Em 2014, durante a Games Development Conference, a Sony anunciou ao mundo o seu mais novo aparelho. Com o nome provisório de Project Morpheus, a produtora deu o primeiro passo na área da realidade virtual, deixando muitos curiosos e outros tantos céticos, já que sua proposta é a de revolucionar o mercado.
Apenas repórteres e a mídia especializada tiveram a oportunidade de testar o Morpheus, já que ele ainda está em desenvolvimento. Por conta disso, e da tecnologia futurista, a sensação que tínhamos é a de que seria algo que demoraria a ser lançado e custaria fortunas — as chances de dar errado pareciam ser enormes. Evitando criar uma previsão negativa, a Sony declarou que os planos de lançar um console com suporte à realidade virtual já existiam desde a criação do PlayStation 4: é esse o motivo de o controle Dualshock 4 ter luzes na parte frontal.
Se ao jogar Sport Champions, no PlayStation 3, já nos impressionamos com a interatividade, imagine ver seus braços segurando espada e escudo! |
O produto mostrado até agora está longe do que veremos nas prateleiras. Além dos fios, que devem deixar de existir, a Sony trabalha intensamente para tornar a experiência confortável e duradoura — como será possível enfrentar horas de jogo com um aparelho no rosto, enquanto suamos e nos movimentamos? O futuro, em breve, dirá.
Todos querem outras realidades
As reações ao colocar o Oculus Rift pela primeira vez costumam envolver bocas abertas e expressões de surpresa. |
O Morpheus não foi o primeiro óculos de realidade virtual a ganhar destaque na mídia. O Oculus Rift é um projeto que começou no Kickstarter, arrecadando milhões de dólares com algo que parecia ser simples e inovador. Em pouco tempo, a empresa já havia sido comprada pelo Facebook, despertando o interesse de muitas outras desenvolvedoras — se o Mark Zuckerberg aposta nisso, quem somos nós para duvidar?
Atualmente, há dezenas de empresas criando produtos similares. Há até mesmo uma versão brasileira, em que é possível colocar seu aparelho celular para servir de tela, o Beenoculos. Mas se originalmente os óculos de realidade virtual trariam uma nova visão aos games, por que companhias de áreas tão diferentes se interessaram pelo produto?Não é difícil imaginar o futuro da realidade virtual. Já visto em dezenas de filmes e livros no passado, poderemos nos teletransportar para diversos espaços sem sair do sofá de casa. Com o auxílio da internet, não haverá limites. Será possível participar de aulas, shows, eventos esportivos e até mesmo conversas com amigos como se estivéssemos presentes no local. Viajar pelo mundo se tornará muito mais fácil, o que incluirá visitas a museus e locais históricos, ajudando a disseminar culturas e línguas. Os videogames serão apenas parte de uma revolução que logo estará acessível.
Além da realidade virtual, há também os óculos de realidade aumentada. Isso inclui o Google Glass, que funcionará como uma tela de computador acoplada nos nossos óculos, interagindo conosco como uma secretária, e também o recentemente anunciado HoloLens, da Microsoft. Apesar de ser anunciado como um produto que traz hologramas ao mundo real, ele estará capturando o ambiente ao redor e adicionando elementos reais a ele.
As diferenças entre as duas tecnologias são grandes, mas o futuro parece tender a uni-las. Assim que os aparelhos estiverem aperfeiçoados, leves e confortáveis, deveremos conseguir criar ambientes virtuais mesclados com os reais — já imaginou jogar uma versão de P.T. usando o seu próprio apartamento como cenário? Você pode ver isso acontecendo mais cedo do que imagina.
O que já existe
O Morpheus, diferentemente dos outros aparelhos, terá uso praticamente exclusivo aos jogos. Para que pudéssemos entender um pouco das suas capacidades, a Sony mostrou algumas demonstrações aos jornalistas que estiveram na GDC e na E3 do ano passado. Mesmo sem haver qualquer relação com grandes games, muitos saíram impressionados.Diferentemente do que muitos pensam, o Morpheus é leve e confortável. O encaixe da cabeça faz com que o seu peso seja sustentado pela parte de trás do pescoço, eliminando o desconforto. Fones de ouvido ainda precisam ser colocados pelo jogador, mas tudo indica que a versão final terá saídas de som próprias.Uma das demonstrações mais curiosas envolve colocar o jogador no fundo do mar, com diversos peixes ao redor. O controle do personagem é limitado a um pequeno espaço, mas permite ter visão de 360 graus ao redor de si, em três dimensões. Em certo momento, um tubarão se aproxima, fazendo com que os usuários tenham o impulso de desviarem do seu caminho. No fim, quando ele abre a boca e engole o jogador, a sensação foi sempre a mesma: todos se cobrem e tentam se proteger. Aparentemente, tudo é muito real.
Outra demonstração que recebeu muita atenção colocava o jogador diante de um boneco de madeira. Enquanto segurava dois controles PlayStation Move, eles desferiam socos fazendo movimentos com os braços. Alguns problemas foram apontados, como a dificuldade de aproximar o jogador do boneco e o rastreio indevido em alguns momentos, mas tudo pareceu ser esquecido quando um dragão entra em cena e ataca. A sensação de tamanho é dita como realista, o que os fez perder alguns segundos observando enquanto eram queimados por um ataque.
Uma das promessas da Bandai Namco é um jogo para o Morpheus onde o jogador interagirá com uma mulher, para ter aulas e conversar. Muitos já conseguem prever conteúdos sexuais relacionados a isso. |
Na GDC deste ano, que ocorreu há pouco, novas demonstrações foram feitas. Os que puderam experimentar disseram vivenciar melhorias gigantescas. Para a E3 deste ano, a Sony promete mostrar games que estão sendo feitos para o Morpheus, e garante que o lançamento ocorrerá no primeiro semestre de 2016.
Incertezas
O mercado de games não tem um bom histórico de periféricos. Mesmo os que aparentaram mudar o cenário de alguma forma não conseguiram mudar a maneira como jogamos: não há nada como deitar no sofá e apertar botões em um controle. O Wii tentou trazer os Wiimotes, que tirariam o jogador da inércia e o fariam se movimentar, além de trazer pessoas sem experiência ao fantástico universo da Nintendo. Curiosamente, a ideia funcionou por muito tempo, mas já não impressiona mais; o novo controle do Wii U coloca o jogador de volta no sofá.De maneira semelhante, o Kinect resolveu eliminar de vez o controle dos jogos. Apesar de ser apelativo e atrativo a todos, a execução era falha: movimentos não são (até hoje) fielmente reproduzidos e seus comandos por voz chegam a frustrar, tamanha a ineficiência. Jogos como Just Dance (Multi) e Dance Central (X360) ainda fazem bom uso do aparelho, mas o controle do Xbox One ainda é o melhor jeito de aproveitar a maior parte dos jogos da empresa.
Se com o Nintendo Wii diversas televisões foram danificadas com controles que se soltaram das mãos de usuários, imagine o que veremos com a chegada da realidade virtual. |
Tendo tudo isso em vista, seria possível que o ato de utilizar óculos de realidade virtual se torne uma prioridade aos jogadores? Se a resposta for positiva, isso deve demorar para acontecer.
O maior diferencial do Morpheus é o fato de ele não tentar mudar a maneira como jogamos — ainda utilizaremos o controle, normalmente. Ele apenas colocará o jogador dentro daquele espaço, sem que ele precise de uma televisão de 120 polegadas para isso. Mas os problemas começam com o fato de que, para jogar, teremos que estar sozinhos e em um lugar longe de qualquer perigo.
Assim como conseguimos prever a surpresa dos jogadores com as funcionalidades do Morpheus, também imaginamos o número de acidentes que ele causará. Como o jogador saberá que seu quarto está pegando fogo se estiver com os olhos e ouvidos ocupados em uma missão de Final Fantasy? Diversos websites surgirão com vídeos de pessoas caindo enquanto jogam, ou destruindo ambientes inteiros. Esse é o tipo de tecnologia que só será popularizada quando encontrarem maneiras de situar o jogador no espaço real ao mesmo tempo em que ele está no virtual. É uma tarefa muito difícil!
Um plano certeiro
A Sony parece ter aprendido com os seus erros do lançamento do PlayStation 3. Com um novo console menos caro e com hardware muito mais interessante, ela tem tudo para fazer com que o Morpheus seja um periférico de sucesso, e que agregará muito aos seus jogos. Contudo, há algumas coisas que ela precisa fazer. São elas:Vale apontar que alguns grandes títulos podem ser lançados na mesma época que o Morpheus, o que pode indicar a sua funcionalidade neles. Uncharted 4 (PS4) foi recentemente atrasado para o início de 2016, e tudo indica que Final Fantasy XV (PS4/XBO) dê as caras antes do meio do ano. Seja como for, estamos ansiosos pelo seu lançamento. Dando certo ou não, é inegável que estejamos passando por um período de transformações e inovações no mercado de games, e isso é sempre uma coisa boa.
- Criar jogos feitos para o Morpheus. Adaptar jogos que já existem pode ser algo divertido, mas a verdadeira imersão vai acontecer quando pudermos aproveitar o seu potencial máximo;
- Não mudar a maneira como jogamos. Não queremos ter que ficar em pé, fazendo movimentos estranhos para que o personagem pule. Deixe o controle na mão do jogador, e sua mente fará todo o trabalho de imersão;
- Não obrigar os jogadores a comprar o Morpheus. Quando toda a família estiver reunida, ninguém vai querer usar um aparelho tão solitário. Sempre deve haver a opção para jogar sem ele, para todos os jogos;
- Dar suporte a jogos antigos. Mesmo não sendo uma experiência completa, visitar mundos de games de sucesso será um grande motivo para jogar alguns clássicos novamente;
- Não obrigar os jogadores a comprar o mesmo jogo, só para que tenha suporte ao Morpheus. Há internet, e mesmo que o arquivo seja grande, uma atualização deve dar conta do serviço;
- Trazer um aparelho leve, confortável, sem fios e com uma bateria que dure o suficiente para uma longa partida pela madrugada;
- Vender por um preço razoável, ao menos no exterior. Aqui no Brasil, não há esperanças.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Felipe Araújo
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