A Capcom sempre teve mania de tentar inovar o máximo possível em seus games de luta. Seja brincando com as mecânicas de combate, radicalizando na ambientação de alguns títulos ou mesmo convidando a concorrência a participar de seus já consagrados crossovers, a casa de Street Fighter sempre fez a alegria dos frequentadores de fliperamas ao redor do mundo com títulos que ofereciam um desafio formidável aliado a um exuberante visual bidimensional - característica da qual a Capcom, com razão, se orgulhava por anos.
Um dos frutos dessa antiga boa safra de excelentes games de luta se inspirava em um dos mais antigos mangás, ainda hoje em circulação no Japão, e atendia pelo nome de JoJo's Bizarre Adventure, game que possui um visual exótico, uma trilha sonora encantadora e uma jogabilidade bastante versátil, apesar de um pouco hostil para alguns jogadores.
Um pouco sobre o mangá
JoJo's Bizarre Adventure é inspirado no mangá homônimo criado por Hirohiko Araki e começou a ser publicado em 1987 na revista Weekly Shonen Jump da editora Shueisha. JoJo's conta a história da família Joestar e suas aventuras à caça do vampiro Dio Brando ao longo de várias gerações. Seus personagens dominam poderes mágicos chamados de Stands, inspirados nas cartas de Tarô (mais especificamente, nas 22 cartas da chamada Major Arcana do Tarô) e em deuses do antigo Egito.
As histórias de Araki foram publicadas nessa revista até 2002, quando teve uma pausa de um ano e voltou a sair pela revista Ultra Jump em 2004, onde é publicada até hoje. É o segundo mangá mais longo da história da Shueisha, tendo um total de 107 volumes até o momento. JoJo's Bizarre Adventure é atualmente dividido em 8 grandes sagas, sendo que a saga mais recente - intitulada JoJolion - começou a ser publicada em 2011.
Com o sucesso do terceiro arco, intitulado Stardust Crusaders, a Capcom acaba se interessando pelo trabalho de Araki e adquirindo os direitos para a criação de um jogo inspirado nas histórias de Jotaro Kujo e companhia. O game é então desenvolvido pela mesma equipe responsável por Street Fighter III e após estrear na placa de arcades CPS-3, da própria Capcom, em 1998, JoJo's Venture - seu nome reduzido pelo qual é conhecido no ocidente - recebe conversões para o Dreamcast e, é claro, para o PlayStation.
Visual incomum e exuberante
JoJo's Bizarre Adventure tem como principal destaque o seu estilo visual totalmente diferente do que costumamos ver nos mangás. Hirohiko Araki produz seus desenhos com traços ricamente detalhados, que lembram muito os trabalhos de artistas europeus - como o quadrinista Moebius, por exemplo - mas sem deixar de lado o conhecido estilo oriental. Mantendo totalmente a fidelidade com o estilo exótico do mangá, o game da Capcom facilmente se tornou um dos mais belos jogos 2D já lançados para os arcades da época!
Pena que boa parte dessa beleza acabou se perdendo na adaptação para o PlayStation, graças à enorme diferença de potência entre o hardware da placa CPS-3 e a do console da Sony, o que tornava a tarefa de conversão um tanto quanto penosa para os desenvolvedores: os sprites de alguns personagens e principalmente os de seus Stand Powers tiveram uma redução considerável na resolução e nos detalhes e vários efeitos de transparência também tiveram que ser eliminados. Entretanto, a animação dos golpes de quase todos os personagens se manteve muito fluida e a velocidade geral durante as lutas permaneceu excelente.
Lutadores Tarólogos
Outro ponto bastante positivo de JoJo's Venture é o sistema de Stand Power. Durante a luta, é possível ativar e desativar à vontade seu Stand Power pressionando o botão X, concedendo bônus de combate e habilidades diferenciadas ao seu lutador como aumento de dano, pulos duplos, absorção maior de dano durante a defesa, dentre diversos outros.
Cada personagem usa seu Stand Power de uma maneira totalmente personalizada: seu poder pode se manifestar na forma de uma entidade mágica controlada pelo lutador ou de um objeto mágico que ele manipula, o que deixa a jogabilidade ainda mais variada! Inclusive em alguns casos é possível fazer o personagem e seu Stand atacarem o adversário independentemente - até mesmo a longa distância - aumentando a chance de desferir combos maiores e mais devastadores. Mas é preciso tomar cuidado, pois tanto o personagem quanto o Stand Power invocado compartilham o dano recebido, o que exige mais atenção do jogador e estimula a criação de melhores estratégias de combate.
Um pequeno defeito que pode prejudicar alguns jogadores menos experientes com games de luta é o fato de ser um pouco difícil conectar ataques e criar grandes sequências de golpes, graças à jogabilidade um tanto quanto presa de JoJo's. Às vezes não é fácil acompanhar o Stand Power e bater no inimigo junto com ele, já que a movimentação de alguns personagens é um pouco lenta e a duração dos combos acaba sendo bastante curta. Depois de certo treinamento acaba ficando fácil, mas a verdade é que, assim como Street Fighter III, JoJo's Bizarre Adventure acabou se tornando um título bem mais técnico do que a média.
Cruzadores das Estrelas
A Capcom sempre esteve ciente das limitações de desenvolvimento impostas pelo PlayStation e, como compensação, sempre fez questão de oferecer um conteúdo diferenciado das versões originais para arcade de seus jogos. Assim sendo, em JoJo's Venture temos, além do modo arcade tradicional, um modo de história - SP Story Mode - que reproduz os eventos da saga Stardust Crusaders do mangá e traz não somente as lutas como também fases bastante variadas, com intervenções de shooter, aventura side-scrolling e diversos outros minigames muito bacanas!
Pena que esse modo não se compara ao fantástico modo World Tour de outro clássico da Capcom: Street Fighter Zero 3, onde você podia evoluir seu lutador como em um RPG e depois usá-lo em todos os outros modos de jogo. Mas ainda assim o SP Story Mode de JoJo's é muito divertido e desafiador.
Ora ora ora ora ora ora ora ora ORA!!!
JoJo's Bizarre Adventure é mais uma das inúmeras adaptações dos mangás para os games que deram bastante certo e infelizmente não ficou tão bem conhecido em sua época, tendo poucas de suas máquinas de arcade disponíveis nos fliperamas brasileiros e com poucos jogadores de PlayStation conhecendo-o e apreciando-o. Felizmente a Capcom aproveitará o aniversário de 25 anos do mangá e relançará este clássico fighting game em alta resolução na PlayStation Network (a ser lançado em 21 de agosto) e na Xbox Live Arcade (em 22 de agosto). Caso você tenha perdido a versão original para PS, fique de olho!
Revisão: Alan Murilo
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