Desde pequeno, sou fanático por filmes de terror. Meus preferidos sempre foram aqueles com um clima sinistro, mais do que aqueles com algum tipo de monstro ou psicopata à solta. Quando adolescente, conheci o maravilhoso mundo do cinema de terror asiático. Esse pessoal sabe como criar um clima assustador, usando muito bem todos os artifícios do cinema a favor do terror. Quando esbarrei neste jogo lançado em 2003 para PS2, foi surpreendente ver que usaram técnicas já muito conhecidas dessa vertente do cinema em um título que é um marco do gênero.
A vila perdida
Lançado no Japão como “Zero: Akai Chō”, recebeu em 2004 uma versão do diretor para o Xbox e, mais recentemente, um remake para o Wii. Muito bem recebido tanto pela crítica como pelo público, é considerado um dos dez jogos mais aterrorizantes de todos os tempos. Apesar de não ser uma continuação direta do primeiro Fatal Frame (conhecido como Project Zero, lançado em 2001), o terceiro jogo da saga (Fatal Frame 3: The Tormented/Project Zero: Shisei no Koe, lançado em 2005) se junta às histórias dos dois games anteriores, mas não é tão interessante e assustador como Fatal Frame 2: Crimson Butterfly.
A premissa é interessante, apesar de alguns clichês. Mio e Mayu são irmãs gêmeas que visitam pela última vez uma floresta onde costumavam brincar quando crianças, e que logo será inundada para virar uma represa. Mio se recorda, então, de um acidente ocorrido com sua irmã nessa mesma floresta, que a deixou mancando até o presente momento. Enquanto divaga sobre suas memórias, Mayu começa a perseguir uma borboleta vermelha. Mio, que se sente culpada pelo acidente, vai atrás dela temendo que algo lhe aconteça novamente.
Logo elas chegam a uma vila, aparentemente abandonada, e é nesse momento que as coisas começam a ficar estranhas. A noite cai de repente e todo o som natural do lugar é abafado por um silêncio paralisante. Sem conseguir encontrar a trilha de volta, e com Mayu hipnotizada pela borboleta vermelha, só resta a elas ir mais e mais a fundo. Nesse lugar, as irmãs irão descobrir uma história horripilante de rituais macabros, onde um sacrifício feito erroneamente afundou a vila em uma noite eterna.
A Câmera Obscura
Sua única arma é uma câmera fotográfica, desenvolvida para captar a energia emanada pelos espíritos e capturá-los em fotografias. Deixada para trás por um escritor que visitava o lugar para escrever sobre suas lendas e mitos, a câmera é um dos artifícios mais interessantes do jogo. Ao usá-la, sua visão muda para primeira pessoa, como se o jogador olhasse pelo visor da câmera, limitando a noção de espaço e obrigando-o a pensar em estratégias de combate para não ficar preso em um canto quando um fantasma o atacar.
É possível incrementar a câmera com lentes e upgrades encontrados ao longo da aventura. Alguns deixam os fantasmas lentos, outros causam mais dano, além de muitas outras possibilidades, como por exemplo, os filmes com diferentes sensibilidades (o tal do ISO), que permitem a adaptação a várias situações durante o game.
Direcionando os arrepios
Algo muito interessante nesse jogo é a profundidade dos personagens que você encontra ao longo da história. Aqui, cada inimigo tem um comportamento específico, que tem a ver com sua história pessoal. Graças a objetos pessoais que os fantasmas deixam e um rádio especial encontrado em determinado momento, é possível ouvir trechos de suas histórias e entender melhor o que aconteceu a eles. Isso dá uma profundidade enorme ao enredo, passando a sensação ao jogador de estar participando de um pequeno trecho de uma história muito maior, envolvendo centenas de pessoas.
A direção é uma das características mais marcantes de Fatal Frame 2. Algo que às vezes é visto como um aspecto negativo pelos jogadores, aqui ajuda a construir o clima tenso e sinistro. A câmera sempre dirige seu olhar para revelar algo no fundo do cenário, atrás de você ou ao seu lado. Enquanto você anda por um corredor, pode ser surpreendido por um fantasma que passa rapidamente em algum lugar do quadro. Quando está andando próximo a um templo, pode ver monges subindo as escadas em direção a ele entoando algo ritualístico e macabro. A câmera nunca é posicionada à toa. Os quadros são sempre construídos para somar ao clima de terror, mostrando de forma sutil apenas o necessário.
Sons macabros
Outra característica do cinema de terror asiático e muito bem aproveitada em Fatal Frame 2 é a trilha sonora composta apenas por ruídos, o que aumenta a tensão. Tirando a música tema do final, não existe nenhum tipo de música ao longo do jogo, nada que direcione suas sensações e que indique momentos de tranquilidade ou aflição. O que você ouve são apenas ruídos.
Quando um fantasma agressivo se aproximar, o controle produzirá vibrações que se confundirão com o coração acelerado e quando o fantasma aparecer de fato, um som de estática crescente fará o jogador correr para acender as luzes e se esconder embaixo da cama, quando estiver além da metade do jogo e qualquer sonzinho causar arrepios.
A saga Fatal Frame teve ainda duas continuações, Fatal Frame 3: The Tormented, de 2005 e Fatal Frame 4: Mask of the Lunar Eclipse, de 2008 — esse último, exclusivo para o Wii. Mas nada se compara a experiência de andar pela Vila Perdida de Fatal Frame 2, que continua horripilante até hoje e muito disso graças às técnicas inspiradas pelos filmes de terror asiáticos. Tenho várias histórias jogando esse game, sozinho e entre amigos. E você? Consegue encarar essa e dormir tranquilamente depois?
Revisão: Bruno Nominato
Ótima análise,tenho que dá uma conferida!!!
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