A Rocket City Studios, desenvolvedora indie responsável por este título, tem sua estreia no mundo dos games justamente com Second Chance Heroes, e basta dar uma lida na descrição da empresa para perceber que eles gostam de apelar para o humor, o que se faz notar com clareza pelo enredo do game: o fim do mundo chega, com direito a hordas de zumbis e invasão alienígena, e os cidadãos do mundo moderno não estão preparados para enfrentá-los devido à exposição exagerada a vídeos de gatinhos, reality shows e fotos irônicas de bacon. Tudo estaria perdido, se não fosse pelo professor de história Hubert Beasley, que clonou (isso mesmo), em um laboratório na sua garagem, personagens do passado, como Abraham Lincoln e Napoleão Bonaparte, para enfrentarem essas novas ameaças, dando a eles uma segunda chance de salvar o mundo. Se você está tentando buscar falhas no enredo, pare por aí, pois eles não se preocuparam nem um pouco em fazer algum sentido.
A história do game é bem divertida e logo você se pega querendo mais. Entretanto, o título deu uma boa economizada no restante do enredo, pois, além de não desenvolvê-lo muito, servindo apenas de pano de fundo para o jogo e piadas — que são engraçadas de fato, mas estão todas em inglês —, ainda conta tudo através de quadrinhos entre as fases, sem uso algum de cutscenes. Durante a jogatina, o professor ainda faz narrativas ocasionais, direcionando o jogador para os objetivos e fazendo comentários engraçados.
Ao todo são 12 personagens históricos e podemos escolher dois de cada vez ao entrarmos em uma fase, alternando entre um e outro como bem entendermos durante a jogatina. Os quatro iniciais são Abraham Lincoln, Joana D’arc, Napoleão Bonaparte e Rainha Elizabete. Eles ficaram bem caracterizados, exatamente como me lembro das aulas de história: Joana usa uma armadura de cavaleiro e espada (normal); Lincoln usa terno, cartola e motosserra (ele não poderia lutar com uma caneta de pena); já o Napoleão fica montado em um canhão ambulante que ele usa como veículo — bom, talvez seja melhor não se basear muito neste jogo para o ENEM.
Ainda há mais oito heróis desbloqueáveis: Leonardo Da Vinci, Montezuma, Cleópatra, Barba Negra, Júlio César, Gengis Khan, Marie Curie e Nikola Tesla. O mais interessante é que não se trata apenas de uma mudança cosmética, pois a jogabilidade muda bastante entre eles. Uns têm ataque mais curto, outros mais distantes e, dependendo da situação encontrada durante a partida, teremos aquele que é mais adequado para o momento.
Enfrentando inimigos com humor
Ao ver que o jogo conta com muita ação através de hack and slash/beat 'em up com dezenas de inimigos aparecendo de uma vez só, provavelmente você ficou com pena dos seus botões pelo esmagamento que eles receberiam, mas o pessoal da Rocket City foi camarada com o seu DuakShock 4 (até porque eles custam uma fortuna) e posicionou os golpes no analógico direito. Isso mesmo, basta movimentar a alavanca direita na direção desejada e é para lá que o golpe será desferido. Em um primeiro momento, pode até parecer estranho, mas não é difícil de se acostumar, ficando até bem natural e menos cansativo. Como o direcional direito é bem menos utilizado que os botões, será um bom descanso para eles sem prejudicar o controle.Os botões, entretanto, não estão no game só de enfeite e também têm suas funções. Além do X, que serve para interagir, os demais acionam relíquias, que são habilidades adquiridas conforme se completa objetivos extras durante a fase, como terminar dentro de determinado tempo ou não permitir que um dos heróis morra — antes de iniciar a partida, os objetivos são mostrados na tela, porém alguns aparecem durante a jogatina. São 30 ao todo e apenas três podem ser utilizadas ao mesmo tempo (uma para cada botão) durante as fases. Quando uma é usada, levará um tempo até estar pronta novamente.
Cada jogador conta ainda com um golpe especial, bastando apertar R2 para utilizá-lo. Mas ele está ligado há uma barra de energia que leva um curto período para recarregar, que varia de personagem para personagem, após o qual um novo disparo é permitido. Cada um dos heróis tem o seu próprio especial, o Lincoln, por exemplo, gira com sua motosserra feito um peão, desferindo golpes em quem entrar no seu raio de ação; Napoleão, por sua vez, aplica um disparo mais concentrado com o seu canhão móvel.
Pelo caminho também encontramos power-ups, que podem ser usados um de cada vez, não podendo ser acumulados. São dos mais diversos tipos, com os efeitos mais variados, como deixar o personagem mais rápido ou mais forte, ou ainda curar o seu personagem e os seus companheiros.
Outra forma de melhorar os personagens é acumulando pontos de experiência (XP), que servem para gastar nas estatísticas de cada um. Mas não é nada lá muito elaborado, apenas ataque e life. Em todo caso, é sempre bom escolher os seus heróis favoritos logo no início e deixá-los mais fortes para os momentos de maior dificuldade mais à frente. Não que o título seja difícil, longe disso. Pelo menos, ao terminar a campanha normal, a dificuldade Hardcore é liberada — caso contrário: adeus fator replay.
Durante a jogatina, é possível alternar entre dois heróis escolhidos. Quando eles estão "fora", não recarregam as energias, então é bom lembrar de colocá-lo ao menos para pegar algum life extra encontrado pelo caminho. Essa variedade de personagens também permite estratégias para as fases, colocando um herói que aplica disparos à distância com outro voltado para o combate corpo a corpo e alternando conforme o momento da jogatina ou como os inimigos se apresentam.
O maior problema no gameplay está na física do jogo. Não que seja necessário fazer uma verdadeira simulação, mas ver os tiros, espadadas e demais golpes atravessando paredes e inimigos é bem estranho. Em alguns momentos, o jogo sinaliza como se os alvos estivessem sendo atingidos, e só notamos que não estão por não haver sangue saindo dos mesmos. Outra situação são os objetos quebráveis colocados de forma arbitrária. A única forma de saber se aquele objeto quebra é testando para ver, pois não há uma regra plausível: alguns quebram, outros não e pronto.
Esse inimigo não está sendo atingindo. |
Jogando juntos, porém distantes
O jogo é bem linear e o jogador precisa ir do ponto A ao B diversas vezes, contando inclusive com indicação para onde seguir. Claro, ainda é possível uma leve exploração pelo cenário à procura de itens, mas nada que fuja muito da rota principal. Além disso, os inimigos aparecem em hordas de personagens com uma única estratégia em mente: matá-lo sem piedade. Somando esses fatores, não demora para o game se tornar repetitivo. Felizmente, há chefes e mini-chefes para quebrar um pouco a monotonia.Nem os chefes são levados a sério: ótimo! |
Os gráficos apesar de serem 1080p não são nem de longe o que você espera para um PlayStation 4 — considere que se trata de um jogo lançado para iOS também. Ainda assim, não é com esse quesito que os jogadores devem se preocupar ao jogar Second Chance Heroes, que tem uma proposta bem casual, para quando queremos uma jogatina rápida, descompromissada e com algum bom-humor. Podemos entrar em uma partida online a qualquer momento e, caso seja necessário, sair de repente sem comprometer a partida dos demais. E se você esperava por uma aula de história, bem, é melhor ficar com os livros mesmo.
Prós
- Personagens bem caracterizados e divertidos;
- Muito humor, com comentários engraçados e referências engraçadas;
- Jogabilidade intuitiva;
- Multiplayer online para até quatro jogadores.
Contras
- Ausência de modo cooperativo local;
- Física de colisão mal feita;
- Linear demais.
Second Chance Heroes — PlayStation 4 — Nota: 7.0
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Stefano Genachi
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