Mesmo com gráficos espetaculares, The Order: 1886 não inova e tem pouco gameplay entre muitas cenas de diálogo, com alguns momentos divertidos.
Com poucas informações desde o seu anúncio, The Order: 1886 parece ser o primeiro grande jogo para a nova geração da Sony. Em alguns vídeos divulgados, era possível ver uma enorme evolução gráfica e expressões faciais que poderiam se igualar a muitos filmes de animação, algo ainda não visto nos games. Prometendo jogabilidade semelhante a Gears of War, o jogo será lançado no dia 20 de fevereiro no mundo todo, mas já vem recebendo críticas negativas por quem o testou no ano passado. Por conta da grande campanha publicitária da Sony, a esperança era a de que o jogo provasse que estavam errados. Graças a ela recebemos uma cópia antecipada, e deixamos aqui a nossa opinião.
Um início conturbado
Ao iniciar o jogo no PlayStation 4, já sentimos um pequeno descuido. Pode parecer um detalhe, mas gostamos de jogar com o áudio original e legendas em português, o que não é possível. The Order: 1886 obriga o jogador a utilizar áudio e legenda na mesma língua, e ainda utiliza letras extremamente pequenas (uma tortura aos que não têm visão perfeita). Logo no começo, somos colocados perante um longo vídeo de abertura com elementos em Quick Time Event. Não há segredo — basta apertar os botões no momento correto para que a história prossiga, ou o jogador é obrigado a voltar ao último momento salvo pelo console.
A cidade de Londres foi fielmente refeita, e parece ser real em diversos momentos.
Um fato é inegável: The Order: 1886 tem os melhores gráficos já vistos no console da Sony, talvez até na geração atual. Os elementos de luz e sombra são extremamente realistas, dando a sensação de serem fotos em diversos momentos. É uma pena que, devido à linearidade exagerada do jogo, seja impossível interagir com os elementos do cenário, limitando o jogador a apenas apreciar os arredores. A proporção da imagem, como já anunciada pelos desenvolvedores, corta um pouco as partes superior e inferior, assim como já é feito em alguns filmes atuais. Mesmo sabendo que isso foi feito para aumentar as visões laterais, vimo-nos irritados várias vezes por não utilizarmos toda a tela da televisão.
Muitas vezes o jogo tem visuais tão incríveis que esquecemos de jogar, apreciando os arredores.
As animações, que haviam sido criticadas por muitos websites e revistas, parecem ter recebido um enorme tratamento. Não há problemas sérios, e tudo parece muito fluido. Alguns personagens têm, de fato, os mesmos movimentos, mas isso não incomoda quando são apenas alguns em meio a tantos. Aliás, parece que a equipe queria mostrar do que eram capazes visualmente: os poucos objetos que sofrem interação são lindos, mas quase nunca têm utilidade. O jogador se verá pegando cachimbos, bonecos e até mesmo armas, e poderá examinar tudo de pertinho… sem ganhar nada por isso.
Um dos (poucos) objetos que podem ser examinados parece familiar.
Entre vídeos, há jogo!
Nenhum game se sustenta com gráficos maravilhosos, então, a Ready at Dawn se concentrou em criar uma narrativa única. Infelizmente, a maneira que encontraram para fazer isso envolve transformar o jogador em espectador: quase metade do jogo é preenchido por vídeos (em tempo real, o que realmente impressiona) sem qualquer tipo de interação. Há diversos jogos que fazem isso, como Metal Gear Solid 4, mas é preciso que nos identifiquemos com a história e personagens ao ponto de pegarmos a pipoca e aproveitarmos o momento. The Order: 1886 falha neste quesito. Com personagens nada cativantes e que pouco mudam, o tédio toma conta várias vezes e é impossível pular as cenas. Somente após o oitavo capítulo, começamos a nos interessar pela trama.
Entre um vídeo e outro, o jogador é colocado para jogar. A sensação de controle é incrível, pois não há nenhuma diferença de imagem entre as histórias e o gameplay, nem mesmo telas de loading. Para os que já jogaram Uncharted e The Last of Us, não há novidades, pois quase tudo funciona da mesma maneira — inclusive os problemas. Com um botão, é possível se esconder atrás de um objeto que esteja na sua frente, mas é muito difícil ir de um ponto a outro sem ficar vulnerável. Ao apertar L2, a arma é sacada e basta tocar em R2 para atirar. Aperte X e o personagem pula. Todos os outros botões necessários durante o jogo aparecem na tela.
Ficar pendurado é algo comum nos jogos, e mesmo sendo divertido, acontece pouquíssimas vezes.
Durante toda a aventura, o botão triângulo é o que mais faz ações. Ele é responsável por abrir portas, interagir com os (poucos) objetos, atacar, entre outras coisas. Há elementos de escalada, como vemos em Assassin’s Creed, mas que ocorrem pouquíssimas vezes. Também é possível desviar de granadas ao apertar X no momento certo. O game faz questão de mostrar tudo o que pode ser feito em todos os momentos, facilitando demais a vida do jogador.
A (falta de) Inteligência Artificial
Fácil é uma ótima palavra para definir The Order: 1886. Durante os poucos momentos em que o jogador participa de tiroteios, a Inteligência Artificial dos inimigos chega a ser engraçada, de tão fraca. Basta correr em direção a um atirador para apertar triângulo e assassiná-lo brutalmente, mesmo que ao redor haja muitos outros atirando. Aliás, muitas vezes eles estão na sua frente e nada fazem. Os poucos momentos difíceis são os que há um soldado que utiliza armaduras, tornando sua resistência maior. Contamos seis vezes em que ele aparece.
Morrer é uma tarefa difícil. Assim como em Uncharted, quando o personagem recebe muito dano, sua tela escurece até que perca toda a energia. Mas, em The Order: 1886, o personagem carrega um líquido chamado Black Water (água negra) que recupera a vida e, antes de morrer, é possível apertar alguns botões para que ele retorne ao jogo recuperado dos danos (pode ser utilizada novamente após matar muitos inimigos). Quando isso não ocorre e o personagem morre, a tela simplesmente fica escura, sem qualquer animação, e tudo volta ao último ponto de salvamento. Portanto, prepare-se para morrer muitas vezes sem saber o motivo.
Um dos momentos mais esperados do jogo, de acordo com os desenvolvedores, é o confronto com os Lycans (um ser que lembra lobisomens), por ser diferente de todo o resto. Novamente, o jogador irá se deparar com ações repetitivas e a necessidade de pressionar botões no momento correto. No início, é preciso atirar freneticamente até que o Lycan chegue perto, momento em que o botão X deve ser pressionado para desviar de seu ataque. Essa ação se repete até que ele caia no chão, e então será preciso chegar perto e matá-lo com um golpe. Conforme o jogo progride, o Lycan mais forte aparece, e a batalha com ele é apenas mais um Quick Time Event, tirando boa parte da experiência das mãos do jogador.
É preciso ter paciência
The Order: 1886 não é feito apenas de vídeos e tiroteios, e há momentos que fazem o jogo valer a pena. Mesmo não trazendo nada de novo, é preciso se esconder e matar inimigos por trás, sem fazer barulho. A Inteligência Artificial parece ser melhor nessas cenas, fazendo o jogador ser pego várias vezes e tendo que planejar bem o ataque. É uma pena que haja poucas vezes em que seja preciso agir assim.
Basta um movimento em falso para tomar tiros e ter que refazer todos os passos.
Mais uma vez, a dublagem brasileira está aquém da americana. Enquanto as vozes originais transmitem naturalidade, as do nosso país parecem ter sido gravadas sem acompanhamento visual. Isso é perceptível quando só há dois personagens na tela e um chama o outro de “vocês”. Houve também um momento, no capítulo onze, quando uma fala não foi traduzida. A iniciativa de trazer o jogo para um país em sua língua é muito boa, mas falta qualidade para que valha a pena jogar em português. Confira abaixo o mesmo vídeo divulgado pelos desenvolvedores, com a dublagem feita por aqui:
Um ponto positivo do jogo é sua ambientação. O clima nos coloca de volta a Londres nos anos 1880, com uma trilha sonora incrível e objetos do cotidiano da época que são estranhamente familiares. Alguns deles são criações de Nikola Tesla, um famoso cientista que tem papel fundamental na narrativa, e funcionam como mini-games em vários momentos. Abrir portas, desativar fechaduras e utilizar o monóculo são tarefas que exigem ritmo e utilizam outras funções do controle, como o touchpad. Apesar de fáceis, divertem quando acontecem.
A ponta do iceberg
Após a metade do game, quando todos os elementos já são controlados facilmente pelo jogador, a história se prende e tudo parece fluir melhor. Nem mesmo a falta de coisas para fazer além da história principal parece incomodar mais, e alguns capítulos são extremamente divertidos — as batalhas no dirigível lembram muito o navio em Uncharted 2. Diversas missões com muita ação aparecem em sucessão, e a narrativa começa a captar a atenção. Infelizmente, o jogo acaba inesperadamente, com pouca duração e sem solucionar as tramas propostas. O chefe final é derrotado através de Quick Time Events, sem mostrar qualquer dificuldade. A sensação que fica é a de que deveria haver mais conteúdo e desafios ao jogador.
Algumas criaturas aparecem durante o jogo, mas não tem função alguma no gameplay.
The Order: 1886 teria sido muito melhor se pudéssemos jogar mais ao invés de observar — há capítulos inteiros apenas de vídeos —, e se tivesse missões com maior duração e diferentes elementos pelo cenário. Mesmo as salas escondidas pouco ofereciam, contendo apenas armas e arquivos de áudio para ouvir posteriormente. O investimento de 180 reais pode não valer a pena para quem busca uma experiência que dure mais do que 7/8 horas, e não há nada que instigue a jogar novamente, já que não há nenhum modo online ou DLC anunciado.
Em uma cena após os créditos, há o anúncio de que o jogo terá continuação. Não conseguimos sentir felicidade com a notícia, mas esperamos que a Ready at Dawn aprenda com os seus erros e traga uma experiência mais imersiva no seu próximo trabalho. Este é um exemplo perfeito de como gráficos não conseguem salvar um jogo que traz poucos momentos de diversão, mas que deixa um gostinho do potencial da nova geração e que nos fazem pensar sobre o que veremos nos próximos anos.
Leandro Rizzardi
se aventura nas terras de redação de games, livros e roteiros de fantasia. Extremamente apaixonado por universos imaginários, descobriu nos videogames o lugar perfeito para viver — o que resultou no crescimento de sua barba. Pode ser encontrado em seu Facebook, quando não estiver jogando.
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