Para começar, é preciso dizer que esse é o DLC que eu estava esperando desde que joguei Mass Effect 3 pela primeira vez, em março. Era óbvio que em algum momento Aria T'Loak iria me chamar para libertar Omega, a estação espacial que ela costumava comandar com mãos de ferro. Eu esperava que esse conteúdo extra fosse cobrir um defeito do jogo original, que é ter apenas a Citadel como centro urbano, em oposição aos diversos planetas cujas principais cidades servem para Shepard fazer compras em Mass Effect 2.
Omega não faz isso. Sim, no decorrer das missões, Shepard recupera a estação e Aria retoma o poder, mas a única mudança na galáxia após tudo isso é que Aria não estará mais no bar Purgatory, na Citadel, e que Shepard recebe uma boa quantidade de recursos na guerra. Mas vamos falar dos detalhes.
Longa estrada para casa
O primeiro fato inusitado sobre Omega é que ele não usa nenhum dos squadmates costumeiros de Shepard. A pedido de Aria, o protagonista abandona sua nave e parte, somente com ela, para lutar contra a Cerberus. Isso incomoda um pouco, mas Aria é uma personagem tão interessante que consegue tornar a jornada menos desconfortável.Digo isso porque Aria T'Loak é um exemplo brilhante de uma personagem Renegade, que toma decisões cruéis pelo "bem maior". Nenhum outro squadmate age dessa forma, e é bem divertido ver Aria xingando e ameaçando os inimigos.
Um outro ponto que incomoda um pouco no DLC é que, uma vez iniciado, você estará preso em Omega até finalizar o ataque. Lá são oferecidas side quests e toques bem característicos do terceiro jogo, como diálogos que você pode ouvir e que aprofundam a experiência no universo de Mass Effect. Mas essa tentativa de colocar elementos familiares acaba sendo só um paliativo para aliviar uma sensação de linearidade excessiva que o conteúdo deixa, especialmente considerando Leviathan, o DLC anterior, que exigia múltiplas viagens pela galáxia.
"Não f*** com Aria!" |
Mas a verdade é que Omega parece se basear bastante em uma missão bem icônica do segundo jogo: a última. A invasão à base Collector é praticamente copiada para gerar a estrutura dessa expansão, desde a nave caindo chegando ao fato de Shepard ter de subir pelo interior do local para alcançar seu objetivo. Embora seja uma base de desenvolvimento prática, no sentido de levar a história adiante, ela é também um pouco repetitiva e cansativa.
Como sempre, temos a presença de dilemas morais. Mas, em vez de nos defrontarmos com dilemas que realmente nos deixam em dúvida sobre o que fazer, temos apenas dois momentos em que Shepard precisa escolher entre a óbvia opção boa (salvar) e a "malvada" (matar).
Fica mais, vai ter... é, não vai ter nada.
A maior promessa de Omega acaba sendo a maior decepção. Logo no começo, é apresentada uma nova personagem. A primeira e única Turian do sexo feminino a aparecer na série, chamada Nyreen, é, ao contrário de Aria, um exemplo brilhante de um personagem Paragon: muito ética e determinada a proteger os inocentes. Logo de início eu pensei: "Nyreen e Aria serão os polos morais dessa missão, e em algum momento eu terei de escolher entre as duas". Ledo engano.
A apresentação de Nyreen é súbita, ela junta-se ao time como squadmate automaticamente, e o motivo por trás disso é um tanto óbvio. Mas ok, mesmo assim a personagem acaba crescendo e ganhou a minha simpatia de uma forma que eu não pensaria duas vezes antes de deixar Omega sob o controle dela, em vez de Aria. Mas o que eu realmente queria é que Nyreen se tornasse uma squadmate fixa.
Nyreen: mal chegou e já foi embora... |
Não entrarei em mais detalhes, mas Nyreen não se torna squadmate fixa e tem um desfecho muito frustrante, aumentando a sensação de que esse DLC não mudou nada de significativo no jogo e que nem é tão divertido assim. Talvez o maior impacto do conteúdo apresentado seja o desenvolvimento de Aria como personagem, que adquire uma humanidade maior ao final da história. Para nunca mais aparecer, já que Omega está inacessível após o fim da aventura.
Sem variedade
Enquanto Leviathan, o DLC anterior, tinha longas sequências bem divertidas de investigação, Omega é 100% ação. Há tentativas de quebrar a repetição através de pequenos objetivos, como desativar bombas (com direito a timer), desligar um campo de força e afins. Isso lembra muito o multiplayer do jogo, o que poderia ser bom, mas acaba sendo só mais repetição para quem já está acostumado a jogar o multiplayer com frequência.
As side quests são tão sem inspiração que equivalem a pequenas side quests do jogo anterior (encontrar uma peça mecânica, ativar computadores para uma hacker acessar, encontrar o antigo sofá de Aria), mas sem o charme de ter de identificar um assassino através de pistas como na dita missão do hacker em Mass Effect 2.
O que você mais vai fazer nesse DLC é atirar. |
A adição de novos inimigos é interessante (especialmente por um deles ser uma versão melhorada dos mechs de Mass Effect 2, e podem ser hackeados e usados contra os inimigos). Já as localidades seguem o estilo escuro e avermelhado de Omega desde o jogo anterior, e não trazem nada de especial, como era no caso do fundo do mar em Leviathan. A comparação é injusta, mas necessária: Leviathan foi para mim um exemplo perfeito de DLC, enquanto Omega fica abaixo de todas as expectativas.
Ah, os bugs...
Não é novidade para ninguém que Mass Effect 3 tem bugs gráficos numerosos, especialmente no PlayStation 3. Personagens que somem e voltam à cena e uma taxa de fps bem baixa já são problemas costumeiros. Mas em Omega os bugs alcançaram um novo nível: o dos personagens se movendo aleatoriamente. Em um diálogo, Aria fica indo e voltando, como se estivesse fazendo uma dança sensual. Seria cômico, mas é um tanto trágico.
Adições numerosas (só que não)
Por fim, Omega traz duas novas armas para o jogo (as duas já bem conhecidas - uma era arma exclusiva de pré-compra e a outra era adquirida através da demo de Kingdoms of Amalur: Reckoning) e dois novos poderes que Shepard pode usar, um deles também já conhecido do multiplayer.
Ou seja: Omega não traz nada de essencialmente novo que permaneça no jogo e torne esse conteúdo indispensável. Custando US$14.99, o DLC simplesmente não tem um nível de qualidade que valha esse valor todo. As horas a mais de jogatina são bem vindas, a história apresentada é interessante, mas mal aproveitada. A minha impressão final é que Omega deixou claro que a equipe responsável pelo desenvolvimento do DLC, a Bioware Montreal, não está pronta para criar um jogo da franquia completo, já que não conseguiram manter a qualidade do material original nessa sequência de missões.
Omega (Mass Effect 3) - PlayStation 3 - Nota: 5,5
Preço: US$14.99 | Disponível na PlayStation Store
Revisão: Samuel Coelho
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