Blast from the Past

Blast from the Past: Xenogears God Only Knows (PS)

“ Eu sou a Alfa e o Omega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro ” Apocalipse: 22-6 É com essa frase bíblica que come... (por Gustavo Assumpção em 28/07/2011, via PlayStation Blast)

xenogears-300x259Eu sou a Alfa e o Omega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro

Apocalipse: 22-6

É com essa frase bíblica que começa um dos RPGs mais incríveis de que se tem notícia. Lançado em 1998 para o PlayStation, Xenogears é considerado por muitos um dos melhores games já criados. Sua trama, baseada em teorias da psicanálise e da filosofia, é uma pequena obra-prima moderna, unindo personagens carismáticos, muitas reviravoltas e a abordagem de assuntos polêmicos. Não teve a oportunidade única de experimentar a incrível jornada de Fei Fong Wong em busca de encontrar a si mesmo? Então confira  o que você está perdendo nesse Blast from the Past mais que especial.

  • Uma obra prima

6186168322882eb17f153f0ee5157597Dizem que todo game de grande impacto tem uma grande equipe por trás e aqui não é diferente. Xenogears é resultado de uma equipe multi talentosa, encabeçada por Hiromichi Tanaka, que já havia trabalhado com outro grande clássico da Square: Secret of Mana. Na equipe ainda estavam Tetsuya Takahashi e Kaori Tanaka – o primeiro é hoje um dos cabeças da Monolith Soft (de Xenoblade e Baten Kaitos) e o segundo é ninguém mais, ninguém menos que o mestre por trás do roteiro de Final Fantasy VI. Na parte técnica, Yasuyuki Honne cuidou de toda a direção de arte, enquanto Kunihiko Tanaka foi o responsável pelo design dos personagens. Tanaka é um artista respeitável, tendo trabalhando em alguns mangás, mas que só alcançou respaldo quando criou os personagens de Xenogears. Auxiliando Tanaka ainda estava Koichi Mashimo, um importante animador que havia atuado nos animes Ghost in the Shell e Neon Genesis Evangelion.

O mais legal de tudo é que Xenogears foi o primeiro protótipo de Final Fantasy VII. Ele só não se tornou a sétima versão de FF porque a Square achou o enredo sombrio demais para o público da franquia. Foi então que Takahashi pode desenvolver o projeto separadamente, resultando em um dos mais profundos games de que se tem notícia.

  • E eis que tudo começa

Fei_Fong_WongO aspecto que mais chama a atenção em Xenogears é, sem dúvida alguma, o seu enredo. Pra quem não sabe, essa é a quinta parte de uma história que seria originalmente dividida em seis capítulos. A ideia dos produtores era narrar a aventura de uma forma bastante parecida com o que George Lucas fez com a saga Star Wars, mostrando momentos diferentes e com grande distância temporal de uma mesma história, para no final arrematar as pontas. Como o foco de hoje é Xenogears, vamos tentar resumir um pouco do que se trata a história que é contada especificamente nesse quinto episódio, chamado de God Only Knows. (Futuramente comentaremos sobre Xenosaga e os episódios anteriores por aqui)

Como prólogo da aventura, temos um misterioso acontecimento, ocorrido cem anos antes da época atual. Nesse dia, que parecia ser mais um dia qualquer, a tripulação de uma gigantesca nave espacial vive sua vida normal. É então que um organismo desconhecido é detectado em uma das alas da nave, colocando a segurança de todos em risco. Sem saber o que fazer, o comandante ordena a evacuação dos habitantes do veículo, mas a própria nave entra em conflito com os ocupantes, eliminando um a um. Sem ter o que fazer, o comandante aciona um mecanismo e faz tudo explodir. É o fim.

Xenogears se passa em Ignas, continente que é palco de uma gigantesca guerra secular entre duas nações: Aveh e Kislev. Disputando uma guerra que já durava incontáveis anos, as duas nações estavam a mercê de uma novidade: a descoberta de enormes e gigantescos veículos de combate pela organização Ethos, chamados de forma simplista de gears. Construções metálicas gigantescas e superpoderosas, os gears possuem capacidade suficiente para destruir hordas de soldados e promover verdadeiros massacres.

Disfarçada de mera organização que pretendida recuperar a memória da humanidade por meio de trabalhos de arqueologia, a organização Ethos se tornou uma gigantesca fornecedora de armas antigas para ambos os lados da guerra, conforme era mais conveniente. A guerra, sempre equilibrada, parecia não ter mais fim. Foi então que Kislev começou a ganhar batalhas importantes, principalmente devido a grandes recursos obtidos de suas ruínas. Só que, misteriosamente, uma força militar começa a aparecer no continente de Ignas: os Gebler, que se juntam  aos Aveh, que entram no páreo e conseguem reverter a desvantagem, chegando a conquistar territórios pertencentes a Kislev.

  • Só Deus sabe

A história em si começa com um flashback, mostrando o protagonista, Fei Fong Wong lutando para defender sua vila de um ataque fulminante dos inimigos. Abandonando ainda criança, Fei foi criado como um ser sem passado, que teme seu destino e pouco sabe sobre o seu futuro. É nesse encontro que ele tem o primeiro contato com Weltall, o gear que foi destinado a ele no passado. Ele não tem ideia do quanto aquele momento vai mudar em sua vida…. Deste ponto em diante, a aventura passa para as mãos do jogador, que tem a oportunidade de viver uma das histórias mais marcantes já vistas em um game.

 

Com um nível de produção altíssimo, Xenogears pode ser considerado um dos games mais completos do PlayStation, a começar pelo seu visual. Misturando cenas em anime, personagens em 2D e cenários e mapas em 3D, o game possui um estilo visual bastante peculiar, principalmente se levarmos em consideração a época. Muitos são os que acreditam que os gráficos poderia ser mais bem trabalhado e detalhados, mas o alto nível de detalhes compensa pequenos problemas de resolução e texturização. Tudo parece vivo e coerente, de uma forma que é raro ver até mesmo nas mais avançadas produções de ficção.

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Em uma época onde as cenas em computação gráfica era o supra-sumo dos RPGs, a utilização de cenas em anime são um show a parte e uma louvável característica, combinando perfeitamente com o estilo e o enredo do game (muito mais fantasioso do que realista). Apesar de serem completamente em FMV, as cenas estão em uma qualidade absurda, não apresentando slowdowns, muito menos granulações. É muito legal perceber o impacto que essas cenas adicionam para o simples ato de contar a história, tornando tudo muito mais fácil de ser apreendido.

Já a trilha sonora é formidável, carregando com maestria toda a tradição da Square de produzir boas canções para ilustrar seus jogos. Aqui, as melodias são mais tristes e intimistas que o habitual, perfeito para o enredo que é contado. Além disso, o game ainda conta com uma quantidade absurda de vozes: são horas e horas de diálogos falados e efeitos sonoros que simulam onomatopeias, um trabalho que impressiona pelo detalhamento e pela cuidado técnico.

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  • Grandes combates, sistema fantástico

Assim como Chrono Trigger e a série Final Fantasy, Xenogears utiliza uma versão levemente modificada do Active Time Battle, o sistema de batalhas baseado em turnos com barras de tempo para os personagens. A grande novidade é a adição dos Action Points (AP) que dão ao jogador a possibilidade de atacar mais de uma vez por turno. Ficou complicado? A gente explica: cada ação realizada pelo jogador vale de 1 a 3 APs. No início do game, cada personagem possui 3 APs para ser utilizados em cada turno, mas esse número sobe para sete em níveis mais altos. Assim, o jogador pode realizar várias ações distribuindo esses pontos, como curar personagens machucados, usar magias ou realizar ataques físicos. Com o desenrolar do game, os jogadores ainda destravam movimentos que unem esforço físico com magia, os chamados Deathblows Elemental, movimentos ultra complexos e por vezes praticamente impossíveis de serem executados. Para utilizar magias, são gastos EP, os Ether Points, mas esse tipo de movimento não é muito útil em combates corpo a corpo.

Esse esquema muda completamente quando o jogador tem a oportunidade de realizar confrontos com os Gears, que é a grande novidade de Xenogears. Assim que o jogador começa uma batalha com um gear, os pontos AP são substituídos por uma quantidade determinada de combustível. Cada ação custa uma quantidade de energia específica. Ao longos das batalhas, o jogador que está em posse do gear ganha bônus de acordo com os ataques que realiza, aumentando progressivamente o seu poder. Em determinado momento é possível até acumular energia para poderosos ataques que causam estragos gigantescos.

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Os gears podem recuperar o combustível com o comando "Charge”. Também é possível ativar os "Boosters" que permite ao jogador agir com mais rapidez a um custo de combustível extra por turno. E essa é apenas a ponta do iceberg: os combates com os gears escondem uma série de surpresas e são complexos e divertidos todo o tempo, tornando as batalhas um enorme atrativo. Quem joga RPG sabe como é complicado se manter interessado nos combates depois das primeiras horas e como é gratificante experimentar um game que é agradável todo o tempo.

  • Uma verdadeira obra-prima

É muito legal perceber que mesmo 13 anos após seu lançamento, Xenogears continua encantando jogadores mundo afora. Recentemente o game foi disponibilizado para download na PSN, mostrando que a chama que acendeu pela primeira vez lá em 1998 continua acesa.

Não é muito difícil encontrar motivos para essa capacidade única que o game possui. Primeiro, nunca antes na história dos videogames (Lula?) um enredo foi tão adulto e discutiu assuntos tão pontuais para o próprio ser humano. O que somos? Qual a origem de tudo? Destino realmente existe? E Deus, quem é Deus? São perguntas como essas que o enredo discute com maestria. Legal também é que durante mais da metade do jogo os acontecimentos parece não ter muito nexo e são dificilmente relacionáveis, pra só da metade pra frente passarem a fazer sentido. Quando as pontas começam a se fechar, a sensação é fantástica.

Levantando a bandeira da importância de ideias altruístas unidas a elementos típicos freudianos (como a elaboração de teorias sobre a natureza específica da memória humana), o game promove discussões e questionamentos muito particulares. É meio que impossível não se sentir tocado pela aventura de Fei para encontrar a si mesmo e reinterpretar o mundo onde vive.

Xenosaga1battleXenosaga, a continuação

Anos depois do lançamento de Xenogears, membros do time de produção se desligaram da Square Enix e criaram uma nova empresa, a Monolith Soft (que hoje produz com exclusividade para os consoles Nintendo). Tempos depois eles colocaram nas lojas os três primeiros capítulos da história, sob o nome de Xenosaga. Cada um dos games tem como subtítulo títulos originais de livros do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: Xenosaga Episode I: Der Wille zur Macht, Xenosaga Episode II: Jenseits von Gut und Böse e Xenosaga Episode III: Also sprach Zarathustra. Em breve falaremos mais sobre eles aqui no PlayStation Blast.

Há muito o que ser dito sobre Xenogears. Parece que quanto mais o tempo passa, mais curiosidades conseguimos descobrir sobre essa grande obra-prima da Square. Esse é um raro exemplo de game que transcende o entretenimento, algo cada vez mais raro. Xenogears é um clássico eterno.


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

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  1. O jogo é épico mesmo. Pena que eu só tinha jogado em japonês. Nem lembrava desse jogo, mas ler esse post bateu a vontade e agora vou dar uma procurada pra jogá-lo novamente e em inglês dessa vez

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  2. Eu não joguei ainda, mas pelo texto tem tudo para me agradar. Quando eu arrumar tempo vou conferir. Tenho muito jogo na fila rsrs. Mas com esse pessoal na produção, só podia ter sido sucesso mesmo. Grande post.

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