta permita tal feito.
Limitações e Problemas
Apesar de não ser o primeiro jogo onde você brinca de Deus, From Dust tem um visual e uma sensação bem diferente de qualquer outro título. Sem dúvida, você será capaz de se divertir bastante no início do mesmo. Até que você comece a perceber as limitações que o próprio jogo lhe impõe.
Parte disso se deve aos próprios seguidores: muitas vezes, os mesmos simplesmente irão parar no meio do caminho, sem fazer mais nada. Além disso, os sons que eles produzem quando estão com problemas são quase idênticos, fazendo com que você perca preciosos segundos até perceber o que de fato está acontecendo.
Outra coisa: os jogadores se encontrarão frequentemente tendo que socorrer uma aldeia em perigo. Às vezes, tudo está indo nos devidos conformes, mas um detalhezinho de nada que você esqueceu (como uma árvore que pega fogo de forma espontânea) pode colocar 30-60 minutos de trabalho a perder. Muitas vezes essas surgem sem qualquer aviso. Existem tantas variáveis que é praticamente impossível tomar conta de tudo. Por vezes, a estratégia pode estar errada. De outras, ela está certa, mas está sendo implementada de forma errada. Outras, você simplesmente perdeu a hora certa de fazer tudo certo...
A criatividade que você poderia ter como Divindade é desencorajada a todo momento por dificuldades, fases muito longas, inteligência artificial ruim, etc. Dá a entender que From Dust não quer que você jogue, mas sim que você vença.
Outra falha de From Dust está na sua interface: só existem praticamente dois zooms, demora muito tempo para que você navegue pelos mapas maiores, e o fato de que apenas um comando permite que você absorva tudo vai, eventualmente, te atrapalhar bastante. Não é difícil sugar água ao invés de terra, por exemplo.
A impressão que tive de From Dust é que os desenvolvedores se apoiaram demais na idéia do Sopro, e na criação de lindos ambientes, e não se preocuparam tanto com os outros detalhes do jogo, como design e amadurecimento da jogabilidade em si. As idéias sempre são repetidas, e no final das contas, se você analisar bem o jogo do início ao fim, ele consiste em apertar dois botões e mexer o direcional. Parece Final Fantasy XIII. Não importa nada a beleza do jogo, tudo se limita à pegar algo de um canto e colocar em outro. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. Até você cansar.
No início do post, eu enganei vocês, comparando From Dust a Sim City e Lemmings. Tá, não enganei realmente. A idéia geral é exatamente essa. Entretanto, From Dust possui apenas uma ínfima parte do potencial desse jogo. Geralmente, você só faz apontar para onde seus seguidores irão, ou mexer em pedaços de matéria. No resto do tempo, sua única missão é olhar para a televisão. É impossível, inclusive, se comunicar com os homens, ou dar ordens específicas para um deles.
O fator de diversão do jogo é quase nulo: um momento você está sem nada para fazer. No outro, você não tem mais tempo para fazer nada. Muitas oportunidades e idéias bacanas são desperdiçadas no jogo: vida vegetal cresce e atrai animais, mas para quê? Não há nada mais além do que você faz no jogo. Aldeias são construídas, os homens se multiplicam, mas eles realmente não fazem nada. Você se preocupa com esses seres simplesmente porque... Ah, sei lá, porque você não tem mais nada melhor para fazer como divindade mesmo?
Gráficos: O Ponto Mais Forte do Jogo
Eu não quero tirar o mérito de From Dust. Sem dúvida, o cuidado dos desenvolvedores com os gráficos e criação dos recursos naturais foi tremenda. A água se comporta como água, as dunas de areia se movem por causa do vento, e por aí vai. Mas espere... Voltando à clássica discussão gráficos x diversão, eu estou jogando para ver algo bacana ou me divertir? Se ao menos houvesse mais o que fazer, ver e experimentar, poderia ser realmente um título excepcional. Mas não é. Preferiria uma hora de algum documentário sobre a natureza.
Você pode ainda habilitar alguns modos de desafio, que fornecem diferentes modos de jogo, embora todos eles girem em torno da mesma mecânica. Apesar de interessantes, não valem tanto assim o seu tempo. A parte de "história" é mais interessante, onde podemos aprender mais sobre o mundo do jogo, sua história e habitantes.
Considerações Finais
From Dust tem um nível de charme que não pode ser negado. Mas mesmo assim falha consideravelmente. Há não conteúdo suficiente e o jogo todo é muito restrito. Ele mantém o jogador limitado, tem uma AI fraquíssima, e abusa do chamado "eye candy" para tentar manter o jogador preso no jogo. O poder de moldar e esculpir montanhas faria mais sucesso em um jogo mais profundo, mas não é algo tão bacana que justifique um jogo todo feito apenas disso.
Dica? Desistam de From Dust e procurem Black & White 2, para ter uma verdadeira experiência de ser um Deus, tendo liberdade para fazer realmente tudo que quiser, e podendo se divertir muito mais.
Prós
- Experiência de jogo maravilhosamente original;
- Representação visual fantástica dos elementos naturais;
- Belíssima trilha sonora;
- Cenários gratificantes que muitas vezes permitem que você falhe e aprenda com os erros.
Contras
- Alguns problemas de interface e de câmara;
- Não há meio-termo entre desafios muito fáceis e muito difíceis;
- Aldeões podem ser totalmente idiotas às vezes;
- Título repetitivo.
From Dust - PSN/PS3 - Nota Final: 6,0
Gráficos: 9,0 | Som: 9,0 | Jogabilidade: 6,5 | Diversão: 5,0.
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