Suda 51 é um dos mais geniais desenvolvedores de jogos
atuais. Considerado por muito o Quentin Tarantino dos jogos, Suda busca sempre
criar jogos únicos, ousados e cheios de estilo, e mesmo que nem sempre os
resultados sejam completamente satisfatórios, as experiências são extremamente
marcantes e diferenciadas. Em sua mais recente empreitada, o jogador é colocado
no papel da cheerleader, Juliet Starling, que nas horas vagas trabalha com sua
família exterminando zumbis pelo mundo. Bizarro, não é? Vocês ainda não viram
nada!
Aniversário macabro
Juliet Starling é uma garota normal que cursa o ensino médio
em uma escola na Califórnia, Estados Unidos. No dia de seu aniversário, a
garota combinara de se encontrar com seu namorado, Nick, para receber seu
presente. Contudo, ao sair de casa, a garota presencia um verdadeiro apocalipse
zumbi acontecendo pelas ruas. Nada covarde ou inibida, a garota saca uma serra
elétrica de sua bolsa e sai decapitando e destruindo todos os zumbis que cruzam
seu caminho. Ao chegar ao colégio, a garota se depara com Nick sendo atacado
por um morto-vivo e corre para resgatá-lo. Infelizmente o rapaz é mordido, o
que força Juliet a realizar um ritual conhecido pela família Starling que
consiste em arrancar a cabeça do infectado para que a doença não se alastre
para o cérebro. Como ninguém nunca pensou nisso?
Juliet e Nick em mais uma de suas juras de amor |
Nick sobrevive milagrosamente e, após uma das cenas mais
hilárias desta geração de videogames, passa a acompanhar Juliet em sua caçada pendurado
em sua cintura. Sim, a cabeça de Nick acompanha Juliet pendurada na cintura da
cheerleader. Assim se inicia a jornada da garota em busca dos causadores do
incidente e do extermínio dos zumbis que estão infestando a Califórnia.
As finalizações de Juliet são... bizarras |
Durante a aventura, divididas em fases que representam diversas
regiões da vizinhança do colégio, Juliet e Nick se encontrarão com os parentes
da garota, bem como com os mais bizarros zumbis já vistos em toda a história
dos videogames. O jogo é recheado de referências à cultura pop e conta com um
senso de humor dos mais afiados e, nem nas cenas mais dramáticas, Juliet e seus
amigos (e inimigos) deixam de provocar risadas em qualquer um que os estiver
acompanhando.
Matando com estilo
Lollipop Chainsaw é um hack
’n’ slash que não foge muito do que estamos acostumados a ver no gênero.
Juliet possui uma série de ataques que podem formar combos que causam mais
danos nos inimigos. Além disso, a garota pode coletar pirulitos espalhados
pelas fases, que lhe concedem novas habilidades e melhorias na barra de
energia. O que realmente faz com que Chainsaw se diferencie completamente de
jogos do gênero é o estilo e ambientação da aventura. Juliet e Nick conversam
durante toda a jornada, seja sobre a sua vida sexual (antes e depois do
"ritual"), música ou até mesmo as matérias escolares que cursam.
Melhor ainda, os zumbis de Lollipop Chainsaw falam e interagem com os
personagens, tornando a experiência hilária!
Basquete com cabeça de zumbis? Ok... |
Durante minhas andanças pela Califórnia zumbificada do jogo,
me deparei com zumbis resmungões, tarados e até mesmo com aversão à cantora
Katy Perry. Os diálogos são tão inteligentes e engraçados que, mesmo que este
jogo possuísse péssimo controles, o que não é o caso, ainda valeria à pena. Os
chefes são um show à parte: únicos e engraçadíssimos, os personagens são tão
legais e carismáticos que você pensará duas vezes antes de matá-los e,
consequentemente, deixar de ouvir o show de palavrões e frases mal
intencionadas que eles não param de soltar.
Este é apenas um dos surreias chefes encontrados pelo caminho |
Em algumas passagens, Juliet encontra zumbis já decapitados
e tem a brilhante ideia de encaixar a cabeça de Nick em seus corpos. Na
verdade, isso nada mais é do que mais uma habilidade bizarra do casal, já que o
movimento é utilizado para explodir barreiras que bloqueiam seu caminho. Nesses
momentos, o jogador deverá apertar ritmicamente os botões que surgem na tela,
para que Nick consiga tomar controle do corpo do morto vivo e levá-lo para onde
ele deverá explodir. E este é apenas um dos movimentos que o casal efetua
cooperativamente. Espere ver a cabeça de Nick sendo utilizada das formas mais
bizarras e inusitadas possíveis. É a escola Suda 51 de game design elevada ao
extremo.
Nick tem uma vista um pouco privilegiada de sua namorada |
O jogo tem poucos problemas. O primeiro deles é que nem
sempre os controles respondem da forma que desejamos, o que pode causar certa
frustração quando Juliet está cercada de inimigos e deve executar cada
movimento com precisão. A câmera também dá um pouco de trabalho de vez em
quando, principalmente quando há muitas coisas acontecendo na tela ao mesmo
tempo e dificulta que o jogador consiga entender exatamente o que está se
passando.
O mais colorido apocalipse zumbi
Lollipop Chainsaw é um dos jogos mais estilosos da geração,
perdendo apenas para Shadows of the Damned, também criado por Suda. O visual é
muito vibrante e mistura o filtro cel-shaded, que dá ao jogo uma aparência de
desenho animado, com traços mais realistas. O universo do jogo, ao contrário de
todos os jogos que possuem zumbis, é muito colorido e possui um clima muito
leve e feliz o tempo todo. Por mais bizarro que isso possa parecer (e é mesmo),
o clima é muito imersivo e passa uma sensação de urgência, mesmo que permeada
por muitas piadas de mau gosto e situações inusitadas.
Juliet: a mais inusitada caçadora de zumbis já vista nos videogames |
Para aumentar mais ainda a imersão e o tom hilário da
aventura, o empenho dos dubladores na execução de seu trabalho é muito acima da
média e dá gosto ver que tudo foi feito com tanto empenho e esmero. As músicas
também foram escolhidas a dedo: de batida pesadas de rock até músicas
instrumentais e épicas, elas dão o toque perfeito para fechar com chave de ouro
a ambientação quase perfeita do jogo.
Até os pom poms se transformam em armas na mão de Juliet |
O único ponto que deixa a desejar é a qualidade técnica dos
gráficos. Cheios de serrilhados e com alguns slowdowns, Lollipop acaba tendo
seu desempenho geral prejudicado por esses pontos. Claro que nada disso torna o
jogo menos divertido ou ruim, mas é uma pena que isto não acompanhe a qualidade
do restante do pacote. Além disso o jogo é um pouco curto, durando cerca de
oito horas, e deixa um gostinho de quero mais, sendo que uma sequência é
praticamente impossível, já que Suda costuma tentar criar jogos completamente
diferentes uns dos outros (salvo No More Heroes 2, continuação do sucesso
homônimo de lançado para Wii).
Genialmente divertido
Lollipop Chainsaw pode não ser um primor técnico no PS3, mas
ainda assim é uma das experiências mais únicas e divertidas que o console pode
oferecer. Suda se empenhou ao máximo para refinar seu título que, até agora, é
o mais bem sucedido de sua carreira. O jogo é uma boa pedida para os que curtem
um bom jogo de ação ou ainda os que buscam títulos que se distanciem da onda de
shooters idênticos que vem assolando o mercado.
Prós
- Muito divertido;
- Texto inteligente e engraçado;
- Zumbis falantes;
- Nick;
- Trilha sonora espetacular.
Contras
- Controles deixam a desejar em alguns momentos;
- Câmera problemática;
- Lentidão e serrilhados incomodam um pouco.
Lollipop Chainsaw - PlayStation 3 - Nota: 8.0
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Stefano Genachi
Comentários