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Análise: Rochard (PSN/PS3)

A desenvolvedora independente Recoil Games tem muito do que se orgulhar, pois logo no seu primeiro trabalho criou um jogo merecedor de vár... (por Alberto Canen em 20/12/2012, via PlayStation Blast)

A desenvolvedora independente Recoil Games tem muito do que se orgulhar, pois logo no seu primeiro trabalho criou um jogo merecedor de vários elogios. Claro, eles também contam com pessoas experientes no time, vindos de empresas como Electronic Arts e Ubisoft. Rochard foi lançado em setembro de 2011 para a PSN e é uma agradável mistura dos gêneros puzzle e plataforma. Os desafios giram todos em torno da manipulação da gravidade e de campos de força distintos e vão fazer os jogadores pensarem apenas o necessário para sair uma leve fumacinha da cabeça (!). O jogo não é perfeito, mas vale a pena conferir como ficou.

John Rochard é o protagonista do jogo e logo de início podemos notar que não é exatamente o típico herói com o qual estamos acostumados. Ele não tem nada de excepcional, pelo contrário: é um cara comum, barrigudo, que está fazendo o seu trabalho quando acaba sendo envolvido em uma situação extraordinária.

John Rochard não é o típico herói com o qual estamos acostumados
John é um minerador espacial com um carregado sotaque do sul dos Estados Unidos. Ele e sua equipe estão com um péssimo rendimento em seu serviço e prestes a serem demitidos quando descobrem algo que iria mudar o rumo de sua história: uma estrutura alienígena escondida no fundo do asteróide que estavam minerando, que prova que a raça humana não está sozinha no universo. Após essa descoberta, diversos fatos vão se desenrolando e Rochard acaba tendo que procurar pelo seu time que encontra-se em perigo e ainda lidar com bandidos espaciais que resolveram atacá-los em virtude dessa descoberta.
O enredo conta com algumas reviravoltas bem óbvias que não vão realmente surpreender os jogadores e procura usar um tom mais sério, com pequenas doses de humor, mas apenas para alívio cômico. A princípio, o jogo parecia dirigir-se para um caminho mais voltado para comédia, que combinaria mais com o estilo do próprio John, com o seu jeito todo bonachão de ser, mas acabou se perdendo pelo caminho.

Uma mina espacial

Desafiando as leis da gravidade

Rochard é um jogo de plataforma 2D com ambientação 3D. Muita vezes você vai sentir como se pudesse entrar no cenário, mas a profundidade é só para enfeitar, pois a única movimentação possível é lateral.

Como bom minerador espacial, John conta com um aparelho chamado G-lifter, que possui diversas capacidades conforme vai recebendo upgrades durante a jogatina, como soltar um raio capaz de manipular a gravidade de forma que John possa facilmente mover objetos pesados de um lado para o outro e até mesmo arremessá-los a uma certa distância;  diminuir a gravidade do local (como se estivesse caminhando na Lua), o que deixa os saltos bem mais altos e distantes, e também permite carregar objetos ainda mais pesados, já que eles também ficam mais leves, e arremessá-los ainda mais longe que o normal; e até mesmo como uma espécie de metralhadora, que descarrega sua munição incessantemente até esquentar - momento que é necessário tirar o dedo do "gatilho" para que haja um resfriamento.

G-lifter em ação
A forma como a gravidade é manipulada é fundamental para a resolução dos puzzles apresentados pelo jogo cena a cena. Enquanto o jogador não desenrolar o que deve ser feito não irá poder avançar no jogo nem retroceder. Outros componentes apresentados pelo game são os campos de força, divididos em quatro tipos diferenciados por cores: vermelho, que bloqueia apenas seres vivos; azul, que bloqueia apenas objetos inanimados; laranja, que bloqueia apenas armas de fogo e explosões; e branco, capaz de bloquear tudo. Saber utilizar a gravidade e os campos de força ao seu favor é fundamental para poder resolver todas as situações em que o protagonista se encontra.

Depois que John começa a ser atacado pelo bandidos espaciais, o jogo passa a contar com mais ação, na medida que além dos puzzles é necessário alvejar os inimigos como se fosse um jogo de tiro comum. É bem verdade que o pessoal da Recoil criou as situações de embate de forma a ser possível tratar esses confrontos como puzzles, ou seja, achar uma forma de não ficar trocando tiros, mas derrotar os adversários utilizando os elementos do cenário. Contudo, conforme mais e mais inimigos vão aparecendo, em conjunto com metralhadoras fixas automáticas e robôs com mau funcionamento explosivos, é pouco provável que alguém acabe tentando pensar em uma solução alternativa, já que atirar é bem mais simples, direto e natural. Não há motivo para desviar do caminho para, por exemplo, tentar derrubar uma caixa por cima de um bandido se você pode dar um tiro e continuar seguindo em frente. A verdade é que John é um minerador, não um fuzileiro e esses conflitos deveriam ter sido resolvidos com menos tiroteio, que claramente não são o forte do personagem, que morre com poucos tiros.

De puzzles para tiroteio

Um jeito sulista de ser

Os cenários do jogo possuem um belo estilo cartunesco, lembrando Team Fortress 2. John poderia facilmente ser confundido com um engenheiro de um dos times do jogo da Valve. O visual não é o ponto alto do jogo, mas para um jogo exclusivo da PSN, fez um ótimo trabalho, conseguindo até mesmo vencer o prêmio de melhores gráficos no Unity Awards de 2011. Nesse mesmo evento, Rochard ainda venceu como melhor jogabilidade (Gameplay), esse sim o ponto forte do jogo e bem mais merecido.

Rochard recebeu dois prêmios na Unity Awards de 2011: Graphics e Gameplay
A dublagem dos personagens ficou bem feita, com destaque para o próprio John e seu carregado sotaque sulista norte-americano. A trilha sonora também não fez feio, combinando bem com a jogatina e estilo dos personagens, misturando Rock, Blues e música eletrônica dos anos 1980.

O primeiro de muitos

Aqueles jogadores que, assim como eu, gostam dessa mistura de jogos com plataforma e resolução de puzzles vão ficar satisfeitos com o que encontrarão em Rochard. Os desafios não são os mais difíceis encontrados nos videogames e poderiam ser mais complexos, mas também não vão permitir que o jogador passe correndo pelo cenário como se eles não estivessem ali para atrasá-los. A adição de um pouco de combate foi bem-vinda, mas há momentos que a ação toma conta do jogo e simplesmente não se encaixa com a proposta inicial de um personagem comum e bonachão utilizando as suas ferramentas do dia-a-dia para poder resolver a situação extraordinária que lhe foi apresentada. O tom acaba ficando mais sério do que o pretendido, mesmo com pequenos alívios cômicos aqui e ali, e John parece até um fuzileiro norte-americano mal treinado - vide a sua saliente pança. A Recoil Games, apesar dos pequenos defeitos, pode comemorar, pois criou um jogo divertido e merecedor das premiações que recebeu. Esperemos que a desenvolvedora tenha vida longa no mercado e aprenda com a experiência adquirida na sua primeira criação.


Prós

  • A jogabilidade funciona muito bem;
  • O visual não é o mais belo dos videogames, mas funciona bem para as necessidades do jogo;
  • A trilha sonora e dublagem ficaram na medida certa e combinam com o visual e andamento do jogo.

Contras

  • Apresenta muito mais ação do que o jogo pede e do que o personagem está preparado para interagir;
  • O tempo de carregamento é muito demorado, ainda mais para um jogo instalado no HD do PS3;
  • Pouco valor de replay, depois de terminado uma vez não há muito mais o que fazer e coletar os troféus que ficam mais ou menos escondidos não é muito atrativo.
Rochard - PSN/PS3 - Nota Final: 8.0
Visual: 8.0 | Som: 7.5 | Jogabilidade: 8.5 | Diversão: 8.0
Revisão: Alan Murilo

é formado em Direito pela UFRN. Joga videogame desde os tempos do Atari e sempre acompanha as novidades na indústria de jogos. Está no Facebook e no Twitter.

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