Análise: FIFA 13 (PS3)

Alguns jogadores dizem que é tolice comparar as séries FIFA e Pro Evolution Soccer, pois o que realmente importa é termos nos videogames duas franquias dedicadas aos fãs do esporte mais praticado e amado do mundo. Já eu prefiro dizer que a comparação é tola porque FIFA, há anos, coloca PES no chinelo, a ponto das séries parecerem separadas por gerações de consoles. Mas este ano a Konami apostou forte no público brasileiro, e o reinado de FIFA pareceu ameaçado pela primeira vez em muito, muito tempo. Depois de tomar esse gol de surpresa, será que FIFA 13 consegue virar o placar na disputa futebolística deste ano e manter a sua hegemonia?

Gol de placa da EA

Não gosto de enrolar os leitores em minhas análises, então vamos direto ao ponto: FIFA 13 é o melhor jogo de futebol já produzido pelo homem. Acho que isto resolve a questão, não é? Já no fim de sua primeira partida fica evidente para o jogador o quanto o pessoal da EA se empenhou para fazer deste jogo a experiência de futebol definitiva nos videogames. Este é um daqueles raros jogos em que todas as peças se encaixam perfeitamente e você termina com um algo incrivelmente viciante e prazeroso de jogar. Mas o que exatamente torna FIFA 13 um título obrigatório para os donos de PlayStation 3 ansiosos por um pouco de esporte? Se eu tivesse que responder em uma linha, diria “os controles perfeitos”.

No geral, o esquema de controle não difere muito do que já dava bastante certo em FIFA 12: os passes, chutes e cruzamentos ainda são controlados com bastante precisão pelo direcional analógico e por uma barra de força que vai sendo preenchida conforme se segura o respectivo botão de ação. Há muitos dribles a serem dominados e dezenas de efeitos diferentes que se pode colocar na bola, então aqueles jogadores mais dedicados rapidamente vão se encontrar cheios de recursos para humilhar seus oponentes. A engine de física, maior sensação do jogo anterior, foi levemente aprimorada aqui, de modo que agora é mais raro se deparar com situações constrangedoras em campo, como jogadores despencando sem motivo aparente, ou até mesmo se beijando em casos mais extremos. Ainda não está perfeito, mas está perto disso. A marcação e os puxões de camisa agora são bem mais naturais, e proteger a bola com o corpo ficou muito mais intuitivo. Se alguém chegar na sua sala enquanto você estiver jogando FIFA 13 e olhar para a televisão rapidamente, vai até pensar que é uma partida de verdade, tamanha a qualidade da captura de movimentos.

Perfeitamente integrado ao sistema de controle, a maior novidade do ano é o domínio de bola. Agora um fator de – muito – peso na jogabilidade, o talento que os jogadores têm para dominar a bola acaba sendo um elemento determinante em campo. Jogadores de um time desconhecido da Arábia Saudita vão penar para dominar aquela enfiada de bola perfeita que o seu meia realizou. Do mesmo modo, um pereba da segunda divisão italiana dificilmente dominará bem o cruzamento na medida do seu lateral. Já craques como Messi e Cristiano Ronaldo provavelmente vão encaixar um belo balão mesmo no passe mais torto do mundo. Em FIFA 13, pela primeira vez, você realmente sente a diferença na qualidade do domínio de bola entre os jogadores e, acredite, isso é legal demais, especialmente quando você aprende a contornar as limitações dos jogadores de seu time.

A verdadeira Copa do Mundo

Mas o que seria dos controles perfeitos sem bons modos de jogo para utilizá-los? Felizmente, FIFA 13 conta com fartas opções de divertimento. O amado modo carreira retorna e continua permitindo que você escolha assumir o papel de um jogador ou de um treinador (ou de um jogador que depois vira treinador), e negociar seus contratos continua sendo viciante como sempre foi. Uma grande novidade são os jogos de habilidade, que possuem utilidade dupla e são uma sacada de gênio. Funciona assim: Antes das partidas, ao invés de uma entediante tela de loading, é possível treinar os fundamentos futebolísticos em atividades como driblar cones e barreiras, fazer cruzamentos em alvos distantes, acertar um passe longo dentro de um barril ou derrubar caixas que estão dentro do gol numa cobrança de pênalti. Mas se você preferir enfrentar esses desafios por fora, através do menu ao invés da tela de loading, FIFA 13 oferece desafios de pontuação com dificuldade crescente. O objetivo então é ir batendo a pontuação estipulada, saindo do fácil nível de bronze até o insanamente difícil modo lendário, com obstáculos que até o verdadeiro Messi sofreria para contornar. Quando você terminar os jogos de habilidade na dificuldade mais alta, pode ter certeza que já figura entre os melhores jogadores de futebol virtual do planeta.

Falando em melhores do planeta, o modo online segue a mesma fórmula que deu certo no ano passado: Todos os jogadores começam na décima divisão e precisam somar pontos para escalar até a elite do futebol mundial. Como há títulos de divisão e até mesmo rebaixamento, essa mecânica acaba barrando aqueles jogadores chatos que sempre abandonam a partida antes do fim na esperança de invalidar a partida. Aqui a regra é clara: abandono de jogo equivale a derrota e três pontos automáticos para o oponente. Deixando as coisas ainda mais justas, o jogo procura sempre oponentes com o mesmo nível de experiência que o jogador e que estejam utilizando times com qualidade similar. Ou seja, se você estiver jogando com um time fraco como o Flamengo, pode ficar tranquilo pois não há chances de enfrentar um Barcelona ou Real Madrid. Para quem realmente curte justiça e equilíbrio online, é possível disputar o FIFA World Cup contra a elite dos jogadores de futebol virtual do planeta. Aqui, todos os times possuem a mesma qualidade técnica, e o que define o resultado é puramente o talento do jogador. Essas partidas são um verdadeiro teste para cardíaco, e é um prazer incrível disputar um Brasil x Argentina com pessoas do outro lado do planeta, numa verdadeira Copa do Mundo.

Se fosse só isso eu já diria que o modo online de FIFA 13 é fantástico, mas sequer arranhei a superfície do jogo ainda. O EAS FC Match Day fornece desafios reais do futebol aplicando sempre atualizações que indicam quais times e jogadores vivem melhor ou pior fase no futebol mundial. Pontos de experiência são somados sempre que você faz qualquer coisa no jogo, desde vencer um amistoso até completar um desafio de habilidade. Esses pontos agora podem ser gastos numa loja que entrega de tudo, desde novos uniformes até novas comemorações de gol. Um dos modos mais legais de se jogar com pessoas do resto do mundo é criar o seu próprio jogador (com direito ao download do Game Face da EA, um sistema em que você envia uma foto sua para o servidor da empresa, e o jogo reconhece o arquivo e gera um avatar seu em 3D para ser usado nas partidas) e tentar uma carreira de sucesso online, criando seu próprio clube ou entrando em um já existente para disputar campeonatos contra times formados inteiramente por craques também criados por jogadores. Se divertir com completos desconhecidos é a pura essência do futebol!

Mas o meu modo favorito continua sendo o já tradicional Ultimate Team, ou “álbum de figurinhas”, como gosto de chamá-lo. Aqui você pode comprar cards de jogadores reais e montar seu time dos sonhos! As “figurinhas” mais raras ou poderosas, como a do craque Iniesta, vão a leilão por milhares de moedas FIFA, então você precisa jogar bastante ou ser um ótimo negociador para formar grandes equipes. Não é absurdo algum afirmar que, se você der uma chance a este modo de jogo, rapidamente vai acabar somando centenas de partidas só para ver se consegue colocar um Casillas ou um Rooney no seu time.

Éééé do Brasil!

Os Fifeiros da velha guarda que curtiam peladas virtuais nos anos noventa devem se lembrar que FIFA por muito tempo contou com um excelente e pioneiro trabalho de narração , trazendo para os campos nomes consagrados como o narrador Milton Leite. Pena que, em meados dos anos dois mil, inexplicavelmente o Brasil parou de receber este carinho da EA. Em FIFA 13 finalmente voltamos a ter um jogo 100% em português, dos menus aos narradores. Mas será que isto é uma coisa boa? Bem, sim e não.

Qualquer iniciativa de adaptar jogos a nosso idioma é sempre louvável. Seja na péssima dublagem de Killzone 3 ou nas vozes sem carisma de Uncharted 3, o áudio em português atrai novos jogadores e ajuda aqueles que não são fluentes em inglês. Então ponto para a EA por voltar a acreditar no potencial do nosso mercado e agraciar os jogadores com um trabalho de localização. Mas é lamentável que a narração tenha caído nos braços, ou melhor, na voz do insuportável Tiago Leifert, apresentador do Globo Esporte. Você pode até gostar do Tiago, mas o fato é que ele, infelizmente, não é um narrador. E ouvir partidas de futebol narradas por um completo amador se torna algo insuportável depois de alguns minutos. Até há algum comentário engraçadinho aqui e ali, como "belo passe para a placa de publicidade", mas no geral a voz de Tiago falha miseravelmente em sua tentativa de empolgar os jogadores. Para piorar, une-se a Tiago o ex-jogador e hoje comentarista Caio Ribeiro. Em suas transmissões na Globo, Caio se destaca por comentar sempre o óbvio e não ter emoção alguma em suas “análises”, então pelo menos dá para dizer que seu trabalho no jogo está no nível da televisão.

Se a narração nacional já é uma baita bola fora, é com pesar que informo que em outros departamentos FIFA 13 também falha com os jogadores brasileiros. Não há uma musiquinha nacional sequer na lista de faixas deste ano. Mas talvez isto acabe sendo algo bom no fim das contas, pois não sei se algo pode ser mais torturante que ouvir “Ai se eu te pego” do Michel Teló sempre que quiser jogar futebol no meu PlayStation 3. FIFA segue um caminho musical mais agradável aos ouvidos e coloca bandas iradas como Kasabian, Metric, Deadmau5, Passion Pit e Two Door Cinema Club para trazer ao jogador o melhor do rock indie e da música eletrônica, servindo como perfeito pano de fundo para os menus e sequências de treinamento.

Por outro lado, é algo realmente desagradável notar que nem todos os times nacionais foram licenciados pela EA este ano, então prepare-se para ver alguns uniformes e logotipos genéricos. Isso não impede a diversão de modo algum, mas não deixa de dar uma ponta de inveja pelo PES e seu campeonato brasileiro completo aqui. A boa notícia para os Fifeiros de plantão é que atualizações devem surgir muito em breve - e gratuitamente – para regularizar os times nacionais. Agora só falta um DLC com narração do Galvão Bueno!

FIFA 13 x 0 Pro Evolution Soccer

Me perdoe você, fã de Pro Evolution Soccer, mas o fato é que o novo FIFA mostra mais uma vez que, em matéria de futebol, a Electronic Arts segue anos-luz na frente da Konami. De que adianta licenciar todos os clubes do futebol brasileiro se os jogadores se comportam como robôs em campo, e a jogabilidade remete aos tempos do Nintendo 64? De que adianta ter música brasileira se ela é a insuportável “Ai se eu te pego” do Mala Teló? De que adianta ter o torneio Libertadores se não há outros modos legais de jogo? É por essas e por outras que comparar PES com FIFA já não faz mais sentido. Enquanto a série da Konami luta para voltar a ser considerada um bom jogo, FIFA cada vez mais se consolida como a grande franquia de futebol dos videogames, e segue soberana em campo. FIFA 13 já não é apenas o maior jogo de futebol, mas sim um dos melhores jogos do ano. Obrigatório e recomendadíssimo a todos.

Prós

• Narração em português
• Jogabilidade perfeita
• Muitos, muitos modos empolgantes de jogo

Contras

• Narração em português (do Tiago Leifert)
• Alguns times nacionais não foram licenciados

  FIFA 13 – PlayStation 3 – Nota Final: 9.5

  Visual: 9.0  |  Som: 9.0  |  Jogabilidade: 10  |  Diversão: 10

Revisão: Alan Murilo