Quando se fala em jogos de RPG, a primeira imagem que nos vem à mente é a de um mundo fantástico, repleto de espadas e magia, que será salvo de uma grande ameaça por um grupo de destemidos heróis. Embora ainda mantenha algumas dessas características, Final Fantasy VI foi um dos primeiros jogos desse estilo a apresentar a tecnologia como algo tão ou mais importante que a magia. O jogo, que foi lançado originalmente para o Super Nintendo e mais tarde para o PlayStation, vai além de um velho clichê e mostra os heróis tendo que sobreviver a um mundo já destruído, ao invés de impedir sua destruição.
Um mundo sem magia
Final Fantasy VI nos apresenta um mundo onde a magia não existe mais, devido a uma guerra que aconteceu mil anos antes do jogo. Ao final dela, os seres mágicos conhecidos como Espers resolvem abandonar o planeta, levando consigo toda a magia. A partir daí, a humanidade precisa aprender a se virar de outras formas e então a tecnologia começa a evoluir. Porém, os humanos são sempre muito gananciosos e o Império comandado pelo imperador Gestahl descobre que a barreira que separa o mundo normal do mundo dos Espers está enfraquecida e resolve invadir o local, capturando diversos destes seres para usar em seus experimentos.
Numa tentativa de deixar seu Império ainda mais poderoso, Gestahl e o insano general Kefka usam os Espers num processo que visa fundir os poderes mágicos das criaturas com o de máquinas poderosas conhecidas como Magitek. Além disso, alguns soldados também recebem doses desse poder, ficando conhecidos graças a isso como Magitek Knights. Esse último método acabou enlouquecendo ainda mais o já insano Kefka. O jogo começa justamente quando o Império está prestes a abrir novamente o portal para o mundo dos Espers e, com isso, utilizar toda a energia mágica desses seres para dominar o planeta. Para conseguir isso, eles utilizam uma garota chamada Terra, que é metade humana e metade Esper. Os planos de Gestahl começam a dar errado quando Terra entra em contato com um Esper congelado e atinge todo seu potencial, matando os soldados que a acompanhavam.
A partir daí, o jogador assume o comando de Locke, membro dos Returners, um grupo rebelde que luta contra o Império. Locke encontra Terra desmemoriada e resolve ajudá-la, sem saber da sua ascendência e dos seus poderes mágicos e que podem ser de grande utilidade na guerra contra Gestahl. Além deles dois, Final Fantasy VI traz ainda mais 12 personagens jogáveis, sendo que nenhum é considerado como protagonista principal, o jogador pode escolher quem será o líder do grupo. E o melhor é que praticamente todos eles possuem um background interessante, não estão ali apenas para fazer número, conseguindo emocionar os jogadores em diversos momentos.
Luta pela sobrevivência
O começo do jogo mostra Locke fugindo com sua protegida Terra e buscando aliados na luta contra o imperador Gestahl, mas não demora muito para que o verdadeiro vilão se revele e a história passe a ser sobre impedir a destruição do mundo. Caso ainda exista alguém que não saiba, o grande antagonista do jogo é Kefka, o mais cruel dos generais do Império. Como um assassino de sangue frio, Kefka é um dos maiores vilões do mundo dos games, que segue matando suas vítimas enquanto gargalha de prazer. E é justamente quando Kefka adquire seu tão sonhado poder absoluto que Final Fantasy VI mostra um dos seus grandes diferenciais: o vilão vence e o mundo é destruído.
Se em Final Fantasy VII vibramos com Cloud e seus amigos salvando o planeta nos minutos finais, anos antes, no sexto game, o jogador pôde sentir toda a dor da derrota, ao menos temporária. Em determinado momento, Kefka consegue todo o poder mágico do mundo dos Espers, mata o imperador Gestahl e se torna praticamente um deus. E seu primeiro ato com tamanho poder é mexer no equilíbrio das forças do planeta, fazendo com que grande parte do mundo seja destruído, enquanto ele governa tranquilo e incólume do alto de seu continente voador. A história dá um salto de um ano e, a partir de então, ao invés de jogarmos para salvar o mundo, o objetivo passa simplesmente a ser a vingança contra Kefka, já que grande parte da população mundial foi dizimada.
Em busca das pedras mágicas
Não é apenas a história melancólica de Final Fantasy VI que faz com que ele seja um grande jogo, ele trazia também um sistema de combate inovador. Enquanto a maioria dos jogos de RPG apresentava personagens com habilidades próprias, em FF6 todos podiam ter as mesmas magias através do sistema de Magicites. Na história do jogo, as Magicites eram pedras que continham o poder dos Espers mortos há milênios. Ao equipar uma dessas pedras, o personagem tinha acesso a uma invocação (Summon) e às magias ligadas à criatura. O interessante é que, depois de avançar alguns níveis, o uso da Magicite já não era mais necessário, pois o personagem “aprendia” a magia permanentemente, podendo o jogador equipar a Magicite em outro membro da equipe.
Além do sistema de combate inovador, Final Fantasy VI impressionava também graficamente. Todos os personagens possuíam animações que representavam perfeitamente as emoções que estavam sentindo no momento. Até hoje, os protagonistas deste grande jogo conseguem ser mais carismáticos do que muitos personagens dotados de milhões de polígonos por aí. É possível, por exemplo, enxergar no rosto pixelado de Kefka a total insanidade e o grande desprezo que ele sente pela vida humana. Ele possui até o som de uma risada maligna. Os cenários também são muito bonitos para a época e muito bem detalhados, como é o caso do fascinante interior das caravelas voadoras Blackjack e Falcon.
Com seus combates baseados em encontros aleatórios com os inimigos, Final Fantasy VI é, infelizmente, um daqueles jogos que já não possuem muito espaço nos dias de hoje, quando os RPGs americanos estão dominando o gosto dos jogadores. A quantidade de encontros em determinadas partes do mapa é realmente irritante, mas os que conseguirem passar por cima deste pequeno detalhe com certeza vão poder se divertir com esta grande história. Uma história sobre ganância, superação e sobrevivência em um mundo já devastado.
Revisão: Samuel Coelho
Épico demais....
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