Perdidos no Triângulo do Dragão
Endurance, pouco tempo depois de levantar âncora. |
Ao enfrentar uma forte tempestade, o navio acaba se partindo violentamente ao meio e sua tripulação é arremessada à própria sorte nas águas revoltas e destruidoras do Mar do Diabo. É assim que Lara e seus colegas de empreitada acabam indo parar numa ilha que a princípio parece deserta, mas que logo depois acaba se revelando como um lugar cheio de construções que parecem datar da época da Segunda Guerra Mundial, destroços de aeronaves e embarcações marítimas. E, para completar o cenário da situação com um toque até macabro, tudo indica que o lugar parece também já estar habitado por um grupo de cultistas fanáticos e que ele carrega os tais vestígios que comprovariam a existência do lendário Império de Yamatai e da poderosa e temida rainha Himiko.
É basicamente dessa forma que o jogo começa. Daí em diante nossa jovem e inexperiente heroína será jogada cara a cara contra os mais adversos obstáculos, que a colocarão em uma situação onde ou ela evolui e aprende a sobreviver ou ela morre. Felizmente ela evolui. E evolui muito rapidamente. A imagem que a princípio fora passada pela mídia de que Lara estaria mais humana do que nunca acaba se consolidando, mas talvez não da forma como alguns esperavam. Na trama, ela jamais se mostra como uma garota frágil e inocente. Aliás, vale ressaltar que o fato de ela ser uma garota em nenhum momento é utilizado como bengala para nos sensibilizar com as situações adversas vivenciadas pela jovem. Desde o princípio, Lara se apresenta como uma pessoa forte, corajosa, determinada e resiliente.
O único traço evidente de fraqueza que ela pode passar está ligado a uma certa dose de insegurança. E isso se dá por ela não conhecer bem seus próprios limites devido a sua falta de experiência. Contudo, a personagem percebe rapidamente que é muito mais capaz do que a princípio imaginara ser. Ela logo se dá conta de que, se necessário, para assegurar a sobrevivência de seus colegas e a sua própria, ela consegue matar e subjugar inimigos com muita facilidade.
Uma sinergia entre ação, narrativa e exploração
As formas de atuação em combate são diversificadas em gênero e estilo. Você pode, em grande parte das situações, tanto escolher por "tocar o terror" com armas de fogo quanto optar por elaborar armadilhas e estratégias inteligentes de ataque furtivo. Ambas as opções de aproximação em combate são extremamente funcionais e intuitivas. Há à sua disposição um arsenal de armas que podem ser amplamente customizadas e que possuem níveis de características e atributos variados envolvendo dano, área de fogo e nível de ruído. O mais interessante é que boa parte delas pode ser usada de formas diversas e incomuns, tanto no combate quanto na exploração.Por falar em exploração, o jogador possui meios que facilitam em muito esse processo. Além de contar com a mecânica de uma habilidade chamada Instinto de Sobrevivência, que pode ser ativada a qualquer momento durante o jogo e que realça no mapa tudo o que merece uma atenção maior do jogador, o game conta também com um amplo e bem planejado esquema de mapas, que nos permite saber o que ainda pode ser descoberto em cada uma das seções da ilha.
A movimentação pelos mais variados tipos de terreno é fluida e o progresso de exploração é salvo a cada nova descoberta ou façanha conquistada.
Há no título várias sidequests envolvendo coleta de tesouros e relíquias. Estes colecionáveis não são colocados para o jogador como simples itens avulsos de pouco significado. Além do fato de adquiri-los implicar em uma boa quantidade de pontos de experiência, quando isso acontecer, Lara ainda torna tudo melhor ao nos explicar, com sua perspicácia de exploradora e arqueóloga, a correlação destes itens com os valores histórico-culturais da ilha.
Os cenários do jogo são incrivelmente belos e cheios de detalhes. |
Tomada: 1, AÇÃO!
Desde a invenção da modalidade do salto de cabeça sobre precipícios, existe uma atividade bastante apreciada por alguns dos fãs mais sádicos da série Tomb Raider, que é ver Lara se esfolar, se espatifar e estrebuchar de uma forma ao mesmo tempo graciosa, grotesca e violenta. No novo Tomb Raider as mortes de "game over" continuam bastante dramáticas e até mais aflitivas, graças ao excelente trabalho de animação, captura de movimento, controle de câmera e também à ótima atuação que deu vida ao cerne da jovem Lara.A forma de transmitir o universo do jogo para o jogador recebeu vida nova e uma natureza cinematográfica empolgante jamais vista antes num jogo da série. A câmera é praticamente um personagem à parte para representar, em primeira pessoa, o espírito do jogador observando e quase sentindo o que Lara sente. Ela ajuda a criar de forma artisticamente bela toda a tensão do game ao nos transmitir senso de urgência e sensações como claustrofobia, vertigem e frio, só para citar algumas.
A câmera o faz viver todo o drama da personagem de perto e intensamente. |
Camilla Luddington, a Larinha da vez. |
Os elementos de RPG, usados para dar forma à curva de desenvolvimento de Lara, ajudam a conectar mais ainda os momentos de ação e exploração com os elos narrativos do jogo. Muito do que você fizer enquanto joga é revertido em pontos de experiência que, quando acumulados, lhe habilitam a comprar novas habilidades de sobrevivência e de combate para Lara. Isso resulta numa sensação maior de realmente estar fazendo parte na determinação da forma e da qualidade do processo evolutivo da heroína.
A maçã podre
O modo multiplayer é com certeza a parte que mais tenta tirar o brilho desta obra-prima, por não oferecer nada de muito interessante ou original e por ser extremamente genérico.Depois de uma aventura épica, é quase tortuoso ter que encarar o modo online. |
"Lara Drake" e "Nathan Croft" caminham de mãos dadas
Não é de agora que jogos de videogame de diferentes franquias se misturam e se "copiam" para tentar criar coisas novas baseadas em coisas já existentes, isso tudo com o intuito de assim proporcionar ao jogador experiências que ao mesmo tempo sejam diferentes e familiares. É assim que se dá boa parte da evolução no mundo dos jogos e, em um nível de abstração bem alto, mas bem alto mesmo, é inclusive devido a isso que ficamos aptos a classificar jogos por gênero.Até que formam um belo casal. |
Prós
- Sistema de combate diversificado e bem integrado;
- Controles precisos e naturais;
- Excelente trabalho de localização de conteúdo para português do Brasil;
- Cenas de ação de tirar o fôlego;
- Desenvolvimento narrativo competente;
- Elementos de RPG equilibradamente bem utilizados;
- Sistema de mapas com dados sobre localização de tesouros associado a cenários belíssimos e com alto grau de interatividade tornam o processo de vasculhar a ilha um grande prazer.
Contras
- Modo multiplayer genérico e nem minimamente tão fluido e empolgante quanto o modo single player;
- Associação do ganho de alguns troféus com tarefas a serem realizadas no modo multiplayer.
Tomb Raider – PlayStation 3 – Nota: 9.0
Revisão: Rafael Becker
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