Quando Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty foi lançado para
PlayStation 2 em 2001, muitos se decepcionaram devido à introdução de um novo
personagem à saga, que acabaria sendo o protagonista do título por quase toda a
aventura. Raiden, o agente novato que nada se parecia com o icônico Solid
Snake, foi severamente rejeitado por todos os fãs da franquia, e o jogo, apesar
de excelente, não fez todo o sucesso esperado por Hideo Kojima. Contudo, o
lendário desenvolvedor não se deixou abalar com as críticas e seguiu criando
excelentes roteiros para jogos melhores ainda da forma que bem entendeu.
Em Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots, Raiden faz outra aparição, mas agora de forma não controlável e com uma personalidade muito mais badass do que da última vez. O jogo foi muito aclamado e é considerado por muitos como uma das maiores obras de arte gamísticas de todos os tempos. Cinco anos se passaram desde então, e em uma parceria com a Platinum Games, responsável por títulos excelentes como Bayonetta e Vanquish, Kojima resolveu criar um título inteiramente focado nos dramas pessoais do tão criticado personagem. Metal Gear Rising: Revengeance é um título de ação frenética com ênfase em combates de espadas que, apesar de ter um estilo de jogabilidade bastante diferente do que estamos acostumados na franquia, mantém todo o sentimento e essência de um tradicional Metal Gear.
Busca por justiça... ou seria vingança?
Samuel Rodriguez |
A aventura começa em um país africano que conseguiu, depois
de muito tempo, estabelecer a paz em seu território. Graças à excelente
administração do primeiro ministro do país e a ajuda de um grupo de mercenários
(do qual Raiden faz parte), o país se encontra em clima de festa e os tempos de
paz parecem que finalmente irão perdurar. Contudo, tudo muda subitamente quando
o carro do primeiro ministro e sua escolta são atacados por um ciborgue
munido de uma espada de lâmina afiadíssima, capaz de fatiar seus oponentes em
mil pedaços. O homem em questão se chama Samuel e trabalha para um grupo
chamado Desperado, que busca obter lucros por meio de guerras forjadas - algo
já bem familiar para os fãs da franquia.
Ao tentar resgatar o primeiro ministro, Raiden é severamente
ferido por Samuel, perdendo um braço e um de seus olhos. O primeiro ministro é
assassinado diante dos olhos do rapaz por um homem que parece ser o líder da
facção. Tudo parecia perdido para o soldado, mas ele é resgatado por seus
parceiros e seu corpo é remodelado para que ele se torne um dos mais brutais
soldados que já passou pelo mundo. Assim, portando uma espada, um corpo quase
inteiramente mecanizado e um sentimento brutal de vingança, Raiden parte em sua
jornada para destruir o grupo terrorista.
Raiden após a brutal derrota para Samuel |
Corte tudo o que puder!
Apesar de carregar o nome Metal Gear, Rising segue um
esquema bem diferente dos outros títulos da franquia. Em primeiro lugar, as
mecânicas de stealth foram
quase que completamente deixadas de lado em prol de uma jogabilidade focada
unicamente em combates. O jogo funciona basicamente como outros títulos
lançados pela Platinum, principalmente Bayonetta. Espere por combos visualmente
lindos e devastadores, cenas de violência acima da média e um ritmo de ação
frenético embalado por uma trilha sonora empolgante. Mesmo assim, o jogo tenta
manter a essência da série, contando com longas e bem dirigidas cutscenes, diálogos inteligentes e, ao
mesmo tempo, clichês, chefes perturbados e criativos, e intermináveis (e
excelentes) conversas por Codec. Tudo está lá, mas em outro ritmo e disposição.
As finalizações são brutais |
Raiden é um personagem fácil de controlar quando suas
habilidades são dominadas, contudo, é um pouco estranho controlá-lo no inicio
da aventura, pois o jogo demanda que os jogadores não só consigam atacar, mas
se especializem em contra atacar os inimigos. Para realizar o movimento, é
necessário pressionar o botão “quadrado” e direcionar o analógico esquerdo para
a direção na qual você está sendo atacado. No entanto, o ritmo da ação é muito
frenético e, inicialmente, é um pouco difícil se acostumar com controles que exijam
reflexos tão rápidos. Por isso, quando as habilidades são dominadas, a sensação
de conquista é inevitável e você se sentirá uma máquina mortífera, capaz de
fatiar seres humanos a helicópteros com facilidade.
Após uma série de golpes bem aplicados nos inimigos, é
possível ativar o “Blade Mode”, que
consiste no tão alardeado sistema de corte do jogo. Nesse momento, a ação fica
em câmera lenta para possibilitar que o jogador decida onde deseja cortar seus
inimigos. Chega a ser cômico cortar as pernas e braços de um inimigo e o ver
rastejando, sem desistir de lutar. O prazer sádico de Rising está entre suas
melhores qualidades. Além disso, é possível cortar os inimigos em partes
estratégicas de seu corpo, seja para roubar seus fluidos e recuperar sua
própria energia ou simplesmente para roubar sua mão esquerda (um dos
colecionáveis do título são mãos de comandantes). Ao derrotar inimigos, Raiden
receberá pontos que podem ser trocados, ao final de cada estágio, por novas
habilidades, armas e até mesmo roupas. Ao recomeçar o jogo no mesmo arquivo, é
possível levar tudo conquistado em sua primeira aventura, dando ainda mais
senso de progresso e estimulando a revisita à aventura.
Entretanto, Rising não se isenta de alguns defeitos.
O primeiro deles é a câmera, que em alguns momentos não consegue acompanhar o
ritmo da ação, fazendo com que os jogadores possam se percam e sejam golpeados
por não conseguirem visualizar tudo que está acontecendo ao seu redor. O problema
está longe de prejudicar completamente a experiência, mas atrapalha em alguns
momentos. Outro ponto que mais atrapalha do que ajuda é o uso de armas
secundárias. Em Metal Gear Solid, a mecânica é possível devido ao ritmo lento
da aventura. Em Rising, no entanto, abrir mão de sua espada para utilizar um
RPG enquanto muitos inimigos vêm correndo em sua direção não consegue soar
natural e muito menos funcional. Se pelo menos fosse possível alternar entre a
espada e as armas com o simples toque de um botão, a funcionalidade seria
melhor. Mas para selecionar uma arma é necessário utilizar o direcional digital
e a ação é interrompida.
As armas secundárias quebram o ritmo da ação |
O terceiro, e talvez o maior problema do título, é a sua
vontade de abraçar o mundo. O jogo é um hack
‘n’ slash, com ação desenfreada e frenética, sendo que o maior foco é em
derrotar inimigos e conquistar altas pontuações enquanto os fatia. No entanto,
a Platinum quis manter diversos pontos consagrados de Metal Gear Solid que
talvez não façam tanto sentido em games desse estilo. É um pouco frustrante ter
que interromper uma seção de carnificina para ouvir uma longa conversa por
Codec ou assistir uma cena de mais de cinco minutos. Algumas delas se encaixam
perfeitamente ao teor do jogo, como as que antecedem os chefes ou o início das
fases, mas que ocorrem durante um estágio são capazes de quebrar completamente
o ritmo e parecem destoar do que é proposto para o jogo em termos de
jogabilidade. Nos jogos da série principal, os momentos mais esperados são
justamente as cenas relacionadas ao roteiro e as reviravoltas durante a jornada.
Rising possui tudo isso e, não me entendam mal, é excelente. Contudo, é
inegável que estes artifícios não combinam tanto assim com o ritmo de
jogabilidade do título.
Produção estelar
O jogo da Platinum é extremamente bem executado. Os gráficos
são apenas bons, mas é justificável, já que o título é extremamente rápido e em
nenhum momento notei quedas no framerate.
A direção artística é excelente e passa todo o sentimento de se estar jogando
um verdadeiro Metal Gear Solid. Os personagens, como de praxe, tem a
personalidade muito bem construída, e até os mais terríveis vilões são pessoas
com sentimentos e desejos críveis. O efeito visual dos cortes realizados por
Raiden são tão bem feitos que chegam a ser perturbadores, tamanha a frieza de
seus movimentos. A trilha sonora acompanha a qualidade do restante do pacote,
com destaque para as músicas das batalhas contra os chefes, que são
particularmente empolgantes e capazes de liberar o assassino calculista interno
até das pessoas mais tranquilas.
A aventura reserva momentos épicos a todo instante |
A aventura dura cerca de oito horas, o que pode parecer
pouco. Mas não existem partes que estão lá por estar, e o jogo é frenético o
tempo todo, de forma que o pouco tempo de jornada é tão intenso que parece
durar muito mais que muitos jogos de vinte horas soltos por aí. Para estimular
os jogadores a voltar ao título, o pacote ainda inclui diversos colecionáveis,
as tradicionais VR Missions e vários níveis de dificuldade. Acredite, jogar
Rising é tão prazeroso que é praticamente impossível não retornar para fatiar
mais alguns soldados e buscar mais segredos e easter eggs soltos pela jornada.
Passo importante
Metal Gear Rising: Revengeance é mais um lançamento de
sucesso da franquia e, mesmo seguindo por um caminho tão diferente, mantém toda
a essência dos mais aclamados títulos da série. O spin-off erra em alguns momentos, é inegável. Contudo, com alguns
ajustes aqui ou ali, Rising pode vir a se tornar uma franquia própria e de
sucesso. Hideo Kojima e a Platinum Games estão de parabéns por levar a série a
um ambiente pouco conhecido e ainda assim manter todo o brilho e carisma de uma
das mais importantes franquias da história dos videogames. Imperdível!
Prós
- Ação intensa e frenética;
- Jogabilidade excelente na maior parte do tempo;
- Mantém o clima da série;
- Raiden está espetacular;
- Enredo envolvente;
- Legendas em português;
- Personagens carismáticos;
- Gráficos competentes e sem lentidão;
- Trilha sonora empolgante;
- Batalhas contra chefes são fenomenais.
Contras
- Câmera problemática em alguns momentos;
- Sistema de armas secundárias não funciona bem;
- Excesso de cutscenes e conversas por Codec durante as fases quebram o ritmo de ação;
- Poderia durar um pouco mais.
Metal Gear Rising: Revengeance – PlayStation 3 – Nota: 8.5
Revisão: Rafael Becker
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