Imagine ser lançado em um estranho mundo, habitado por criaturas assustadoras e um ambiente hostil. Agora tente sobreviver e escapar desse lugar, contando somente com os materiais que estão espalhados nesse ambiente. Essa é a situação do cientista Wilson em Don’t Starve, título de simulação e aventura para PS4. Lançado originalmente para PC, o jogo da produtora independente Klei Entertainment mistura mundo aberto, sobrevivência e características do gênero roguelike, resultando em uma aventura sombria e de alto desafio.
Caindo em uma armadilha do outro mundo
Wilson é um cientista que está tendo problemas com um experimento. Enquanto estuda algumas fórmulas, algo estranho acontece: uma voz no rádio começa a conversar com ele. O individuo do outro lado do aparelho diz que percebeu a dificuldade de Wilson e afirma que pode ajudar compartilhando algumas informações. O cientista aceita a ajuda e instantaneamente sua mente é invadida por equações e diagramas. Com isso, Wilson cria uma imensa máquina, mas hesita em ativá-la. A voz no rádio insiste que ele ligue o dispositivo, afirmando que ele é seguro. Sendo assim, o cientista toma coragem e põe a máquina em funcionamento. O resultado foi inesperado: mãos fantasmagóricas surgem do objeto e o levam para um mundo sombrio e macabro. Sem outra opção, Wilson terá de explorar o lugar, a fim de tentar voltar para casa.Explorando para sobreviver
O objetivo em Don’t Starve é simples: sobreviver. Para isso, é necessário manter Wilson alimentado e mentalmente são. A jogabilidade é centrada na obtenção de alimentos e na construção de objetos. Wilson pode combinar itens, que resultam em ferramentas ou comida. Por exemplo, ao juntar pedras afiadas e gravetos, o cientista consegue fazer um machado — que, por sua vez, pode ser utilizado para atacar inimigos e cortar árvores. Conforme vai explorando e construindo coisas, novos objetos vão sendo desbloqueados, aumentando assim a chance de sobrevivência. Wilson consegue fazer plantações, cozinhar diferentes alimentos, secar e fritar carnes de monstros e animais. Dominar tudo isso é essencial, já que a comida é muito escassa e a quantidade de inimigos é grande.O jogo conta com sistema de dia e noite. Explorar as regiões, colher materiais, encontrar comida e construir objetos são tarefas ideais para serem executadas com a ajuda da luz do Sol. Quando a noite chega, a situação muda: a temperatura cai, criaturas agressivas aparecem e é difícil desbravar na escuridão. É essencial ter uma fonte de luz e calor para não morrer de frio e para espantar as criaturas das sombras. Além disso, é extremamente importante ficar de olho na sanidade do personagem. Quando este atributo está em baixos níveis, o mundo se altera: sombras monstruosas aparecem, simples coelhos viram terríveis monstros, itens se transformam completamente. Atividades tranquilizantes, como colher flores, observar uma fogueira e criar itens ajudam a manter a sanidade alta.
A parte mais divertida de Don’t Starve é explorar e interagir com o universo do jogo. Por conta do mundo aberto e sem regras, qualquer coisa é possível e as tarefas podem ser feitas de inúmeras maneiras. Um exemplo simples é como destruir um ninho de aranhas assassinas: a maneira mais natural é construir uma lança e matar todos os monstros, mesmo que seja algo muito perigoso por conta da quantidade grande de criaturas. Ou então você pode simplesmente incendiar as árvores próximas e queimar tudo, ao custo de sacrificar fonte de madeira e alimento. Experimentar o que funciona ou não é essencial.
Mundo brutal
Don’t Starve apresenta várias características do gênero roguelike: a morte é permanente, os mundos são gerados aleatoriamente e a dificuldade é bem acentuada. A progressão se dá na forma de experiência: cada dia sobrevivido dá uma quantidade de pontos, que liberam outros personagens com características distintas. A garota Willow, por exemplo, é imune ao dano de fogo — mas coloca fogo nas coisas sem querer quando sua sanidade está baixa. Já Wolfgang tem mais força física ao custo de menor sanidade. Cada personagem altera bem a jogabilidade. Por conta dos mundos aleatórios e dos vários personagens diferentes, cada partida é bem distinta e única. O jogo conta também com um modo Adventure, que possui com missões específicas e expande a trama.A aventura de Wilson é bem desafiadora. Além da grande quantidade de perigos e da escassez de comida, não existem explicações do que fazer. Ou seja, é necessária muita tentativa e erro para descobrir como criar certos itens e conseguir não morrer de fome. Por conta disso, as primeiras partidas são extremamente frustrantes, afinal o jogador não sabe nada sobre o universo do jogo e tudo recomeça do zero a cada tentativa. Mas conforme se aprende as mecânicas e itens, as coisas ficam bem mais interessantes e a experiência se torna mais agradável.
Além da dificuldade que pode ser frustrante, o jogo apresenta monotonia: em muitos momentos você vai só ficar andando pelas localidades explorando e coletando itens, sem muita coisa pra fazer. Felizmente é possível customizar características dos mundos gerados: aumentar a quantidade de itens de comida e diminuir os monstros, por exemplo, tornando a experiência mais acessível.
Beleza assustadora
O visual do jogo é ótimo e lembra um desenho animado bem macabro por conta dos tons pastéis e efeitos que remetem a desenhos antigos. O traço dos personagens é bem sombrio e estranho, lembrando desenhos de papel rabiscados e colados em um mundo 3D. O resultado é uma atmosfera única. A música é simples e só toca em momentos específicos, mas cumpre seu papel — por mais que a quantidade reduzida de faixas torne a parte sonora meio repetitiva.Os comandos de Don't Starve são simples e intuitivos: interagir com objetos e cenário é fácil e a navegação nos menus acontece sem complicação. Um problema tem a ver com o tamanho dos menus: tudo é muito pequeno e em alguns momentos é difícil distinguir os materiais necessários para fazer certos itens, já que ele só mostra uma ilustração, sem texto descrevendo. Nas opções é possível aumentar o tamanho do menus, mas mesmo no tamanho máximo é difícil ver com facilidade as ilustrações.
Sobreviva, se for capaz
Don’t Starve é uma experiência interessante, mas não é para qualquer um. Os principais atrativos são mecânicas interessantes, o ótimo visual e vasto mundo. A geração aleatória dos cenários faz com que cada partida seja única e distinta. Os problemas ficam por conta da alta dificuldade, momentos monótonos e a inexistência de explicações — sendo necessário jogar várias vezes para entender a jogabilidade e sobreviver. Se gosta de alto desafio e de experiências inusitadas, Don’t Starve é uma ótima escolha.Prós
- Ótimo visual;
- Muitas opções de customização de aventuras;
- Mecânicas interessantes e bem pensadas;
- Cada partida é uma experiência única.
Contras
- A falta de explicações pode afastar jogadores;
- A dificuldade e aleatoriedade pode ser frustrante;
- Muitos momentos monótonos e repetitivos;
- Interface dos menus apresenta problemas.
Don’t Starve — PS4 — Nota: 8.0
Revisão: Alberto Canen
Capa: Diego Migueis
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