Já o primeiro, Innocent Sin, só chegou ao ocidente através do seu remake para PSP. O título traz, talvez, uma das maiores polêmicas da história dos jogos: Adolf Hitler é um dos personagens e inimigos da campanha. O mais interessante é que a aparição da nefasta figura histórica faz sentido mediante o enredo de Persona 2.
Os dois jogos retratam o nosso mundo em um contexto no qual os rumores se tornam realidade. Além desse conceito ser bem interessante para refletirmos sobre a situação dos nossos personagens, ele cria situações ímpares durante a narrativa. Inclusive, ele próprio se coloca em um sistema de jogo que leva isso em consideração. Os personagens principais espalham rumores para alterar a realidade quando for necessário.
Mas, o tal rumor de que Adolf Hitler poderia estar vivo mexia em um grande tabu do ocidente, mesmo ele estando ao lado de um exército de demônios no contexto do jogo. Mas, a situação toda começa de uma forma muito mais normal, com adolescentes comentando sobre eventos macabros ligados à figura de um ser chamado Joker.
É legal como essa característica de Persona, de usar jovens e o ambiente escolar, casa muito bem com uma época de incertezas. Uma época em que os adolescentes se apresentam para o mundo vestindo máscaras que vão se formando aos poucos, muitas vezes dependendo de interlocutores. A ideia dos rumores se tornarem verdadeiros é uma analogia que casa muito bem com a vida dos jovens em um ambiente coletivo.
Persona 2 lida bastante com as decisões tomadas anteriormente pelos personagens e com a maneira com que eles próprios estão intimamente ligados com a aparição do Joker e a tudo que acontece ao longo do enredo. A história dos dois jogos é pesada, com tons sinistros e melancólicos em boa parte do tempo. Ora, todo o enredo de Eternal Punishment se desenrola em uma realidade paralela na qual os personagens se esquecem de tudo o que aconteceu para salvar a protagonista do segundo. Existe aqui uma carga ainda mais dramática se ela, Maya Amano, fosse o interesse romântico do protagonista de Innocent Sin. O jogo todo representa, realmente, uma existência em punição.
O que há de história e desenvolvimento de mundo em Persona 2 não passa desacompanhado pelos sistemas e mecânicas de jogo. Os dois títulos também são pesados em relação ao trabalho exaustivo que cada um provoca. São horas de evolução de personagens e Personas para chegar até o fim. E as batalhas costumam ser bastante tensas, em especial os confrontos com chefes e criaturas especiais.
O cast de Eternal Punishment. Mesmo com alguns membros repetidos, é uma turma bem diferente da de Innocent Sin. |
Não existem muitas diferenças entre o sistema de batalha dos dois títulos. E também não há uma diferença visual de um para o outro. Essa diferença visual existe, porém, se compararmos com o primeiro jogo, Revelations: Persona. Em Persona 2, passeamos pelas dungeons em terceira pessoa, o que é diferente do primeiro. Isso coloca as sequências mais em conformidade com o que se fazia no gênero na época, distanciando um pouco mais Persona de Shin Megami Tensei.
Mas, a necessidade de conversar com os Persona está presente em Innocent Sin e Eternal Punishment. Se no primeiro cada personagem possuía várias opções de abordagem, no segundo cada um tem uma única. Isso pode até parecer um retrocesso, mas, na verdade, é uma das novidades mais interessantes da sequência.
Você pode fazer com que um personagem converse sozinho com o demônio, e isso gera interações interessantes que já aconteciam em Innocent Sin. A novidade é a possibilidade de unir personagens, gerando uma abordagem nova e, sobretudo, interações entre os próprios personagens. Isso é interessante para que mais camadas das máscaras dos personagens apareçam para o jogador. Uma forma bem legal de combinar enredo e mecânicas.
As versões de PSP receberam um tratamento bem cuidadoso, fazendo com que elas sejam as versões mais indicadas para aqueles que não possuem a curiosidade pela história da série. Infelizmente, o remake de Eternal Punishment não chegou oficialmente ao ocidente e acabamos sentindo uma diferença bem grande entre o remake de Innocent sin e o Eternal Punishment original para PlayStation.
Algumas melhorias na performance foram adicionadas ao jogo, como loadings menores e uma melhora na interface, ainda que não fosse alterado o sistema de batalha (no caso de Innocent Sin, seu remake aproxima-se do sistema da continuação). Os remakes também trazem opções para acelerar cenas e batalhas, elementos que, infelizmente, sofrem com o ritmo antiquado do PS. Também há mais conteúdo, como um novo capítulo em Eternal Punishment que se divide em três partes.
Persona 2, em suas duas e extensas jornadas, traz uma experiência singular. São jogos muito bem feitos, mas pesados em seu enredo e em suas mecânicas e sistemas. Ele caminha em direção a uma era mais moderna da série, que se iniciaria com Persona 3, mas ainda dialoga diretamente com Shin Megami Tensei, muito mais até do que suas sequências.
Os dois títulos talvez representem o mundo mais pesado da série spin-off, aliado a um enredo e personagens que lidam com sérios problemas. Os próximos jogos definiriam Persona como conhecemos hoje, mas Innocent Sin e Eternal Punishment permanecem como importantes, e absolutamente interessantes, capítulos dessa história.
Revisão: Érika Honda
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