Assim, é compreensível que a maioria dos jogadores não estivesse na ponta da cadeira aguardando o lançamento de The Amazing Spider-Man 2, a mais recente empreitada do aracnídeo no PlayStation 3, especialmente levando em conta que o título é mais um produto licenciado planejado para sair junto de um filme (e todos sabemos que isso não costuma render bons frutos). Mas não é que a Beenox conseguiu produzir algo bem divertido?
Com grandes poderes vem… ah, você sabe
Se você assistiu O Espetacular Homem-Aranha 2 nos cinemas e está ansioso para reviver todos os momentos do filme no game… bom, é melhor tirar o seu cavalinho da chuva. Enquanto o primeiro The Amazing Spider-Man ao menos se dava ao trabalho de contar uma história paralela aos acontecimentos do filme que o inspirou, aqui temos uma trama sem pé nem cabeça, totalmente alheia a qualquer aventura que você tenha visto no cinema ou nos quadrinhos.Alerta de spoiler para quem nunca encostou numa HQ ou abriu uma pesquisa sobre Peter Parker no google:
Tudo começa quando o tio Ben é assassinado por um ladrão (porque aparentemente a Beenox acha que alguém no mundo ainda não conhece essa história), o que faz seu sobrinho começar a lutar contra o crime e prometer ajudar a todos com seus poderes de aranha.
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Além de ignorar a história do filme, o jogo também não conta com as vozes dos atores. |
O mais engraçado é que Electro, o principal vilão do novo filme, acaba fazendo só uma ponta e ficando em tela por pouco mais de dez minutos para uma única luta lá no meio da jogatina. O Rhino sequer aparece, coitado! Enquanto isso, cabe a Kraven, Duende Verde, Gata Negra, Shocker, Rei do Crime e até mesmo ao Carnificina servirem como principais antagonistas da aventura. Para curtir tudo isso, o lance é esfriar a cabeça e não se preocupar muito com o roteiro ou coesão. Mas ei, podia ser pior! Ao menos não tentaram recontar a saga do clone...
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Lembra do Kraven no filme? Não? Nem a gente... |
Asilo Aranha
Qual é a coisa mais legal sobre ser o Homem-Aranha? Se você respondeu “dar uns pegas na Mary Jane e na Gwen Stacy”, bom, não deixa de estar certo, mas só ganha uma estrelinha no caderno quem disse “balançar com suas teias pelos arranha-céus de Nova Iorque”. Como Spider-Man 2 nos ensinou lá na geração 128 bits, ter um mundo aberto para bancar o super-herói é uma das melhores ideias de design que alguém poderia ter, e The Amazing Spider-Man 2 aprendeu bem essa lição, criando uma ótima réplica da cidade de Nova Iorque para a galera se divertir.Mas essa não foi a única coisa que o game parece ter absorvido de outros títulos. Como de praxe nos jogos de ação modernos, o sistema de combate foi quase que completamente sugado da série Arkham do Batman. Não que haja algo de errado em copiar uma jogabilidade excelente, certo? Então o esquema aqui é aquele bom e velho combate fluído no qual um botão contra ataca, outro solta um ataque especial, outro utiliza um item, e assim vai.
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Depois de tanto sofrer com clones, o cabeça de teia resolveu copiar os controles do jogo do Batman... |
Se o combate não mostra nada de novo, ao menos se balançar pela cidade está simplesmente fantástico e estabelece um novo paradigma de qualidade para os controles do amigão da vizinhança: agora as teias do Aranha estão sob total controle do jogador, então o processo de aprendizagem é ao mesmo tempo desafiador e gratificante. Com o botão R2 lançando teias com a mão direita e o L2 ficando responsável pela esquerda, é preciso dominar o ambiente à sua volta e pensar bem antes de lançar suas teias (já que não dá pra se pendurar onde não há prédios, né?).
Herói ou ameaça?
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As áreas fechadas agora são destinadas apenas aos chefões |
Para não deixar as coisas muito repetitivas e trazer um pouco de variedade à fórmula, em alguns segmentos é possível tirar o uniforme e entrar na pele do próprio Peter Parker, o que garante uma mudança de ares muito bem-vinda. Seja se infiltrando numa festa da Oscorp para azarar a Felicia e bater um papo de bro com o Harry, ou bisbilhotando a residência do temível caçador Kraven, as fases de Peter são sempre divertidas, criativas e engraçadas, um prato cheio para qualquer fã do cabeça de teia.
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"Há quanto tempo, rei do crime! Parece que foi ontem que nos enfrentamos lá no Mega Drive..." |
Outra novidade bem interessante é o sistema de reputação: ajude as pessoas e resolva crimes para realizar “atos heróicos” e ficar com a moral lá em cima, ou ignore os problemas da galera e veja a taxa de criminalidade subir sem parar, o que fará a polícia encará-lo como uma ameaça e atacá-lo. É uma ideia bem simples, divertida e elegante, mas infelizmente ela custa um preço um tanto alto: às vezes você só quer ficar numa boa caçando colecionáveis, mas como não dá para desativar o sistema de reputação, não demora para a criminalidade subir e a polícia começar a atacá-lo com drones e helicópteros. Parece que não dá mesmo para ignorar nossas grandes responsabilidades...
Homem-Aranha Superior
Apesar da aventura principal ser meio curta (mesmo desviando do caminho para cumprir algumas sidequests, fechei o jogo em cerca de cinco horas), pode acreditar que há material suficiente para manter o disco por bastante tempo dentro do seu PlayStation 3. Como no primeiro game, há centenas de páginas de HQs espalhadas por Manhattan, e nem se você tivesse alguns clones circulando pela cidade daria para encontrar todas elas facilmente (hmm, melhor não dar ideias para a Beenox…).Entre dezenas de fotos que precisam ser batidas para o Clarim Diário, uniformes novos para ser desbloqueados nos esconderijos inimigos e pequenas corridas contra o tempo de um ponto ao outro da cidade, há uma atividade que se destaca acima de todas as demais: de longe, a coisa mais legal do game é visitar a Comic Stand, uma loja de quadrinhos comandada por ninguém menos que o lendário Stan Lee! Extremamente carismático (e com movimentos e trejeitos surpreendente bem capturados), o mito está sempre às ordens para dar alguns conselhos aos jogadores. Excelsior!
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Nada como vestir o uniforme clássico... Vá pegá-los, tigrão! |
Com tanto material para fazer a alegria dos fãs (sejam eles os velhos leitores de quadrinhos ou a meninada que acabou de descobrir o herói nos cinemas), há motivos de sobra para curtir o que deve ser o último jogo de super-herói da geração. Pegando tudo que seu antecessor tinha de melhor, The Amazing Spider-Man 2 lapida as boas ideias, joga fora as ruins e se consagra como um Aranha que, se ainda não chega a ser espetacular, ao menos já pode ser considerado Superior.
Prós
- Balançar suas teias pela cidade é incrível;
- Muitos, muitos colecionáveis e referências aos quadrinhos;
- Soluciona a maioria dos problemas do primeiro game;
- Nada de Andrew Garfield em cena.
Contras
- Sidequests são meio genéricas e repetitivas;
- História principal é um tanto curta;
- Alguns problemas nas legendas deixam certas frases incompletas;
- Nada de Emma Stone em cena.
The Amazing Spider-Man 2 - PS3 - Nota: 8.0
Revisão: Alberto Canen
Capa: Leonardo Correia
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