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Análise: Soul Sacrifice Delta (PS Vita) traz o ciclo de morte sem fim da tríade de escolhas

Em um mundo onde a magia é presente, salvar, sacrificar ou deixar que o destino decida pode definir o futuro da humanidade.

“A magia está no ar!” Essa seria a frase perfeita para descrever este título, por envolver magos, contos de fadas, lendas e, claro, magia. Contudo tal frase teria de ser dita com certo sarcasmo ou espanto, pois não é bem algo para se comemorar... ao menos não em um mundo onde as trevas estão por todos os cantos; magos cedem suas vidas para realizar feitiçarias e no fim tornarem-se aberrações; onde os mais belos contos de fadas podem virar o pior dos pesadelos.




Desenvolvido pela PlayStation Japan em parceria com a Shift, responsável por títulos como Gods Eater (PSP) e Freedom Wars, e a Comcept, empresa independente fundada por Keiji Inafune, responsável por títulos de grande renome como MegaMan, Dead Rising e Onimusha, Soul Sacrifice Delta traz a fantasia de um mundo macabro e sem nenhuma piedade ao PS Vita, sendo a expansão do título, contando com muito mais conteúdo, melhorias tanto técnicas quanto da estória que o jogo apresenta, mais magias e contos macabros.

Será que o horror melancólico conseguiu ser uma boa jogada para o PS Vita? Confira conosco no triste clima que hoje apresenta.


Recomendo que execute a música para poder entrar no clima do texto, caro leitor.

A gente acaba dormindo antes da história acabar

Imagine um mundo onde a magia é frequente, contos de fada e lendas como “Chapeuzinho Vermelho” e “Os Três Porquinhos” são reais e magos vivem por toda  parte, protegendo as pessoas do mal. Seria o mundo perfeito, não? Se depender de Soul Sacrifice não seria.

O jogo se passa em uma Terra onde a magia reina, mas para isso é necessário sacrifício. Nesse mundo, os seres que nós conhecemos como seres fantasiosos e extraordinários de contos de fada, são monstros aterradores que transbordam ódio e ganância. Tais monstros são a forma tomada de um ser humano cujo desejo ultrapassou a limitação da alma, transformando-os em monstros. Outros são animais que, de algum modo, foram infectados por magia e acabaram se transformando em pequenos demônios.
Acredite, caro leitor, esta é a Branca de Neve.
Para combatê-los, a humanidade conta com o trabalho dos magos. Os magos são feiticeiros que aderem a algo considerado como uma maldição em seu braço direito para poder utilizar vários tipos de magia. Ao caçar e derrotar o monstro, o mago possui a opção de salvar ou sacrificá-lo. Mas nem por isso são muito bem vistos. Até porque, caso utilize muito de seu poder, pode acabar sucumbindo ao poder que possui, transformando-se em um monstro per si.

É aqui que sua história inicia

Soul Sacrifice Delta coloca o jogador na pele de um prisioneiro capturado pelos monstros de Magusar, um onipotente mago que agora domina o mundo. Magusar tem como finalidade sacrificar seus prisioneiros. O jogador, já na cela, conhece um outro prisioneiro, este que tenta escapar ao chegar a hora de seu sacrifício, o que, para variar, acaba dando errado e o matando.

Após todo esse caos, o protagonista acaba sendo chamado por um livro peculiar em meio às ossadas. Se apresentando como Librom, um livro mágico falante que, a seu modo, pode ajudar o jogador a sair daquela prisão e enfrentar Magusar. Ele diz ser um diário de um antigo mago que já lutou contra o feiticeiro e que é a vez do protagonista utilizá-lo para aprender os segredos da magia e descobrir o que houve com o mundo, para assim poder derrotar o funesto feiticeiro .
Embora sempre mal-humorado, Librom possui um ótimo senso de humor.
Para isso, o jogador terá de lê-lo e reviver as memórias ali escritas, aprendendo sobre a magia, o mundo em si e a história do misterioso mago que o escreveu, além de aprender mais sobre o vilão, claro. Contudo, muitas reviravoltas poderão ocorrer, dando direito  até mesmo a certas alterações na história por confusões do próprio Librom.

O extermínio é a única opção, sua obrigação

Sendo assim como Freedom Wars e outros títulos, um jogo de aventura com elementos de RPG e caça, como Monster Hunter, Soul Sacrifice Delta funciona também com missões, nas quais o jogador revive as memórias das batalhas contidas em Librom,  completando assim a narrativa do jogo.

Por ser um livro falante, Librom dita as histórias contidas em si, o que em alguns momentos o faz parar para explicar alguns fios que podem ter ficado soltos. Por este motivo, o jogo não possui muitas cutscenes, apenas no início e no fim, algo que de modo algum prejudicou a narrativa.
Librom narra as histórias contidas em si. Cada capítulo conta com uma parte da jornada do feiticeiro.
Contudo, Librom tem um certo delay quando inicia uma nova frase, fazendo um longo intervalo dentre elas, algo que pode irritar um pouco, caso o jogador se interesse em ouvir a história, ao invés de apenas lê-la.

A imagem do feiticeiro

O jogador pode montar a aparência do próprio personagem para poder entrar na missão, contando com certa variedade de customizações, dentre elas voz, aparência, roupagem e etc, além de haver a possibilidade de alterar a aparência de seu braço direito e as oferendas que pode utilizar. Como fora das missões a visão é em primeira pessoa, é possível alterar o gênero, voz e aparência do personagem da forma que desejar, sem limitações impostas pela história.
Por possuir visão em primeira pessoa no mundo real, o protagonista pode ser alterado da forma que o jogador quiser.
O jogador, para lutar contra os monstros, fará uso de oferendas. As oferendas são as magias disponíveis para uso. O personagem pode levar em seu braço direito, que é o sacrifício necessário para utilizá-las, até seis magias diferentes, partindo de vários elementos, sendo de sangue, pedra, veneno, trovão e outros. Cada magia pode ter até cinco níveis, sendo estes os que definem o dano que aquela magia possui, além de haver um limite de uso que dependerá do nível de aprimoramento que o jogador dará.

Ainda no braço direito, é possível adicionar selos mágicos que são  responsáveis por dar mais algum atributo às características naturais do personagem, impulsionando o desempenho do mesmo, seja no ataque, defesa ou na barra de HP. É possível adicionar até cinco sigilos mágicos, sendo que, caso combinem, é possível que entrem em ressonância, amplificando ainda mais os atributos, além de poder alterar a aparência do braço em si com um sexto sigilo que pode ser obtido nas missões ao derrotar os monstros e adquirir partes da alma dele, como recompensa pela missão, ou apenas acompanhando a história principal.
Os sigilos são realmente muito úteis, mas leva certo tempo para aprender a utilizá-los.
Contudo, a customização da roupagem e algumas partes da aparência do personagem em si, embora possuam uma diversidade, são pouco variadas, dando certa quantia de roupas para compra no bazar em troca de oferendas, ou conseguindo elevar o nível de afinidade com certo parceiro ao máximo, ganhando assim a roupa deste. É possível fazer a própria combinação de roupas, com isso entende-se torso, pernas e acessório (cabeça), sendo que o último só é possível caso o acessório seja separado da roupa ou adquirido em alguma missão de desafio.

Que inicie a caça aos monstros!

Assim como em Monster Hunter e outros jogos inspirados, Soul Sacrifice tem a jogabilidade baseada em missões, as quais são chamadas de memórias ou missões fantasma. Há o modo história, cujo Librom narra o texto escrito em suas páginas e apresenta certas imagens, sendo que no final de cada capítulo uma missão será introduzida.

Ao selecionar a missão, os detalhes desta serão exibidos, dando a possibilidade do jogador se preparar para inicia-la, escolhendo as magias e mais dois magos parceiros que podem realmente ajudar a derrotar os monstros. Eles podem se juntar ao jogador após serem salvos ou se fizerem parte da história principal, sendo controlados pela I.A. do jogo. Ao iniciar, o jogador é absorvido por memórias e sua imagem (a customização) é materializada no momento lá descrito. Partindo daí, a jogabilidade é alterada para a terceira pessoa e a caçada se inicia.
Cada missão é como reviver um pesadelo.
Dentro da missão, é possível utilizar até seis magias próprias e previamente selecionadas, podendo combiná-las, sendo que estas são gastas conforme utilizadas, o que faz da estratégia algo extremamente necessário. É possível renovar seu uso em certos pontos do mapa, localizados pela visão mental, uma visão especial que o personagem possui, possibilitando enxergar certas coisas invisíveis a olho nu, sejam monstros ou oferendas espalhadas pelo cenário.

Além das magias o jogador pode utilizar de um último e poderoso recurso: o Ritual Negro. Os Rituais Negros são evocações lendárias e poderosíssimas que pedem algo em troca de sua utilização, seja a pele, que diminui a defesa, à capacidade de rolar ou até mesmo a própria vida do personagem, fazendo com que esse comece a morrer aos poucos, tendo sua vida reduzida. Para ativá-lo, é necessário levar alguns golpes dos monstros antes.
Ao acionar o Ritual Negro, a animação é demonstrada e... não acho que deve ser algo muito legal de se sentir.
Caso o personagem exceda o limite de gasto das magias ou utilize o Ritual Negro, é possível recuperá-los utilizando as lágrimas de Librom, que são ganhas conforme o personagem realiza missões.

Facções são diferentes clãs dos quais o jogador faz parte. No caso, apenas uma é permitida, mas é possível alternar a qualquer momento. O jogador inicia em Avalon, a principal facção, mas pode alterar para Sanctuarium ou Grim com o decorrer da história, da forma que bem entender. Cada facção possui as próprias índoles, o que gerará certa contagem de pontos ao fim de cada missão, garantindo algumas recompensas.
Ao derrotar algum monstro, este retornará a sua forma original, humana ou animal, deixando para o jogador a decisão final: sacrificar a alma deste, salvar ou deixar que o destino decida. Cada facção possui a própria política a seguir, o que faz com que o personagem ganhe certas recompensas ao fim da missão por realiza-las, mas não é limitado ou obrigado a segui-las.
Cabe apenas ao jogador decidir o que fará com a pessoa ao retornar à forma original.

A morte pelo sacrifício, a salvação pelo sacrilégio ou o destino pela indiferença?

Soul Sacrifice adota um sistema bem desenvolvido para a mecânica de escolhas. Embora não afetem a história do jogo, por se tratarem de memórias e o narrador já possuir uma facção, Avalon no caso, cada uma delas influenciará em algum status do personagem.

Sacrificar aumentará o poder de ataque do braço direito, juntamente com seu nível, que pode ser vista no canto superior esquerdo da tela (barra vermelha), e fará com que o braço seja considerado das trevas. A facção Avalon possui o código: “Todos os montros devem ser sacrificados”, dando maiores recompensas para aqueles que cumprirem os requisitos, como sacrificar os monstros… ou até mesmo os companheiros, durante as missões.

Salvar aumentará o poder de defesa do personagem. No caso a barra azul, a de salvação, sobrepõe a de sacrifício, o braço é dado como divino, podendo utilizar alguns sigilios exclusivos. Sanctuarium é uma facção oposta a Avalon, a única oficialmente reconhecida. Dados como criminosos, Sanctuarium adota a iniciativa de salvar todos os monstros, pois afinal eles já foram humanos e podem retornar a essa forma (sim, eles podem).

Deixar para o destino é o modo mais indiferente e questionável deles. É o mais eficiente de ambos, pois aumenta ambos os lados, divino e negro, ao mesmo tempo, mas o monstro acaba tendo apenas um destino aleatório. O braço que possui os dois lados equilibrados é dado como neutro, o que também pode ter acesso a sigilos exclusivos. Grim é a facção responsável por seu tamanho desdém com relação a isto, contudo, muitos mistérios acabam por rodear tais feiticeiros.

O jogador pode fazer uma das três escolhas disponíveis... cabe apenas a ele fazê-las.
As barras acabam tendo um nível em número, sendo que cada sacrifício, salvamento ou destino dão uma quantia de experiência, fazendo o nível do lado subir, havendo a possibilidade de diminuir o outro. O nível máximo de um lado depende do outro, sendo que ambos não podem exceder cem, podendo ficar 99/1 ou 50/50 e assim por diante. Todas as facções possuem fundadores, motivações e histórias aprofundadas, o que acaba por deixar certa dúvida em qual índole adotar e em qual permanecer. Alternar é algo realmente útil.

Os contos de fadas… das formas mais mortais possíveis

Chapeuzinho Vermelho, Rei Arthur, Cinderela, Branca de Neve e mais. Todas lendas e contos que receberam inúmeras versões diferentes. As mais conhecidas, como sendo da Disney, ou até mesmo as versões dos Irmãos Grim. Contudo, aqui elas não são nada gentis. Branca de Neve amaldiçoada pelo ódio à própria beleza, Chapeuzinho Vermelho carregando o legado da bruxa que é a avó em conjunto com o lobo, a espada do Rei Arthur como sendo um objeto de magia negra mortal. Todos com formas monstruosas e grotescas.
Os Rituais Negros, por exemplo, são originados de lendas antigas, mas de uma forma macabra.
Para se tornar um monstro, é necessário primeiro cair em desgraça de algum modo. Seja por um insensato desejo, um erro cruel ou até mesmo uma escolha mal feita, sendo que em casos extremos, feiticeiros que excedem sua capacidade de sacrifício, são envoltos pelas almas dos sacrificados, transformando-se também. Cada monstro possui suas próprias habilidades e história própria, sendo todos muito bem explicados e aprofundados.

Geralmente as missões que os envolvem possuem cenários propícios a eles, dando-os vantagens elementais. É possível fazer combinações elementais, até mesmo explorando a fraqueza do monstro em questão, utilizando o elemento a que é mais vulnerável. Contudo, mesmo em vasta quantidade, passando de cinquenta tipos diferentes, os monstros são limitados, o que faz com que muitas das missões acabem ficando repetitivas e um tanto enjoativas.
A busca pelo País das Maravilhas fez com que Alice se transformasse em algo um tanto peculiar.

Lutar sozinho ou juntar-se a outros

Como no modo solo há os parceiros, há um modo online suportando até quatro jogadores via PSN com servidores mundiais para cooperação. Embora muito parecido com a modalidade solo, a interação acaba sendo divertida e interessante. Caso o jogador caia, por exemplo, no modo solo com um parceiro controlado pela IA, ele dá a ordem e o parceiro a cumpre, podendo levantá-lo, matá-lo ou escolher a morte por si. Contudo, caso o jogador caia em uma partida online, dependerá da boa vontade dos outros jogadores, algo realmente interessante.

Os modos online estão disponíveis para jogar algumas missões, sejam desafios ou não, o que acaba facilitando um pouco aqueles que planejam terminar o jogo por completo. Contudo, um modo de batalhas PvP acaba por fazer realmente falta, limitando o jogo apenas a jogatinas contra monstros.
O modo online é realmente divertido, garantindo uma boa ajuda de outros magos.

Onde a fantasia e o horror se encontram

Soul Sacrifice Delta é realmente uma obra de arte muito macabra. Seus gráficos otimizados para com a versão anterior,  seu lore muito bem detalhado e explicado, dando ênfase a tudo que se aborda e até mesmo a forma com que as coisas vão se desenrolando com uma narrativa impressionantemente funcional, tendo em vista o risco tomado pelo jogo ao escolher um modo como esse.
Magusar, por exemplo, é um dos personagens que conhecemos melhor durante a narrativa de Librom.
A trilha sonora e a dublagem esplêndidas apenas fazem com que o jogo consiga mais créditos, pois são tão bem feitas que acabam quase que anulando os problemas presentes, isso sem contar o design utilizado tanto nos monstros quanto nos cenários, que também possuem uma história própria. Contudo, estes são um tanto limitados  para o que o jogo propõe, tendo apenas um pequeno número que quebre tal barreira.

Mas é inevitável observar alguns dos erros presentes, que são mínimos, mas ainda são existentes. A baixa variedade em pequenos monstros animais, a repetição demasiada em algumas missões, com inclusões desnecessárias, a limitação de customização do personagem e a falta de um modo versus de jogadores acaba por tirar a perfeição do jogo, mas não o elimina como um grande título, podendo até mesmo ser classificado como um AAA, tendo em vista a vastidão de conteúdo presente e o cuidado que foi tomado ao fazê-lo.

O impacto colocado no jogador também é algo a ser observado, pois não apenas as questões técnicas são avaliadas, mas questões morais do tipo “Devo mesmo matar este monstro? Afinal ele ainda pode voltar a ser um humano!” que levam a outros diversos questionamentos que só aumentam ao se aprofundar na história desse maldito mundo macabro. Sem dúvidas, uma peça rara e um título sensacional presente no portátil.

Além de tudo isso, conteúdos adicionais gratuitos são adicionados com frequência ao jogo, trazendo roupas, monstros e magias de outros títulos famosos do PS Vita, como Gravity Rush, Toukiden e Freedom Wars, algo que realmente acaba prolongando a vida útil do game.

Prós


  • Diversão garantida em tempo integral;
  • Vastidão de conteúdo;
  • Clima macabro e melancólico presente com enorme frequência e na medida certa;
  • Ideias muito bem aproveitadas, trazendo mais versões de antigas lendas;
  • Utiliza boa parte dos recursos do console, dando maior variação à jogabilidade;
  • Dublagem, design e trilha sonora espetaculares;
  • Escolhas do jogo acabam pesando psicologicamente;
  • Narrativa muito bem executada, fazendo jus à história contada.

Contras


  • Pouca variedade em alguns inimigos, o que gera repetição;
  • Algumas missões são apenas encaixes na história, cuja presença não faz diferença;
  • Delay na fala de alguns personagens durante a narrativa do livro;
  • Falta de um modo PvP tira a variedade do multiplayer;
  • Cenários um tanto limitados;
  • Customização de persongens um tanto limitada;
  • A maldição do mundo presente.

Soul Sacrifice Delta - Sony Computer Entertainment - PS Vita - Nota: 9,5

Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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