#Persona20th — Persona 4: Dancing All Night (PS Vita)

Yu Narukami e seus amigos usam o poder da dança para derrotar o mal nesse inusitado spin-off.

Persona 4 foi um dos grandes lançamentos da franquia e conta com grande popularidade até hoje. Era natural que a Atlus explorasse essa oportunidade, e disso surgiram coisas curiosas. O título mais inesperado baseado em P4 é, sem sombra de dúvidas, Persona 4: Dancing All Night. Neste jogo para PS Vita, Yu Narukami e seus amigos têm que mostrar muita desenvoltura nos passos de dança para conseguir derrotar os monstros de um novo universo paralelo.

Dançando para derrotar as Shadows

É um tanto quanto estranho partir de um RPG e acabar em um jogo de ritmo, mas vários fatores fazem com que o conceito de Persona 4: Dancing All Night não seja completamente sem sentido. Uma das principais características memoráveis da franquia é a trilha sonora, de modo que um jogo cujo o foco seja justamente as composições musicais não é má ideia. Além disso, os personagens de P4 são carismáticos e memoráveis. A junção de tudo isso tem como resultado esse spin-off inusitado.

As mecânicas de P4: Dancing All Night seguem o padrão de jogos musicais: basta apertar os botões na hora certa, no ritmo da música. As notas vêm do centro da tela e para acertá-las é necessário apertar um dos botões de ação: cima, esquerda e direita no direcional digital e triângulo, círculo e xis. Como é de costume, existem notas que exigem segurar botões ou fazer comandos simultâneos. Há também os Fever Rings, anéis que demandam um toque na alavanca analógica e ativam um modo especial que aumenta o valor de pontos por algum tempo.

O mais curioso é que essas performances na verdade se tratam de “batalhas de dança” que acontecem no mundo alternativo “Midnight Stage” (palco da meia-noite, literalmente). Sendo assim, as Personas aparecem no final das músicas, caso o jogador seja bem-sucedido, e derrotam todas as Shadows do local.


Bem-vindo ao palco da meia-noite

Naturalmente, há uma explicação para essa loucura de batalhas de dança num palco em outro mundo. A trama de Dancing All Night acontece um pouco após o epílogo de Persona 4 e tem como foco um festival de dança chamado Love Meets Bonds Festival. Rise Kujikawa, que voltou ao mercado do entretenimento, convida Yu Narukami e os outros heróis para participarem desse evento juntamente com ela. A garota quer fazer o máximo para superar o grupo Kanamin Kitchen, liderado por Mashita Kanami — colega (e também rival) de longa data de Rise.

Acontece que, misteriosamente, as garotas do Kanamin Kitchen começam a desaparecer. Ao mesmo tempo, surgem rumores sobre um vídeo que só aparece à meia-noite em um site — e a filmagem mostra cantoras pop mortas. Também afirmam que quem o assiste é sugado para outro mundo. Sendo assim, Yu e seus amigos decidem investigar o rumor, que, afinal, parece muitíssimo com o que aconteceu em Inaba e seu Midnight Channel. Ao assistir o vídeo, os heróis são transportados para o Midnight Stage, um mundo repleto de Shadows. Para piorar, eles descobrem que a única maneira de derrotar os monstros nesse local é por meio do poder da música e da dança. Sendo assim, Yu e seus amigos têm que caprichar nas coreografias ao mesmo tempo em que tentam descobrir o responsável pelo aparecimento do Midnight Stage.


O mais curioso na trama de Persona 4: Dancing All Night é que o jogador é representado por um rapaz anônimo que, por acaso, vai parar na Velvet Room. Lá, ele é recebido por Margaret, que decide contar essa aventura de Yu Narukami e seus amigos. Isso explica o fato de Yu ter personalidade própria durante a história, já que os protagonistas da série costumam ser silenciosos e sem características marcantes. É a primeira e única vez na série, até o momento, em que o protagonista não participa de fato da trama.

Muitas maneiras de dançar

Persona 4: Dancing All Night conta com dois modos de jogo. No Story acompanhamos Yu Narukami e seus amigos enquanto tentam descobrir o mistério por trás do Midnight Stage. Ele funciona praticamente como um jogo do gênero visual novel, ou seja, toda a trama se desenrola por meio de textos, com eventuais escolhas no meio do caminho. De tempos em tempos, aparecem sessões de ritmo que precisam ser vencidas para avançar.

Já o Free Dance Mode, como o nome sugere, permite jogar qualquer música livremente, como em um título de ritmo tradicional. Há quatro níveis de dificuldade e cada composição musical conta com um personagem específico. O legal nesse modo é que é possível trocar a roupa dos heróis, com direito a acessórios e tudo mais — as vestimentas afetam também a performance e podem deixar tudo mais fácil ou difícil. Todas essas roupas são compradas em uma lojinha com o dinheiro obtido ao completar os estágios. O tema de “laços entre amigos” fica bem aparente aqui: caso o jogador se saia muito bem na música, um outro personagem aparece e a dupla executa uma dança coordenada.

E não faltam músicas para se dançar em P4DAN. O jogo conta com 27 composições, entre versões originais e arranjos. Há novas músicas exclusivas, como o tema de abertura “Dance!” e o encerramento “Calystegia”, porém a quantidade é bem reduzida. Na verdade, boa parte das faixas disponíveis são remixes que contam com uma pegada mais “discoteca”, ou seja, até mesmo músicas lentas receberam uma versão mais agitada. Essa decisão foi recebida com controvérsia: alguns fãs criticaram muito alguns arranjos utilizados no jogo, justificando que se afastam demais da proposta musical central de P4.

Por ser um spin-off, a Atlus tomou algumas liberdades no que diz respeito aos personagens jogáveis. Além dos heróis de Persona 4, em P4DAN também podemos controlar Nanako Dojima e Margaret. Kanami Mashita, uma das novas personagens, também participa das “batalhas dançantes”. Alguns personagens são liberados via DLC pago: Marie, Tohru Adachi e a vocaloid Hatsune Miku. Ver esses personagens dançando e interagindo entre si é com certeza uma das características mais divertidas do jogo. Tudo isso fica ainda mais impressionante por conta dos modelos bem-animados e detalhados de todos os heróis.


Problemas no desenvolvimento e críticas

Dancing All Night não teve desenvolvimento completamente tranquilo. Inicialmente, o jogo foi anunciado como uma parceria entre a Atlus e a Dingo, uma desenvolvedora que participou da produção de títulos da série de ritmo Hatsune Miku: Project Diva. Mas a Atlus decidiu assumir a produção no lugar da Dingo durante o desenvolvimento. O motivo disso, segundo o diretor Kazuhisa Wada, era para garantir a qualidade do título, o que resultou em adiamento do lançamento. Observando com atenção algumas imagens liberadas pela produtora durante o desenvolvimento, é possível ver que a jogabilidade aparentemente seria distinta, algo próximo da série Hatsune Miku. Contudo, o produto final apresenta mecânicas que lembram um arcade da Sega chamado Maimai, um resultado completamente diferente do proposto de início.
As mecânicas de jogo mudaram durante o desenvolvimento
Não há como saber como essas alterações impactaram o jogo. Mesmo assim, a recepção do título foi boa e com vendas dentro do esperado. Contudo, muitos jogadores ficaram incomodados alguns aspectos do título, principalmente a baixa dificuldade (mesmo nos níveis mais altos) e a relativa simplicidade das mecânicas de ritmo, quando comparadas a outros jogos do gênero. Alguns fãs criticaram até mesmo existência do título, pois eles acreditam sair completamente do tom da série — muitos o consideram completamente desnecessário e sem nenhuma relação com os temas de Persona ou Shin Megami Tensei.

Um ritmo que deu certo

Persona 4: Dancing All Night foi uma iniciativa ousada da Atlus. O título é uma aventura de ritmo interessante que conta com as várias características marcantes de Persona 4, como personagens, atmosfera estilosa e até mesmo a presença de uma trama elaborada. É divertido (e também inusitado) ver Yu Narukami e seus amigos executando coreografias complexas a fim de acumular “poder de dança” para acabar com as Shadows — chega até ser estranho ver personagens sérios, como Naoto e Kanji, arrasando na pista de dança. O jogo é claramente pensado para os fãs mais fervorosos da franquia, contudo a ótima trilha sonora e as mecânicas acessíveis podem agradar qualquer um. Sendo assim, Persona 4: Dancing All Night é um jogo que mostra a versatilidade da franquia.

Revisão: Bruno Alves

é brasiliense e gosta de explorar games obscuros e pouco conhecidos. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de boardgames, game music, fotografia e livros. Além de mostrar seus cliques no Flickr, tem também um blog onde escreve sobre inúmeros assuntos e também pode ser encontrado no Twitter.

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